Por volta das 14h50 desta sexta-feira (6/10) — 19h50 em Paris —, o jornalista iraniano Taghi Rahmani, 64 anos, se preparava para dormir depois de um longo dia de entrevistas, quando atendeu a um telefonema do Correio. O marido da ativista e escritora iraniana Narges Mohammadi, 51, laureada com o Nobel da Paz deste ano, afirmou que a esposa será a voz do povo iraniano, principalmente das mulheres. "O prêmio colocará o Irã sob os holofotes. As pessoas ao redor do mundo passarão a saber mais sobre o Irã", admitiu. O Comitê Nobel Norueguês decidiu premiar Narges por "sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e pela promoção dos direitos humanos e da liberdade para todos". Presa por 13 vezes, condenada cinco vezes a 31 anos de prisão e 154 chibatadas, Narges está detida na penitenciária de Evin, em Teerã. De acordo com o marido, ela ainda não sabe que ganhou o Nobel e deverá ser informada neste sábado (7/10). Leia a entrevista de Taghi Rahmani ao Correio:
Como o senhor recebeu o anúncio do Comitê Nobel Noruguês sobre a escolha de Narges Mohammadi como Nobel da Paz?
O Nobel da Paz é muito importante para nós, ante a situação atual no Irã. Por ter sido agraciada com esse prêmio, Narges será a voz do povo iraniano ao redor de todo o mundo, especialmente as mulheres. Acho que isso colocará o Irã no foco e as pessoas poderão ver o que realmente acontece dentro desse país. A República Islâmica tem lutado contra o seu próprio povo. E as pessoas estão lutando de volta, reagindo.
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De que maneira vê o tratamento dispensado pelo Irã às mulheres do país?
A República Islâmica tem colocado muita pressão sobre as mulheres. Tem colocado muita pressão sobre as mulheres pobres e sobre as diferentes culturas no Irã. Assim como todas as diferentes religiões que temos no Irã. As mais diversas pessoas que vivem no Irã enfrentam muita pressão. Acho que Narges será a voz de todas essas pessoas. Esse prêmio colocará o Irã sob os holofotes. As pessoas ao redor do mundo passarão a saber mais sobre o Irã. Vocês, brasileiros, podem entender muito bem isso, pois lutaram contra uma ditadura.
O senhor esperava que ela ganhasse o Nobel neste ano?
Você sabe... Esta era terceira vez em que Narges foi indicada ao Nobel da Paz. Neste ano, enquanto o movimento das iranianas — calcado no slogan "mulher, vida e liberdade" ocorre, Narges tem falado muito sobre as mulheres no Irã. Então, sim... Nós esperávamos por isso. Meses atrás, os jornais falavam sobre o possível Nobel para Narges. Eles previam isso. Mas nós não tínhamos certeza, até o último minuto. Fiquei muito surpreso e entusiasmado.
Sua esposa foi informada sobre o prêmio? O senhor acredita que alguém tenha informado Narges sobre o Nobel?
Não, ela ainda não tem ideia disso, porque às quinta-feiras e às sextas-feiras os presos não podem falar ao telefone. As mulheres prisioneiras políticas no Irã não têm acesso ao telefone no fim de semana iraniano, que ocorre quinta e sexta-feira. Então, não achamos que Narges tenha noção do prêmio. Neste sábado (7/10) pela manhã, ela irá telefonar para familiares no Irã e descobrirá sobre o Nobel da Paz.
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