O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu, no segundo dia após o ataque sem precedentes sofrido pelo Hamas, que seu povo se prepare para uma guerra "longa e difícil". O resultado parcial das operações que buscam deixar o grupo fundamentalista palestino em "ruínas" sinaliza o momento crítico que enfrenta o Oriente Médio. O último balanço indica ao menos, 1.100 mortes, sendo 700 em Israel e 400 na Faixa de Gaza. Na região do conflito, a noite com um céu iluminado por intensos bombardeios, de mísseis de ambos os lados, foi seguida por um cenário de construções destruídas, corpos espalhados de civis e militares, e pouca esperança, inclusive na comunidade internacional, de que ocorra um cessar-fogo imediato.
Ainda ontem, os Estados Unidos começaram a enviar ajuda militar para Israel e aproximar sua força naval do Mediterrâneo. Em uma chamada com o primeiro-ministro israelense, o presidente Joe Biden anunciou que "haverá ajuda adicional para as forças armadas israelenses, e haverá mais nos próximos dias", de acordo com um comunicado da Casa Branca. O grupo fundamentalista reagiu, declarando que considera a ajuda estadunidense uma "agressão" contra os palestinos.
A intenção de Netanyahu é remover todos os habitantes das áreas próximas da Faixa de Gaza. Informações de Washington indicam que o Exército israelense deve entrar no enclave palestino até amanhã. Os bombardeios lançados em resposta por Israel contra Gaza causaram 413 mortos — incluindo 78 crianças — e 2.300 feridos, indicou o Ministério da Saúde do enclave palestino.
Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos anunciou que diversos cidadãos norte-americanos morreram nos ataques do Hamas, sem dar maiores detalhes sobre as vítimas. "Podemos confirmar a morte de vários cidadãos americanos. Estendemos nossas mais profundas condolências às vítimas e às famílias de todos os afetados", afirmou. Há ainda a suspeita de que estadunidenses e alemães — muitos com dupla cidadania israelense — tenham sido sequestrados durante a operação que deflagrou a guerra.
Consequências regionais
Na avaliação de Késsio Lemos, doutor em relações internacionais pelo Programa San Tiago Dantas, o ataque do Hamas e a retaliação israelense podem ter uma série de consequências regionais. "O primeiro impacto seria uma tentativa de desconstruir ou de reverter processos de integração regional que a diplomacia israelense tem trabalhado nos últimos anos. Os acordos de Abraão, a tentativa dos Estados Unidos de intermediar uma normalização das relações entre Irã e Arábia Saudita, tudo isso a partir desse conflito é posto em xeque."
Segundo o especialista em ciência política, o ataque do Hamas pode ter tido como propósito atrair uma reação furiosa do governo israelense. "Assim, o Irã pode instrumentalizar a destruição e as mortes que, certamente, estão ocorrendo na Faixa de Gaza para mobilizar a opinião pública do mundo árabe e sensibilizá-lo contra Israel. Isso poderia ser utilizado contra os governos da Arábia Saudita, contra os governos dos Emirados Árabes Unidos, para que revejam a sua aproximação política com Israel", analisa.
Reféns
O sequestro de militares e civis também é um ponto que desperta preocupação internacional. Gerald Steinberg, professor de ciência política da Universidade Bar Ilan, em Ramat Gan, subúrbio de Tel Aviv, não acredita que Netanyahu vá ceder a uma possível pressão do Hamas. "É impossível imaginar qualquer governo israelense libertando terroristas palestinos por meio de negociações, pois isso incentivaria uma repetição do massacre de sábado", justifica (Leia Duas perguntas para).
Alguns dos sequestrados estavam no festival Universo Paralello, no Deserto de Negev, no sul do país, perto da Faixa de Gaza. Também no local, segundo o grupo voluntário de resgate Zaka, foram encontrados mais de 260 corpos. As pessoas estavam na rave — incluindo brasileiros — quando foram surpreendidas por integrantes armados do grupo fundamentalista chegando por terra e pelo ar.
Muitos israelenses, em busca de familiares desaparecidos, disseram tê-los visto em vídeos que circulam nas redes sociais. Yifat Zailer, de 37 anos, contou que foi assim que ela reconheceu uma prima e os filhos dela, de 9 meses e 3 anos, supostamente capturados pelo Hamas. "É a única confirmação que temos" sobre eles, disse ela, por telefone, à agência France-Presse de notícias (AFP).
Segundo o governo israelense, o Hamas capturou "mais de 100" pessoas, as tornando "prisioneiras". Foram enviadas dezenas de milhares de soldados com a missão de libertar reféns e "matar cada terrorista presente" em seu território, disse o porta-voz do Exército, Daniel Hagari.
Durante a cerimônia do Angelus, o papa Francisco pediu a interrupção dos ataques porque "o terrorismo e a guerra não levam a nenhuma solução, apenas à morte e ao sofrimento de tantas pessoas inocentes". "Parem os ataques (...) o terrorismo e a guerra não levam a solução nenhuma", seguiu. O pontífice disse, ainda, que acompanha "com apreensão e dor" o que está acontecendo em Israel. "Transmito a minha proximidade às famílias das vítimas", disse o papa, sem citar o grupo Hamas.
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