Foguetes voltaram a ser disparados pelo Hamas contra Israel a partir da Faixa de Gaza na terça-feira (10/10) após vencer o prazo dado pelo grupo extremista para que moradores de Ashkelon deixassem a cidade.
Explosões foram ouvidas logo após às 17h do horário local (11h do horário de Brasília).
A repórter da BBC Alice Cuddy está em Ashkelon e relatou que os moradores foram alertados por mensagens em seus celulares e orientados a buscar proteção. Depois, soaram sirenes.
Cuddy disse que, após primeiras as explosões, não foi possível ver danos significativos pelas ruas ao deixar o bunker onde estava.
Pouco depois, os habitantes de Ashkelon voltaram a buscar abrigo quhando as sirenes tocaram novamente, seguidas por mais sons de foguetes.
"As duas últimas rodadas de mísseis ocorreram com 30 segundos de diferença, com aqueles que deixaram o abrigo voltando rapidamente", disse Cuddy.
"Estamos começando a ouvir relatos de feridos. As pessoas aqui estão se preparando para uma longa noite."
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Iniciado na madrugada de sábado (07/10, no horário de Brasília), o conflito entre o grupo palestino Hamas e Israel chega a seu quarto dia com centenas de mortos, a promessa de novos ataques por ambos os lados e o sequestro de várias pessoas detidas pelo Hamas.
Até o início da madrugada de quarta-feira (11, no horário do Brasil), foram contabilizados 1.200 mortos em Israel e 900 na Faixa de Gaza.
Israel afirma ter fechado completamente a fronteira com Gaza. Segundo os militares do país, nenhum militante do Hamas cruzou a fronteira nas últimas horas.
Os ataques aéreos israelenses na Faixa de Gaza continuaram durante a noite de segunda para terça-feira (10/10) — a Força Aérea disse que 200 alvos foram atingidos.
Os militares também disseram que encontraram os corpos de 1,5 mil militantes palestinos em Israel e ao redor da Faixa de Gaza.
A Unicef, agência das Nações Unidas que cuida das crianças, pediu a abertura de um corredor humanitário dentro e fora de Gaza, já que Israel cortou o fornecimento de combustível, eletricidade e água para o território.
A ONU também calcula que mais de 187 mil pessoas tiveram que deixar as próprias casas em Gaza.
Segundo números divulgados pelas forças armadas de Israel no domingo (08), cerca de 100 pessoas (civis e militares) foram capturadas por combatentes do Hamas e são mantidas em cativeiro.
Por sua vez, o Hamas anunciou que executará um refém israelense a cada novo bombardeio de Israel contra edifícios civis na Faixa de Gaza sem aviso prévio.
O vice-chefe do gabinete político do Hamas, Saleh al-Arouri, afirmou que "oficiais de alta patente" do Exército de Israel estão entre os reféns.
Ele disse ao canal Al Jazeera que “o que está em nossas mãos libertará todos os prisioneiros” em Israel — uma aparente referência aos palestinos detidos em prisões israelenses.
“Há muitos palestinos mortos e muitos israelenses mortos, bem como prisioneiros, e a batalha ainda está no auge”, disse al-Arouri.
Há relatos não confirmados oficialmente de que o Catar — país que abriga algumas das lideranças do Hamas e que há anos fornece suporte financeiro à Faixa de Gaza — estaria iniciando negociações entre ambos os lados para garantir a libertação de alguns reféns.
Tanto o Hamas quanto Israel negaram que estariam avaliando a possibilidade de trocar prisioneiros detidos anteriormente em Israel por reféns capturados nos últimos dias pelo Hamas.
Editor da BBC para assuntos relacionados ao mundo árabe, Sebastian Usher afirma que a detenção de reféns pelo Hamas é "compreensivelmente uma questão altamente emotiva em Israel".
"Para os israelenses traumatizados pelos acontecimentos dos últimos três dias, pode não haver estômago para qualquer tipo de negociação com o Hamas, mesmo que o país tenha aderido há muito tempo ao princípio de que nenhum prisioneiro, vivo ou morto, deve ser deixado para trás", diz Usher.
Assim, o governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tem diante da mesa a urgência de decidir sobre como lidará com a questão dos reféns — pressão que é intensificada pelo fato de que o presidente americano Joe Biden afirmou que "provavelmente" há cidadãos dos Estados Unidos, grande aliado de Israel, entre os reféns.
"Como Israel poderá garantir a libertação [dos reféns] é uma grande questão — seja através de operações de forças especiais, de uma invasão em grande escala a Gaza, de negociações ou de uma mistura dos métodos."
Mais de 900 pessoas foram mortas em Israel desde que o Hamas lançou ataques e se infiltrou nas comunidades do sul de Israel. Entre as vítimas estão 260 que participavam de um festival de música.
Em Gaza, quase 690 pessoas morreram depois de Israel ter lançado ataques aéreos em retaliação, segundo a Autoridade Palestina. Outras 3,7 mil ficaram feridas.
Três brasileiros estão desaparecidos. Cerca de 14 mil brasileiros vivem em Israel e 6 mil na Palestina, segundo estimativas do Itamaraty — a maioria fora da área de conflito.
Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) fará a repatriação dos cerca de mil brasileiros que pediram para voltar ao Brasil.
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'Só o começo', diz Netanyahu
Na madrugada de terça-feira (10) no horário local, vários pontos da Faixa de Gaza registravam falta de energia e internet, além de bombardeios por parte de Israel.
O repórter da BBC Rushdi Abu Alouf, que está em Gaza, relatou que há também falta de combustíveis e remédios para os hospitais. Autoridades palestinas anunciaram que, em 48h, os recursos de saúde podem acabar.
Mais cedo, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, ordenou um "cerco total" da Faixa de Gaza com bloqueio à chegada de comida e combustível e do fornecimento de eletricidade e água.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou em um pronunciamento na TV que ainda há vários atiradores do Hamas em Israel. Ele prometeu que os "bombardeios em Gaza são só o começo".
O porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Hagari, diz que os militares recuperaram o controle de todas as comunidades perto da barreira de Gaza — mas confrontos isolados com homens armados palestinos continuam a acontecer.
Anteriormente, os militares disseram que os combates estavam ocorrendo em “sete ou oito” locais dentro do território israelense.
Há relatos de mísseis sendo disparados a partir de Gaza em direção a algumas cidades israelenses. Algumas explosões foram ouvidas em Jerusalém. Sirenes de alarme para bombardeios foram disparadas em várias localidades do país.
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O início do conflito
Nas primeiras horas do sábado (07), final do feriado judaico de Sucot, dezenas de homens armados do grupo palestino Hamas se infiltraram no sul de Israel a partir da Faixa de Gaza.
As invasões ocorreram por terra, por mar e por ar, com o auxílio de parapentes.
Também foram registrados disparos de milhares de foguetes vindos de Gaza, que é governada pelo Hamas.
Logo após os ataques, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, postou um vídeo nas redes sociais dizendo que o país estava "em guerra".
O ministro da Defesa de Israel disse que o Hamas “cometeu um grave erro e lançou uma guerra” contra eles mesmos.
“As tropas [israelenses] estão lutando contra o inimigo em todos os locais”, acrescentou Yoav Gallant. “O Estado de Israel vencerá esta guerra."
Pouco depois, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, disse que o seu povo tem o direito de se defender contra o “terror dos colonos e das tropas de ocupação”.
Refugiados
As Nações Unidas afirmam que 187 mil pessoas foram deslocadas em Gaza, principalmente "devido ao medo, às preocupações com a proteção e à destruição das casas".
O Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) acrescentou que 137 mil mil pessoas estão abrigadas em 87 escolas mantinas pela ONU.
Adnan Abu Hasna, porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), espera que os números aumentem.
“Há eletricidade nestas escolas e estamos fornecendo alimentação, água potável, apoio psicológico e tratamento médico”, afirmou ele.
Existem 2,3 milhões de palestinos vivendo em Gaza. Antes de lançar os ataques aéreos de retaliação no sábado, Israel alertou as pessoas que viviam em certas áreas para deixarem suas casas.
“Digo ao povo de Gaza: saiam daí agora, porque estamos prestes a agir em todos os lugares com toda a nossa força”, afirmou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no sábado (7/10).
'Falha de inteligência'
Militares israelenses disseram que o ataque surpresa lançado pelo Hamas no sábado (7/10) pode ser comparado aos atos terroristas de 2001 contra os Estados Unidos.
“Este é o nosso 11 de setembro. Eles nos pegaram”, admitiu um porta-voz das forças armadas do país, enquanto outro militar comparou os eventos recentes ao ataque de Pearl Harbor, realizado em 1941.
Em entrevista ao programa Today, da BBC, o ex-chefe de um dos serviços de inteligência de Israel avaliou que as táticas do país "colapsaram totalmente" no sábado.
Danny Yatom, ex-chefe da agência de espionagem Mossad e político do Partido Trabalhista, de oposição, diz que "tudo deu errado" e "ninguém tinha a menor ideia" de que Hamas atacaria Israel a partir de Gaza.
Ele disse que a segunda camada de defesa de Israel foi insuficiente para impedir os ataques, lembrando como o país foi pego de surpresa quase 50 anos depois da Guerra do Yom Kippur.
"A quantidade de forças era muito pequena — e isso se deve principalmente ao fracasso da inteligência, que disse que 'embora tenhamos testemunhado muitos exercícios do Hamas, eles não têm qualquer intenção de [atacar Israel]'."
Frank Gardner, correspondente para assuntos de segurança da BBC News, avalia que "os eventos revelam uma colossal falha de inteligência de Israel".
"O país possui uma das redes de inteligência mais extensas e sofisticadas do Oriente Médio. Israel mantém informantes em grupos militantes não apenas nos territórios palestinos, mas também no Líbano, na Síria e em outros locais."
"O Hamas conseguiu planejar e lançar este ataque cuidadosamente coordenado contra Israel, aparentemente em total sigilo", escreve Gardner.
Para Jeremy Bowen, editor de Internacional da BBC News, os últimos acontecimentos em Israel não têm precedentes nos mais de 15 anos desde que o Hamas ganhou controle sob a Faixa de Gaza.
"O ataque ocorre depois de meses de violência e tensão crescente entre israelenses e palestinos, embora a maior parte dos conflitos esteja concentrada na Cisjordânia, que é o território ocupado por Israel desde 1967, que se estende entre Jerusalém e a fronteira com a Jordânia", escreve ele.
"A situação atual vai evoluir rapidamente e é provável que se agrave. Uma grande questão é o que acontece agora — não apenas nos arredores de Gaza — mas também em Jerusalém e na Cisjordânia, onde há meses se verifica uma violência cada vez mais profunda."
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Reação internacional
Os líderes mundiais reagiram de diferentes maneiras ao ataque do Hamas e à retaliação de Israel:
Estados Unidos: o presidente Joe Biden afirmou que o apoio de seu país a Israel é “sólido e inabalável”. Os EUA mandaram navios e aviões para a região e disseram que enviarão munições adicionais para Israel. Além disso, o país disponibilizou seus serviços de inteligência e especialistas para auxiliar "em cada aspecto da crise dos reféns", nas palavras de Biden.
Reino Unido: o primeiro-ministro Rishi Sunak prometeu “apoio constante” a Benjamin Netanyahu. "Faremos tudo o que pudermos para ajudar. O terrorismo não prevalecerá", discursou ele.
Irã: o presidente Ebrahim Raisi disse que o Irã apoia o direito dos palestinos à autodefesa e alertou que Israel deve ser responsabilizado por colocar a região em perigo ao longo dos anos. O Hamas é apoiado pelo Irã.
Líbano: o Hezbollah, um poderoso grupo armado também apoiado pelo Irã, trocou tiros e foguetes com Israel no domingo. Isso suscitou receios de um conflito mais amplo entre Israel e os seus Estados oponentes.
China: Pequim apelou a ambos os lados para “cessarem fogo imediatamente”. A mídia estatal reiterou a “solução de dois Estados”, que inclui o estabelecimento de um Estado independente da Palestina.
Rússia: o Ministério das Relações Exteriores apelou a um “cessar-fogo imediato” e a negociações para “uma paz abrangente, duradoura e há muito esperada”.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse no sábado (07) estar "chocado com os ataques terroristas realizados hoje contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas".
"Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas."
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil divulgou uma nota em que "condena a série de bombardeios e ataques terrestres realizados hoje em Israel a partir da Faixa de Gaza".
"O Brasil lamenta que em 2023, ano do 30º aniversário dos Acordos de Paz de Oslo, se observe deterioração grave e crescente da situação securitária entre Israel e Palestina. Na qualidade de Presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil convocará reunião de emergência do órgão."
"O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas. Reafirma, ainda, que a mera gestão do conflito não constitui alternativa viável para o encaminhamento da questão israelo-palestina, sendo urgente a retomada das negociações de paz", conclui o texto.
Na atualização mais recente sobre a situação dos brasileiros na região, o MRE informou que "a embaixada em Tel Aviv identificou, até o presente momento, três brasileiros desaparecidos e um ferido, todos binacionais, que participavam de festival de música no distrito sul de Israel, a menos de 20 km da Faixa de Gaza".
"O brasileiro ferido, também binacional, recebeu, hoje, alta do hospital e se encontra bem."
"A Embaixada em Tel Aviv colheu, até agora, por meio de formulário online, os dados de cerca de mil nacionais e seus dependentes, a maioria dos quais turistas, hospedados em Tel Aviv e Jerusalém", conclui a nota.