MEIO AMBIENTE

A ilha caribenha que era árida como a Lua e agora é exemplo de recuperação ambiental

A perseverança dos habitantes de Antígua e Barbuda foi responsável pela metamorfose da pouco conhecida ilha Redonda, a terceira maior do país.

Antes de sua recuperação, locais chamavam a ilha Redonda de
Antes de sua recuperação, locais chamavam a ilha Redonda de "rocha", e é fácil entender o motivo - (crédito: EDWARD MARSHALL, FFI)
BBC
Gemma Handy - De St. John's
postado em 28/10/2023 09:49 / atualizado em 28/10/2023 14:50

A inacreditável recuperação ambiental de uma minúscula ilha do Caribe que, em poucos anos, deixou de ser uma rocha isolada para se tornar um paraíso verde de vida selvagem, chamou atenção de ambientalistas em todo o mundo.

A perseverança dos moradores de Antígua e Barbuda foi responsável pela metamorfose da pouco conhecida ilha Redonda, a terceira maior do país. Agora, eles comemoram mais uma importante conquista.

Com 1,6 km de comprimento, Redonda foi oficialmente declarada área de proteção pelo governo do país. A designação garante ao local status oficial como ponto de reprodução essencial para aves migratórias.

Lar de espécies que não são encontradas em nenhum outro lugar do planeta, a ilha agora será preservada indefinidamente.

A Reserva do Ecossistema de Redonda também engloba a vegetação marinha da região e um recife de corais. Ao todo, ela cobre uma área de 30 mil hectares.

Sua imensa extensão significa que o país já fez a sua parte para atingir a meta "30x30", um movimento global que pretende que 30% do planeta sejam áreas de preservação ambiental até 2030.

Redonda atualmente vê um surto de biodiversidade. A ilha é o lar de dezenas de espécies ameaçadas, colônias de aves marinhas de importância mundial e lagartos endêmicos.

Mas nem sempre foi assim.

No passado, ratos pretos invasores atacavam répteis e se alimentavam dos ovos das aves. Cabras levadas até a ilha por antigos colonizadores devastaram a vegetação de Redonda, deixando a ilha com um aspecto inóspito, que mais parecia a superfície da Lua.

Em 2016, foi lançado um projeto ambicioso que retirou as cabras e erradicou os roedores. Com isso, a cobertura vegetal voltou à ilha e, com ela, a quantidade de espécies nativas aumentou exponencialmente.

Este trabalho foi coordenado pela ONG local Environmental Awareness Group (EAG), em cooperação com o governo de Antígua e Barbuda e parceiros internacionais, como a Fauna and Flora International (FFI).

A diretora-executiva da EAG, Arica Hill, descreve o novo status de proteção como "imensa vitória para os antiguanos".

"É a maior área marinha protegida do leste do Caribe", segundo ela, "o que demonstra o brilhante trabalho que os conservacionistas e ambientalistas podem fazer na sua própria casa."

"É ainda mais significativo que o governo também nos confiou sua administração legal", prossegue Hill.

O grupo está conduzindo estudos de viabilidade, na esperança de reintroduzir espécies que eram encontradas em Redonda muitos anos atrás, como a coruja-buraqueira, uma pequena ave marrom que faz seus ninhos no subsolo.

A EAG também está desenvolvendo um sistema de controle para garantir que a ilha permaneça livre de espécies invasoras. Este sistema inclui câmeras de vigilância e o monitoramento das atividades de pesca do local, que precisam respeitar normas rigorosas.

Jenny Daltry, da FFI, afirma que as ilhas do Caribe enfrentam as mais altas taxas de extinção da história moderna. Isso significa que a restauração e proteção de áreas como Redonda é "fundamental".

Desde o início dos trabalhos, 15 espécies de aves terrestres retornaram para a ilha. E o número de lagartos endêmicos disparou – como o chamado dragão de Redonda, ameaçado de extinção.

No passado, moradores haviam apelidado Redonda de "a rocha". Agora, são os seus mais firmes guardiões, segundo Shanna Challenger, da EAG.

"A ilha conseguiu despertar orgulho nacional", ela diz, sorrindo.

"Para mim, como antiguana, este trabalho é monumental. Estamos inscritos para sempre na história de Redonda", explica Challenger. "Tenho muito orgulho de ter participado deste processo e mal posso esperar para ver qual será o legado de Redonda daqui para frente."

Para as pequenas ilhas em desenvolvimento na linha de frente das mudanças climáticas, o sucesso de Redonda representa uma rara faísca brilhante em meio à enxurrada de sombrias manchetes ambientais.

"Atingir nosso objetivo '30x30' mostra ao resto do mundo que isso é possível", prossegue Challenger. "Mesmo não sendo responsáveis pela maior parte das emissões, estamos entre os mais prejudicados e, ainda assim, somos os primeiros a atingir nosso objetivo."

"Em vez de falar, estamos agindo. Espero que sirva de inspiração para outros países. Se a pequena Antígua e Barbuda pode fazer, você também pode."

Para a coordenadora da reserva, Johnella Bradshaw, esta é uma conquista ainda mais pessoal.

"Quando cresci e estudei na escola e na faculdade, não se falava em seguir carreira na área ambiental", ela conta. "O importante era ser médica, dentista ou advogada."

"Quando você pensa em conservação, você pensa no que acontece nos EUA ou na Europa, não em uma pequena ilha do Caribe", prossegue Bradshaw.

"Agora, estamos na linha de frente da preservação internacional. Podemos mudar essa narrativa e mostrar às gerações mais jovens que pessoas como eu podem fazer esta mudança."

Bradshaw está ansiosa para provar que o status de proteção não existe apenas "no papel", mas "também na realidade".

Como seus compatriotas, Bradshaw conhece muito bem as condições climáticas sem precedentes enfrentadas pelo país.

Seis anos atrás, Barbuda foi devastada pelo furacão Irma. E o aquecimento dos oceanos continua a representar uma ameaça existencial para as ilhas em toda a região.

"Você ouve falar das mudanças climáticas, aumento das temperaturas e tempestades mais fortes, mas nós estamos sentindo tudo isso", prossegue ela. "Este verão foi terrível, muito quente."

"Mas, se todos nós fizermos a nossa parte, juntos podemos fazer a diferença."

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