O conflito entre palestinos e israelenses se estende por pelo menos sete décadas e a atual violência — iniciada após o ataque do Hamas a Israel no fim de semana — é apenas o mais recente capítulo desta tensão.
A região da Palestina, entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, é considerada sagrada para muçulmanos, judeus e católicos.
Até 1918, a área pertenceu ao Império Otomano e era ocupada principalmente por árabes e outras comunidades muçulmanas. Mas a forte imigração judaica, encorajada pelas aspirações sionistas, começava a gerar resistência.
Após a desintegração do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido recebeu um mandato da Liga das Nações para administrar o território da Palestina.
Mas, antes e durante a guerra, os britânicos fizeram várias promessas aos árabes e judeus que mais tarde não foram cumpridas — porque, entre outras razões, o Reino Unido já tinha dividido o Oriente Médio com a França.
Isto causou um clima de tensão entre nacionalistas árabes e sionistas que levou a confrontos entre paramilitares judeus e grupos árabes.
Criação do Estado de Israel
Após a Segunda Guerra Mundial, começou a se discutir a criação do Estado de Israel.
O Comitê Especial das Nações Unidas sobre a Palestina (UNSCOP) declarou em seu relatório à Assembleia Geral, em 3 de setembro de 1947, que havia motivos para o estabelecimento de um estado judeu no Oriente Médio:
- argumentos baseados em fontes bíblicas e históricas
- a Declaração de Balfour de 1917, na qual o governo britânico se declarou a favor de uma "nação" para os judeus na Palestina.
Ali foram reconhecidas a ligação histórica do povo judeu com a Palestina e as bases para a reconstituição do "Lar Nacional Judaico" naquela região.
Com o Holocausto contra milhões de judeus na Europa antes e durante a Segunda Guerra Mundial, cresceu a pressão internacional para o reconhecimento de um Estado nacional judeu.
Incapaz de resolver a polarização entre o nacionalismo árabe e o sionismo, o governo britânico levou a questão às Nações Unidas.
Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral aprovou um plano para a divisão da Palestina, que recomendava a criação de um Estado árabe independente, de um Estado judeu e de um regime especial para a cidade de Jerusalém.
O plano foi aceito pelos israelenses, mas não pelos árabes, que o consideraram uma perda de territórios. É por isso que ele nunca foi implementado.
Um dia antes de expirar o mandato britânico da Palestina, em 14 de maio de 1948, a Agência Judaica para Israel, representante dos judeus durante o mandato, declarou a independência do Estado de Israel.
No dia seguinte, Israel solicitou a adesão às Nações Unidas, status que finalmente alcançou um ano depois.
Conflito regional
Após a fundação de Israel em 14 de maio de 1948, a tensão deixou de ser uma questão local para se tornar uma questão regional.
No dia seguinte, o Egito, a Jordânia, a Síria e o Iraque invadiram o território recém-criado. Foi a primeira guerra árabe-israelense, também conhecida pelos judeus como guerra de independência ou de libertação.
Os esforços do Conselho de Segurança da ONU levaram à assinatura de um armísticio em 7 de janeiro de 1949 que colocou fim à guerra.
Após o conflito, o território inicialmente planejado pelas Nações Unidas para estabelecer um Estado Árabe foi reduzido pela metade.
Para os palestinos, começou a Nakba, a chamada "destruição" ou "catástrofe": o início da tragédia nacional. Cerca de 750 mil palestinos fugiram para países vizinhos ou foram expulsos pelas tropas israelenses.
Em 1956, uma crise no Canal de Suez colocou o Estado de Israel em conflito com o Egito. Com apoio da França e Inglaterra, Israel invadiu a península do Sinai, mas sofreu pressão internacional para recuar.
Em 1967, entre 5 e 10 de junho, eclodiu a Guerra dos Seis Dias, que teve consequências profundas e duradouras.
Israel obteve uma vitória esmagadora sobre uma coligação árabe.
Israel capturou a Faixa de Gaza e a Península do Sinai do Egito, a Cisjordânia (incluindo Jerusalém Oriental) da Jordânia e as Colinas de Golã da Síria.
Meio milhão de palestinos viraram refugiados.
O último conflito árabe-israelense foi a Guerra do Yom Kippur, em 1973, que colocou o Egito e a Síria contra Israel e permitiu que Cairo recuperasse o Sinai.
Gaza, porém, seguiu sob controle israelense
Seis anos depois, o Egito tornou-se o primeiro país árabe a assinar a paz com Israel, exemplo seguido apenas pela Jordânia anos depois. Em 1982, Israel devolveu completamente o Sinai ao Egito.
Hoje, 75 anos depois da criação de Israel, a paz entre palestinos e israelenses está tão distante quanto quando a ONU propôs dividir em dois o mandato da Palestina.
Atualmente, Israel só tem fronteiras definidas com o Egito e a Jordânia. Israel e o Líbano ainda não chegaram a um tratado de paz para definir sua fronteira, mas a linha de armistício de 1949 entre os dois países serve como fronteira de fato.
Essa fronteira não foi suficiente para evitar pelo menos duas guerras naquele território (em 1982 e 2006) e vários conflitos menores, primeiro entre tropas israelenses e guerrilheiros palestinos no Líbano e depois entre Israel e o Hezbollah, a facção muçulmana xiita do sul do Líbano.
Enquanto isso, a fronteira de Israel com a Síria permanece indefinida. A ONU considera as Colinas de Golã "território ocupado" por Israel, enquanto os israelenses as veem como "território em disputa".
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