A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do Food World Programme, afirmou que a situação na Faixa de Gaza é “terrível” por conta do corte imposto por Israel no fornecimento de comida, água, energia e outros suprimentos.
A operação ocorre em um cerco de Israel a Gaza em retaliação ao ataque sofrido pelo país por membros do grupo islâmico radical Hamas, no sábado, que deixou cerca de 1,2 mil mortos.
“A situação é devastadora (em Gaza)”, disse Samer Abdeljaber, diretor do programa da ONU na Palestina. “Estamos fazendo tudo o que podemos para garantir que as pessoas necessitadas, as que fugiram das suas casas, as que vivem em abrigos, recebam a comida e a ajuda de que necessitam para sobreviver."
Em comunicado, a organização afirma “estar profundamente preocupada” com o impacto que o conflito entre Israel e o Hamas pode ter na população civil da região.
A entidade diz ter começado a distribuir pão fresco e comida enlatada para pelo menos 100 mil pessoas que procuraram ajuda em postos da ONU e de outras agências de assistência na Faixa de Gaza.
Nos últimos dias, ataques aéreos de Israel em retaliação já causaram a morte de 1,5 mil palestinos. Estima-se que ao menos 300 mil pessoas tiveram que deixar suas casas.
Nesta quinta-feira, tropas de Israel continuam cercando o entorno da Faixa de Gaza mantendo a população local sob total controle. Ninguém sai ou entra do território que teve o fornecimento de água e luz interrompido.
Outro órgão da ONU, o Fundo de População das Nações Unidas, também afirmou que a situação é "desesperadora" para 50 mil mulheres grávidas que atualmente não têm acesso a serviços de saúde essenciais ou mesmo a água potável.
Segundo a entidade, 5.500 dessas mulheres deverão dar à luz no próximo mês.
O ministro israelense da Energia, Israel Katz, afirmou que o fornecimento de suprimentos e recursos básicos, como água e eletricidade, só será restabelecido quando o grupo radical Hamas liberar os reféns que foram levados para Gaza durante o ataque de sábado.
"Nenhuma tomada será ligada, nenhuma torneira terá água, nenhum caminhão tanque vai entrar em Gaza," disse Katz.
Estima-se que pelo menos 150 pessoas tenham sido levadas pelo Hamas e mantidas como reféns pelo grupo.
Entre os mortos em Israel, estão dois brasileiros, o gaúcho Ranani Nidejelski Glazer, de 23 anos, e a carioca Bruna Valeanu, de 24. Eles foram vítimas de um massacre em evento que era a versão israelense do festival de música brasileiro Universo Paralello.
"Falhas de segurança" de Israel
Já o chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, o tenente-general Herzi Haveli, reconheceu nesta quinta-feira que houve “falhas de segurança” durante a invasão de integrantes do Hamas, no sábado.
Porém, segundo ele, “ainda não é o momento de investigar o que deu errado”.
“As forças de defesa são responsáveis pela segurança do país e de seus cidadãos e, na manhã de sábado, na fronteira da Faixa de Gaza, não cuidamos disso. Vamos investigar, vamos aprender, mas agora estamos em guerra”, afirmou ele, segundo o jornal Times of Israel.
Mais cedo nesta quinta-feira, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, prometeu apoio “inabalável” a Israel durante uma visita ao país.
Ele acrescentou que Israel “nunca estará sozinho” e que a forma como o país se defendeu “importa” e que “é muito importante tomar todas as precauções possíveis para evitar ferir civis”.
A demonstração de apoio dos EUA acontece no momento em que as forças israelenses se mobilizam na fronteira com Gaza enquanto se especula se o gabinete de guerra instalado em Israel tomará a decisão de fazer uma incursão por terra no território.
Além das dificuldades e percalços de uma operação do tipo, neste caso Israel enfrenta um duro dilema estratégico por causa dos reféns em poder do Hamas. "Vale tentar uma missão de resgate armado – altamente arriscada? Ou espera-se mais, até que o Hamas esteja tão enfraquecido pelos ataques aéreos que possa estar mais disposto a negociar um acordo?", analisa Frank Gardner, correspondente de segurança da BBC.
Encontro com Autoridade Palestina
Nesta sexta, Blinken deve se encontrar com o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, e com o rei Abdullah II da Jordânia.
Nesta quinta, Abbas, que é um ferrenho opositor do Hamas, falou publicamente pela primeira vez desde o ataque surpresa do Hamas a Israel, no último sábado. Já está na Jordânia, ele apelou ao “fim imediato da agressão abrangente contra o povo palestino”.
De acordo com um comunicado divulgado pelo gabinete do presidente, Abbas rejeitou “práticas relacionadas com o assassinato de civis ou o abuso em ambos os lados”.
Os dois líderes se reuniram em Amã para discutir “formas de travar a agressão israelense contra o povo palestino e entregar ajuda e alívio” a Gaza.
De acordo com o comunicado, ele também enfatizou que os palestinos “renunciam à violência e aderem à legitimidade internacional” e disse que os ataques a civis tanto pelas forças israelenses quanto pelo Hamas “violam a moral, a religião e o direito internacional”.
O grupo assumiu o controle de Gaza em 2007, expulsando forças leais à AP no então governo e ao movimento Fatah de Abbas, após uma ruptura violenta.