O grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou em 7 de outubro um ataque surpresa a Israel, matando mais de 1.400 e capturando reféns. Israel reagiu com bombardeios que já mataram cerca de 6.500 e, em 14 de outubro, anunciou para breve ofensiva por ar, terra e mar contra o território.
A seguir, um resumo do conflito até agora.
O que está acontecendo na Faixa de Gaza?
Israel começou a bombardear a Faixa de Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro.
O objetivo declarado de Israel é destruir completamente o Hamas e resgatar os mais de 200 reféns em poder do grupo palestino.
Desde então, bairros inteiros foram destruídos, e os bombardeios israelenses continuam.
Em meados de outubro, Israel havia dado um ultimato aos moradores no norte da Faixa de Gaza — cerca de 1,1 milhão de pessoas — para se deslocarem para o sul do território.
Esse prazo, estendido algumas vezes, expirou no dia 15 de outubro.
O norte de Gaza — que inclui a Cidade de Gaza e dois campos de refugiados — é uma das partes mais densamente povoadas do território.
Na ocasião, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, disse aos civis que ignorassem a ordem de evacuação, descrevendo-a como "propaganda falsa".
No entanto, milhares de palestinos obedeceram à ordem de Israel e abandonaram suas casas.
Apesar disso, Israel bombardeou e continua bombardeando várias localidades no sul do território.
Segundo a agência da ONU para os refugiados palestinos, a situação no sul de Gaza é tão ruim que alguns civis estão voltando para o norte.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse que a campanha militar em Gaza "pode levar um mês, dois ou três, mas no final não haverá mais Hamas".
Enquanto isso, a ala militar do Hamas, as Brigadas al-Qassam, continua a disparar foguetes contra Israel.
Como Israel poderia realizar uma ofensiva terrestre?
O governo israelense deslocou dezenas de milhares de soldados para sua fronteira com Gaza, juntamente com tanques e artilharia.
Além de sua força permanente, de 160 mil militares, foram chamados cerca de 300.000 reservistas.
O Exército israelense se preparou para uma ofensiva lançando bombas em Gaza, visando comandantes do Hamas e seus centros de controle.
Um de seus principais alvos é o vasto labirinto de túneis subterrâneos do Hamas, que ligam seus postos de comando subterrâneos.
"Pense na Faixa de Gaza como uma camada para os civis e depois outra camada para o Hamas. Estamos tentando chegar à segunda camada que o Hamas construiu", disse um porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF) em 12 de outubro.
O Hamas já disse que os túneis se estendem por 500 km, uma extensão superior ao metrô de Londres, por exemplo.
Muitos têm entradas escondidas dentro de casas, mesquitas, escolas e outros edifícios públicos.
Os militares de Israel provavelmente evitarão entrar em túneis, a menos que seja necessário, em vez disso, usando explosivos para destruí-los.
Acredita-se que o Hamas tenha colocado armadilhas e explosivos improvisados nos pontos de entrada e ao longo de ruas estreitas.
Um grande desafio para Israel serão os combates em áreas urbanas densamente povoadas, como mostra reportagem da BBC News Brasil.
Israel acredita que o Hamas tenha cerca de 30.000 soldados, com armas incluindo fuzis automáticos, granadas impulsionadas por foguetes e mísseis antitanque.
O que é o Hamas e o que ele quer?
O Hamas é um grupo palestino que governa a Faixa de Gaza desde 2007.
O grupo prega a destruição de Israel e quer substituí-lo por um Estado islâmico.
O Hamas travou várias guerras com Israel desde que assumiu o poder.
Disparou — ou permitiu que outros grupos disparassem — milhares de foguetes contra Israel e realizou outros ataques mortais.
Em resposta, Israel atacou repetidamente o Hamas com ataques aéreos e enviou tropas para Gaza durante duas das guerras. Junto com o Egito, bloqueia a Faixa de Gaza desde 2007 pelo que descreve como razões de segurança.
O Hamas — ou, em alguns casos, a sua ala militar, as Brigadas Izzedine al-Qassam — foi designado grupo terrorista por Israel, Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido, bem como outras potências.
Já o Brasil e nações como China, Rússia, Turquia, Irã e Noruega não adotam essa classificação.
Historicamente, o governo brasileiro só classifica uma organização como sendo terrorista se ela for considerada assim pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O Irã apoia o grupo, fornecendo-lhe financiamento, armas e treinamento.
O que é a Faixa de Gaza e por que ela é importante?
A Faixa de Gaza é um território de 41 km de comprimento e 10 km de largura localizado entre Israel, Egito e o Mar Mediterrâneo.
Originalmente ocupada pelo Egito, Gaza foi capturada por Israel durante a guerra de 1967 (Guerra dos Seis Dias), juntamente com a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Israel retirou as suas tropas e cerca de 7.000 colonos da área em 2005.
Gaza é o lar de cerca de 2,2 milhões de pessoas.
Pouco mais de 75% da população do território — cerca de 1,7 milhões de pessoas — são refugiados, segundo a ONU. Mais de 500 mil deles vivem em oito acampamentos lotados localizados na Faixa de Gaza.
Israel controla o espaço aéreo sobre Gaza e a sua costa, e restringe rigorosamente o movimento de pessoas e mercadorias através das suas passagens fronteiriças.
Da mesma forma, o Egito controla quem entra e sai através da sua fronteira com Gaza.
O que é o 'cerco' a Gaza?
Após o ataque do Hamas, Israel anunciou um "cerco" a Gaza — cortando o fornecimento de eletricidade, combustível, alimentos, bens e água ao território.
Segundo o governo israelense, o cerco não terminará até que os mais de 200 reféns sejam libertados.
As famílias, os hospitais e as empresas em Gaza dependem de geradores — se tiverem acesso a combustível para fazê-los funcionar.
A fronteira entre Israel e Gaza permanece fechada. A passagem de Rafah, que é controlada pelo Egito, tem sido alvo de ataques aéreos israelenses.
O que é são os Territórios Palestinos?
Cisjordânia e Gaza, conhecidas como "territórios palestinos", bem como Jerusalém Oriental e Israel, fizeram parte de uma terra conhecida como Palestina desde a época romana até meados do século 20.
Estas também eram as terras dos reinos judaicos na Bíblia e são vistas por muitos judeus como sua antiga pátria.
Israel foi declarado Estado em 1948, embora a terra ainda seja referida como Palestina por aqueles que não reconhecem o direito de existência de Israel.
Os palestinos também usam o nome Palestina como um termo genérico para Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental.
O presidente da Autoridade Palestina (AP) é Mahmoud Abbas, também conhecido como Abu Mazen. Ele despacha da Cisjordânia.
Abbas representa o partido político Fatah, que tem uma rivalidade acirrada com o Hamas.
Porque o Hamas lançou o seu último ataque?
Embora o ataque do Hamas de 7 de outubro tenha sido inesperado, .
O grupo extremista palestino também pode ter procurado obter uma vitória de propaganda significativa para aumentar a sua popularidade.
Acredita-se que a captura de reféns israelenses visa pressionar Israel a libertar alguns dos cerca de 4.500 palestinos detidos em prisões israelenses — uma questão altamente emotiva para todos os palestinos.
Há também especulações de que o ataque foi orquestrado pelo Irã — o arqui-inimigo de Israel — embora o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, tenha negado o envolvimento do seu país.
O Irã e o Hamas também se opõem firmemente à perspectiva crescente de um acordo de paz histórico entre Israel e a Arábia Saudita.
Isto poderá ser frustrado se a resposta militar de Israel aos ataques do Hamas provocar uma ira generalizada no mundo árabe.
Como isso se compara aos ataques anteriores do Hamas?
O editor internacional da BBC, Jeremy Bowen, diz que esta é a operação mais ambiciosa que o Hamas já lançou a partir de Gaza e o mais grave ataque transfronteiriço que Israel enfrentou em mais de uma geração.
Os militantes romperam a cerca de arame farpado que separa Gaza de Israel em vários lugares.
Surgiram detalhes de um massacre numa comunidade israelense, o kibutz Kfar Aza — com um general israelense falando de bebês assassinados.
Soldados israelenses disseram a Jeremy Bowen que alguns dos mortos haviam sido decapitados.
Mas as Forças de Defesa de Israel informaram que "não podemos confirmar nenhum número. O que aconteceu no kibutz Kfar Aza é um massacre no qual mulheres, crianças, bebês e idosos foram brutalmente massacrados no modo de ação do ISIS (grupo autodenominado Estado Islâmico)".
Outros relatos noticiados pela imprensa indicam que pessoas foram queimadas vivas dentro de casa, enquanto se escondiam em quartos de segurança.
Em entrevista à BBC News Brasil, a israelense Lishay Lavi contou como foi feita refém com o marido, Omri, e as duas filhas, Roni e Alma. Autoridades israelenses acreditam que ele esteja sendo mantido refém na Faixa de Gaza.
Mais de 260 pessoas, a maioria jovens, também foram mortas durante o ataque do Hamas a um festival de música eletrônica, entre as quais três brasileiros: Karla Stelzer Mendes, Ranani Nidejelski Glazer e Bruna Valeanu.
Segundo a última atualização das Forças de Defesa de Israel, 222 pessoas são mantidas reféns pelo grupo palestino.
Por que o ataque do Hamas não foi previsto pela inteligência israelense?
Considerando os recursos combinados do Shin Bet, a agência de segurança interna, do Mossad, o serviço secreto, e das Forças de Defesa de Israel, o correspondente de segurança da BBC, Frank Gardner, diz ser "surpreendente" que ninguém tenha previsto o ataque ou tenha deixado de agir se foi avisado.
Israel tem, inegavelmente, os serviços de inteligência mais extensos e bem financiados do Oriente Médio, com informantes e agentes dentro de grupos militantes palestinos, bem como no Líbano, na Síria e noutros locais.
A cerca na fronteira entre Gaza e Israel possui câmeras, sensores de movimento no solo e patrulhas regulares do Exército.
Acreditava-se que a cerca com arame farpado fosse uma "barreira inteligente" para evitar exatamente o tipo de infiltração que ocorreu neste ataque.
Mas os integrantes do Hamas simplesmente abriram caminho através dela ou entrando em Israel pelo mar e por parapente.
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