Estive na fronteira nordeste da Faixa de Gaza em março deste ano. Um monumento chamado "Black Arrow" homenageia paraquedistas israelenses que participaram de uma incursão ao enclave palestino na década de 1950. O local tem uma cafeteria e parece um cenário quase bucólico, com judeus fazendo piquenique, o barulho de passarinhos e a brisa suave que sopra na área aberta.
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Mais adiante, estão os primeiros prédios de Beit Hanoun e de parte do campo de refugiados de Jabalia. Mais ao fundo, a Cidade de Gaza. Cerca de 500m dividem a cerca fortificada com sensores de movimento e 8m de altura. Nesse espaço, um campo de relva verde. O ambiente era permeado de tensão.
O tempo todo eu podia escutar o zumbido insistente de drones israelenses, que sobrevoavam Gaza quase 24 horas por dia para coletar dados de inteligência sobre o movimento fundamentalista islâmico Hamas. Ao lado, era possível ouvir disparos incessantes, vindos de um estande de tiros das Forças de Defesa de Israel (IDF).
Os drones e a cerca de US$ 1 bilhão foram insuficientes para conter os militantes palestinos que invadiram Israel por meio de 29 pontos de entrada. Promoveram um massacre. Mais de 600 mortos. Sequestraram 100 cidadãos israelenses.
Um dos mortos foi Ofir Libstein, chefe do Conselho Regional de Sha'ar HaNegev, uma região ao lado de Gaza que reúne 12 comunidades, entre kibbutzim (comunidades coletivas) e moshavim (comunidades coletivas agrícolas) e 9,3 mil moradores.
Para defender os habitantes de seu kibbutz Kfar Aza, Ofir pegou em armas e entrou em confronto com os militantes do Hamas, enquanto os seus quatro filhos se protegiam em um quarto blindado.
Estive com Ofir no mesmo período no kibbutz Bror Hayil, onde 60% dos 950 moradores são filhos ou netos de brasileiros. Almoçamos feijoada e churrasco no mesmo kibbutz.
Ofir citou que viver na região, em 95% do tempo, é como habitar o paraíso e comparou os outros 5% ao inferno, uma referência aos foguetes disparados vez ou outra da Faixa de Gaza. Educado, cordial, dono de um inglês impecável e eloquente, Ofir amava sua terra.
"Túneis do terror, balões incendiários e tumultos ao longo da fronteira são as rotinas de nossos cidadãos, a qual vem de mãos dadas com múltiplos custos e desafios, como o bem-estar mental e físico da comunidade, a economia e o desenvolvimento", disse ao Correio, à época. Ofir morreu tentando proteger a terra e aqueles que amava.
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