Guerra Israel/Hamas

Palestinos fogem às pressas do norte de Gaza após aviso de Israel

O prazo dado por Israel acabou na noite desta sexta-feira (13/10), no horário de Brasília. Aviso israelense recebeu críticas da ONU

Milhares de palestinos deixaram a região norte da Faixa de Gaza, nesta sexta-feira (13/10), após o aviso de evacuação de Israel. Em carros, caminhões, carroças e até mesmo a pé, uma grande parte dos civis deixou suas casas para trás, sabendo que provavelmente nunca mais voltarão, e partiram em direção ao sul — área com ainda menos recursos.

O Hamas, que controla o território, pediu que os moradores não deixem suas casas, sob justificativa de que Israel tenta "difundir e transmitir propaganda falsa com o objetivo de semear confusão entre os cidadãos". No entanto, com a chegada da tarde, milhares de palestinos começaram a abandonar a região com temor de um ataque terrestre de militares israelenses.

Israel apertou o cerco em relação à distribuição de combustível, comida e água na região. Desde quinta-feira (12), os israelenses não permitem a entrada de suplementos em Gaza até que o Hamas liberte os reféns que eles controlam. Com isso, muitos palestinos fugiram a pé ou em carroças. Água e energia elétrica também foram cortados.

Mahmud HAMS / AFP -
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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, fez um comunicado na tevê israelense na noite desta sexta-feira (horário de Brasília), em que afirmou que a contraofensiva em Gaza é “apenas o começo”, prometeu “erradicar” o Hamas e disse que o ataque ocorreria “com uma força sem precedentes”. “ Nossos inimigos apenas começaram a pagar o preço. Não vou detalhar agora o que ainda está por vir, mas gostaria de dizer que isso é apenas o começo”, disse.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse em entrevista coletiva que “a camuflagem dos terroristas do Hamas é a população civil”. “Portanto, precisamos separá-los. Então, aqueles que querem salvar suas vidas, por favor, vão para o sul.”

O Ministério da Saúde de Gaza disse, nesta sexta-feira, que o número de mortos no território já supera 1,9 mil, incluindo mais de 580 menores de 18 anos e 351 mulheres. O ataque do Hamas no sábado passado, dia 7 de outubro, matou mais de 1,3 mil pessoas em Israel

MAHMUD HAMS / AFP - Palestinos com seus pertences lotam uma rua na Cidade de Gaza enquanto fogem de suas casas após o alerta do exército israelense em 13 de outubro de 2023.

A Faixa de Gaza é uma região com enorme densidade demográfica, são mais de 2,3 milhões de pessoas vivendo em uma área de cerca de 365km². Mais da metade da população vive na região norte que Israel mandou evacuar nesta sexta-feira.

Cerca de 80% dos habitantes de Gaza são refugiados ou descendentes de refugiados. "O que o mundo quer de nós? Eu já sou refugiado em Gaza e querem que eu vá embora outra vez?", questiona Mohammed Khaled, de 42 anos, morador do enclave, em entrevista à AFP.

"Querem que durmamos nas ruas com nossos filhos? Eu me recuso! Não quero esta vida indigna!", diz Mohammed Abu Ali, no campo de refugiados de Shati, o maior de Gaza, no norte do enclave. "Não há lugar seguro, sendo assim não sabemos aonde ir", acrescenta.

Crítica da ONU gera ruídos com Israel

Especialista da Organização das Nações Unidas em populações deslocadas, a colombiana Paula Gaviria Betancur se disse “horrorizada” com a ordem de evacuação de Israel com a população do norte de Gaza. “É inconcebível que mais de metade da população de Gaza possa cruzar uma zona de guerra em andamento sem consequências humanitárias devastadoras, ainda mais quando estão privadas de bens e serviços essenciais”, advertiu Paula para à AFP.

O deslocamento forçado da população “constitui um crime contra a humanidade e a punição coletiva é proibida pelo direito internacional humanitário”, completou Paula. O secretário-geral da ONU, António Guterres, também pediu a Israel para evitar "uma catástrofe humanitária".

MAHMUD HAMS / AFP -
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"O secretário-geral e sua equipe passaram muito tempo ao telefone. Ele está em contato constante com autoridades israelenses, pedindo que evitem uma catástrofe humanitária", disse o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric.

Em nota separada, divulgada nesta sexta-feira, Guterres ressaltou que "até mesmo as guerras têm regras". "A situação em Gaza caiu a um nível perigoso. O sistema de saúde está à beira de um desastre, os necrotérios estão sobrecarregados e há uma crise de água", afirmou. "Precisamos de acesso humanitário imediato a Gaza, para levar combustível, alimentos e água a todos os que precisam", advertiu Guterres.

No entanto, o posicionamento não foi bem recebido por Israel. O embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, respondeu que a Organização deveria elogiá-los pelas "medidas de precaução" com a população civil do território palestino.

"Enquanto escolas e hospitais em Gaza se tornavam bases de lançamento de foguetes do Hamas, a ONU permanecia em silêncio. Agora que Israel dá um aviso com antecedência à população civil de Gaza para evacuar áreas, porque valorizamos a vida e fazemos tudo o que podemos para minimizar as baixas civis, a ONU prefere condenar essas medidas preventivas e colocar pressão novamente sobre o lado que defende a civilização", afirmou o embaixador.

O diplomata completou ainda que é ouvido pelos israelenses que a ONU "não se preocupa com civis". "O que ouvimos é a indiferença da ONU em relação ao assassinato de 1.300 israelenses. A ONU está deixando claro que não quer que Israel se defenda", afirmou também.

Para o embaixador, o Hamas age já pensando em reações da comunidade internacional para impedir que Israel tente derrubar a sua infraestrutura. "O Hamas cometeu essa atrocidade em larga escala porque eles contam com, e peço desculpas pelo que estou prestes a dizer, mas eles contam com a ONU, assim como fizeram no passado, para vir em seu socorro", disse Erdan nesta sexta em Nova York, sede da Organização.


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