América do Sul

Venezuela: Ao Correio, Guaidó acusa o Supremo de perseguir a oposição

Ex-presidente autoproclamado da Venezuela contesta decisão da máxima instância do Judiciário de suspender os resultados das primárias da oposição. "Isso é uma judicialização da política", disse

A candidata  liberal María Corina Machado teve vitória folgada -  (crédito: Rances Mattey/AFP)
A candidata liberal María Corina Machado teve vitória folgada - (crédito: Rances Mattey/AFP)
postado em 31/10/2023 06:05

Três dias depois de o Ministério Público da Venezuela intimar os organizadores das primárias opositoras a se apresentarem, ante supostas fraudes, o Supremo Tribunal da Venezuela suspendeu "todos os efeitos" do processo de escolha do candidato nas eleições de 2024. As primárias de 22 de outubro contaram com a participação de surpreendente de 2,4 milhões de pessoas, as quais deram uma vitória arrebatadora à liberal inabilitada María Corina Machado, com 92% dos votos. "Todos os efeitos das diferentes fases do processo eleitoral conduzido pela 'Comissão Nacional de Primárias' estão suspensos", destacou a sentença, publicada no site do mais alto tribunal do país. A Câmara Eleitoral do Supremo atendeu a um recurso de amparo contra as primárias, introduzido pelo deputado dissidente José Brito, tachado de colaboracionista do regime de Nicolás Maduro. 

Em entrevista ao Correio, Juan Guaidó — o ex-presidente autoproclamado da Venezuela exilado em Miami — afirmou que o Supremo Tribunal venezuelano é uma "arma de perseguição" de Maduro. "Isso é uma judicialização da política. É parte do aparato de propaganda, justamente para gerar confusão", criticou. Ele assegurou que as primárias tiveram uma ganhadora, María Corina Machado. "O processo foi realizado com muito esforço e autogerenciado. Possui legitimidade não apenas de origem, mas também de desempenho, por seu resultado e pelo civismo. A ditadura busca reeditar a perseguição criminal de lesa humanidade", disse o opositor. 

Segundo Guaidó, era esperado que o regime de Maduro iria perseguir a oposição e judicializar as primárias. "Isso é o que ela tem feito nos últimos anos. Por exemplo, na Assembleia Nacional, foram eliminados deputados, por meio de um rito no mesmo Supremo", advertiu. O líder opositor lembrou que, três semanas atrás, a comunidade internacional firmou um acordo, em Barbados, no qual expressamente se falava de que cada parte — o regime de Maduro e a alternativa democrática de oposição venezuelana — apresentariam, livremente, os seus candidatos. "A alternativa democrática fez o que podia, frente a uma ditadura, para se mobilizar de maneira cidadã. A comunidade internacional precisa exigir que o acordo seja cumprido", acrescentou Guaidó. O Correio entrou em contato com a assessoria de María Corina, mas foi informado de que ela não fará pronunciamento a respeito do tema por enquanto. 

Cientista político da Universidad Central de Venezuela (UCV), José Vicente Carrasquero Aumaitre concorda com Guaidó em relação ao propósito da decisão do Supremo. "Esse órgão permanente do chavismo pretende provocar confusão e distração. Mas o efeito político das primárias está concretizado", garantiu à reportagem, ao sublinhar o surpreendente comparecimento às urnas. "A proclamação de María Corina Machado como candidata da oposição venezuleana é um elemento político consolidado e não haverá retrocesso nisso." O professor aponta que a decisão do Supremo é um reconhecimento do êxito das primárias. "Ela também denuncia a ausência de institucionalidade na Venezuela. O tribunal está submetido totalmente aos desígnios do partido político de Maduro", disse Aumaitre.

EU ACHO...

Juan Guaidó, ex-presidente autoproclamado da Venezuela exilado em Miami
Juan Guaidó, ex-presidente autoproclamado da Venezuela exilado em Miami (foto: YURI CORTEZ)

"A ditadura busca desmoralizar milhões de pessoas que se mobilizaram para votar e ter uma oportunidade, em 2024, de uma eleição competitiva. Os venezuelanos querem eleger os nossos candidatos. Maduro usa a via judicial para entorpecer o desenvolvimento de nossa ação cívica e social."

Juan Guaidó, ex-presidente autoproclamado da Venezuela exilado em Miami

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