Horror no Oriente Médio

Guerra Israel-Hamas: Ministro levanta restrições na invasão a Gaza

Yoav Gallant, ministro da Defesa de Israel, libera as tropas para agirem dentro do enclave palestino e prepara "ofensiva total". Biden denuncia "terrorismo" do Hamas e amplia assistência militar a Netanyahu

O horror enfrentado pelos moradores do sul de Israel, no último sábado (7/10), levou o ministro da Defesa, Yoav Gallant, a "suspender todas as restrições" impostas às tropas do país, em um sinal de iminente invasão terrestre à Faixa de Gaza. "Vocês terão a habilidade de mudar a realidade lá. (...) O Hamas queria uma mudança em Gaza, mudará 180 graus em relação ao que se pensava", disse, em pronunciamento aos seus soldados. "Eles (Hamas) lamentarão este momento, Gaza nunca mais voltará a ser o que era."

Com o número de israelenses mortos no ataque terrorista de sábado chegando a mil, o presidente dos EUA, Joe Biden, telefonou para o premiê Benjamin Netanyahu e classificou o atentado como "um ato de pura maldade". "Mais de mil civis massacrados — e não apenas mortos, massacrados — em Israel. Entre eles, pelo menos 14 cidadãos americanos foram mortos. Pais massacrados usando seus corpos para tentar proteger os filhos. Relatos de revirar o estômago sobre bebês mortos. Mulheres estupradas, agredidas, exibidas como se fossem troféus. Isso é terrorismo", declarou Biden, que não pediu contenção ao líder israelense.  

"Há momentos nesta vida em que um mal puro e não adulterado é solto neste mundo. Esse é um ato de pura maldade", acrescentou. Biden anunciou o aumento na assistência militar a Israel, incluindo munições e interceptadores para reabastecer o Domo de Ferro, o sistema antiaéreo. Ele confirmou que cidadãos norte-americanos estão entre os 150 reféns mantidos em Gaza. O Hamas acusou o democrata de "tentar encobrir os crimes e o terror do governo sionista". 

Oren Rosenfeld - No mesmo kibbutz, soldados israelenses observam a destruição: casas incendiadas durante o massacre

Nesta terça-feira (10/10), jornalistas puderam chegar a Kfar Aza, um kibbutz a apenas 3km da fronteira com o enclave palestino, e encontraram cenas dantescas. Pouco depois de retornar de lá, o israelense Oren Rosenfeld contou ao Correio que muitas crianças foram assassinadas. "Eu vi o inferno na Terra. Corpos de terroristas do Hamas por todos os lugares, perto dos de suas vítimas. Contei 35 somente na área que visitamos. As motocicletas usadas por eles estavam lá. Havia lama misturada a rios de sangue. Os soldados encontraram 27 bebês sem as cabeças. Os crimes teriam ocorrido entre 6h30 e 14h30 de sábado, até que o Exército chegasse e iniciasse uma batalha", descreveu.

Durante a conversa com Biden, Netanyahu disse que seu país foi atingido "por um ataque de uma selvageria nunca vista desde o Holocausto". "Centenas de massacres, famílias aniquiladas em suas camas, em suas casas, mulheres brutalmente violentadas e assassinadas, mais de uma centena de sequestros (...), levaram dezenas de crianças, as amarraram, queimaram e executaram, decapitaram soldados."

Oren Rosenfeld - Também em Kfar Aza, o corpo de um dos terroristas do Hamas, ao lado de pentes de fuzil

Crimes de guerra

Os bombardeios à Faixa de Gaza prosseguiam com intensidade, e uma invasão terrestre parecia iminente, As Nações Unidas e a União Europeia condenaram o "cerco total" imposto por Israel ao enclave de 2,4 milhões de habitantes. A ONU também advertiu que há "claras evidências" de crimes de guerra cometidos tanto em Israel quanto em Gaza. 

"A situação aqui é tão difícil! As forças de ocupação israelense fecharam todas as fronteiras — as passagens de Rafah e de Erez — e decidiram não permitir a entrada de água, comida e outros produtos de necessidades básicas. Isso inclui até mesmo o diesel para alimentar geradores. Estamos sem energia elétrica", relatou ao Correio Mohamed Abu Naser, 26 anos, morador do campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza. "Nós estamos por conta própria." Ele afirmou que o Egito tentou enviar um carregamento de diesel para abastecer os geradores, mas Israel impediu a entrada. "Não existe mais vida em Gaza. O que mais eles precisam fazer?", desabafou. 

Em Ashkelon, a 14km da Faixa de Gaza, três terroristas foram mortos em trocas de tiros com soldados. Do enclave palestino, os extremistas lançaram mais de 100 foguetes em direção à cidade. Chaim Smierc contou ao Correio que o Hamas ameaçou atacar Ashkelon por volta das 17h (11h em Brasília) e instou a população a fugir. "Eles queriam nos surpreender. Às 17h, houve disparos constantes de foguetes por 30 ou 40 minutos. Depois, os ataques prosseguiram, mas em intervalos mais espaçados", afirmou. Ele e a família se esconderam em uma safe room (quarto blindado). "Soube que alguns prédios foram atingidos."

Professor de relações internacionais da Universidade de Nova York, Alon Ben-Meir disse à reportagem não haver dúvidas de que os atuais combates entre o Hamas e Israel escalarão ainda mais e custarão vidas de milhares de pessoas de ambos os lados. "Duvido, no entanto, que o Irã se envolverá diretamente no conflito. Teerã tem sido alertado por Israel e pelos EUA para ficar de fora; caso contrário, sofrerá consequências incalculáveis", avaliou. O especialista entende que o Irã perderia mais do que ganharia em caso de engajamento direto. "Toda a região está instável e levará tempo para as condições se estabilizarem. A questão será o que ocorrerá no dia seguinte, uma vez que o cessar-fogo for estabelecido."

Ben-Meir aposta que Netanyahu fará de tudo para tentar sair deste conflito como herói de guerra. "Ele é um covarde e um perdedor. Não importa como esse conflito termine, será responsabilizado pela forma grosseira com que tratou a segurança de Israel", previu.

Hezbollah

O general de brigada Alon Friedman, integrante das IDF e da unidade de elite Brigada Golani, no norte de Israel, acredita que uma entrada do Hezbollah mais incisiva no conflito depende dos interesses do Irã. "Será preciso ver se o Irã terá interesse em operar dentro de Gaza, apoiando o Hamas, ou se pretende reforçar o Hezbollah para atuar contra Israel", disse à reportagem, por telefone. Ao ser questionado sobre o suposto envolvimento do Irã no ataque de sábado, ele respondeu: "Não há dúvida disso".

 

DEPOIMENTO

"Mataram minha avó e postaram o vídeo com o celular dela"

"Minha avó materna, Bracha Levinson, vivia sozinha no kibbutz de Nir Oz, a 600m da Faixa de Gaza. No sábado pela manhã, quando os mísseis começaram a atingir Israel, enviei uma mensagem para a minha família, a fim de me certificar de que estava tudo bem. Para saber se todos estavam no abrigo e seguros. Depois de alguns minutos, minha irmã respondeu no grupo da família, pelo WhatsApp, dizendo que minha avó tinha publicado em seu perfil no Facebook.

Arquivo pessoal - Yoav Shimoni com a avó Bracha Levinson, executada pelo Hamas no kibbutz de Nir Oz, a 600m de Gaza

Chequei a página dela e havia um vídeo dela morta, coberta de sangue, com muitas armas em cima do corpo dela. Não acreditamos naquilo por algumas horas. Durante duas ou três horas, as notícias vindas de Israel não anunciavam nenhuma infiltração. Ela vivia sozinha. Os terroristas usaram o celular dela, porque o vídeo foi publicado no próprio perfil dela. Acho que eles pretendiam que nós víssemos.

Eu não consigo entender como chegamos a essa situação e a essa imensa falha no sistema de segurança de Israel. Estou horrorizado com tudo o que está acontecendo, não apenas à minha família, mas com todas as histórias que continuo ouvindo. Os vizinhos da minha avó tinham crianças de 5 anos, que foram mortas. Bebês tiveram suas cabeças cortadas e deixadas no berço. Mulheres foram arrastadas e estupradas em Gaza. Idosas, como a melhor amiga de minha avó, estão sequestradas e mantidas reféns em Gaza. Ela tem quase 80 anos e fez uma cirurgia cardíaca. Essas pessoas estão sendo torturadas em Gaza."

Yoav Shimoni, 24 anos, morador de Toronto. Depoimento ao Correio, por telefone

 

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Fotos: Oren Rosenfeld - Corpos retirados do kibbutz de Kfar Aza, a 3km da Faixa de Gaza: 28 bebês decapitados pelos terroristas

Eu acho...

EU ACHO...

"As bombas caem a cada minuto, a cada hora. Os caças da ocupação israelense atacam o norte, o sul e o bairro de Rimmel, o centro econômico de Gaza, todos os dias. Ontem (segunda-feira), vi várias pessoas fugindo de suas casas. Aqui em casa, tenho alguma comida, mas a água foi cortada. Também estou sem eletricidade. A cada 30 horas, temos duas ou três com energia elétrica. Todos os prédios de Rimmel foram destruídos. Rimmel não existe mais."

Mohamed AbuNaser, morador do campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza

"Mataram minha avó e postaram a foto com o celular dela"

"Minha avó, Bracha Levinson, vivia sozinha no kibbutz de Nir Oz, a 600m da Faixa de Gaza. No sábado pela manhã, quando os mísseis começaram a atingir Israel, enviei uma mensagem para a minha família, a fim de me certificar de que estava tudo bem. Para saber se todos estavam no abrigo e seguros. Depois de alguns minutos, minha irmã respondeu no grupo da família, pelo WhatsApp, dizendo que minha avó tinha publicado em seu perfil no Facebook.

Chequei a página dela e havia um vídeo dela morta, coberta de sangue, com muitas armas em cima do corpo dela. Não acreditamos naquilo por algumas horas. Durante duas ou três horas, as notícias vindas de Israel não anunciavam nenhuma infiltração. Ela vivia sozinha. Os terroristas usaram o celular ela, porque o vídeo foi publicado no próprio perfil dela. Acho que eles pretendiam que nós víssemos. 

Eu não consigo entender como chegamos a essa situação e a essa imensa falha no sistema de segurança de Israel. Estou horrorizado com tudo o que está acontecendo, não apenas à minha família, mas com todas as histórias que continuo ouvindo. Os vizinhos da minha avó tinham crianças de 5 anos, que foram mortas. Bebês tiveram suas cabeças cortadas e deixadas no berço. Mulheres foram arrastadas e estupradas em Gaza. Idosas, como a melhor amiga de minha avó, estão sequestradas e mantidas reféns em Gaza. Ela tem quase 80 anos e fez uma cirurgia cardíaca. Essas pessoas estão sendo torturadas em Gaza."

 

Yoav Shimoni, 24 anos, morador de Toronto. Depoimento ao Correio, por telefone