O anúncio da libertação foi feito por Abu Obaida, porta-voz das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, braço militar do Hamas. "Em resposta aos esforços do Catar, as Brigadas Qassam libertaram duas cidadãs americanas (mãe e filha) por razões humanitárias e para provar ao povo americano e ao mundo que as alegações feitas por (Joe) Biden e seu governo fascista são falsas e sem sentido", declarou Obaida, cujo nome verdadeiro nem mesmo militantes do Hamas sabem. A primeira foto de Judith Tai Raanan e de sua filha Natalie Shoshana Raanan, 18, em território israelense, foi divulgada no fim da da tarde desta sexta-feira (20/10) pelo Ministério das Relações Exteriores. No registro, o general Gal Hirsch – negociador do governo de Israel para a libertação dos reféns — aparece segurando a mão das duas, entre dois soldados. O governo do Catar mediou o diálogo com o Hamas para a soltura. Judith e Natalie tinham sido capturadas no kibbutz Nahal, a 1,6km da Faixa de Gaza, e levadas para o enclave palestino. Moradoras de Chicago, elas viajavam a Israel para o 85º aniversário de mãe de Judith e para os feriados judaicos.
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Para Mirjana Spoljaric, presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que participou da operação, a libertação de mãe e filha é uma "lasca de esperança". "Estamos extremamente aliviados que famílias possam ser reunidas, agora, depois de duas semanas de agonia. Continuamos a defender ações para proteger e aliviar o sofrimento de todos os civis afetados por esse conflito devastador", declarou. "Como ator neutro, o papel do CICV foi o de transportar as reféns de Gaza para Israel. Continuamos a apelar pela imediata libertação de todos os sequestrados e estamos prontos a ajudá-los e às suas famílias da maneira que pudermos. Também fazemos um apelo urgente por uma pausa nos combates em Gaza."
Em comunicado à imprensa, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, informou que o general Gal Hirsch, as Forças de Defesa de Israel (IDF) e as forças de segurança, receberam as duas reféns na fronteira com a Faixa de Gaza e as levaram a um ponto de encontro em uma base militar no centro de Israel, onde os familiares as aguardavam. "O governo de Israel, as IDF e todo o sistema de segurança continuarão a operar com o melhor das suas capacidades e esforços para localizar todos os desaparecidos e trazer todos os reféns para casa", diz a nota.
Por meio do WhatsApp, Ali Barakeh, chefe do Departamento de Relações Nacionais do Hamas, explicou ao Correio que a libertação das duas prisioneiras norte-americanas veio "após o conselho de amigos e aliados, da mediação do Catar, e por motivos humanitários". O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se disse "muito feliz" com o fato de que Judith e Natalie em breve se reunirão aos seus familiares, "que têm sido assolados pelo medo". "Desde os primeiros momentos deste ataque, temos trabalhado 24 horas por dia para libertar os cidadãos americanos que foram feitos reféns pelo Hamas e não cessamos os nossos esforços para garantir a libertação daqueles que ainda estão detidos. Agradeço ao governo do Catar e ao governo de Israel pela parceria neste trabalho", comentou. O presidente dos EUA conversou com Judith e Natalie por telefone. Natalie também falou com o pai, Uri Raanan, que vive em Bannockburn, no estado norte-americano de Illinois. As IDF informaram que "a maioria dos reféns" estão vivos —30 deles são crianças e jovens, e 10 a 20, idosos.
A primeira libertação de sequestrados pelo Hamas trouxe alguma esperança aos familiares dos outros reféns. Irmã de Tamar Gutman, israelense de 27 anos capturada em 7 de outubro durante a rave perto do kibbutz Re'im, Adva Gutman Tirosh, 38, considera "incrível" que mãe e filha tenham sido libertadas. "Estou muito feliz por elas e por sua família. É incrível! Acredito que a pressão internacional sobre o Hamas esteja funcionando. Precisamos continuar com essa pressão", afirmou ao Correio, por telefone. Ela descarta que os terroristas tenham libertado Judith e Natalie por motivos humanitários. "O Hamas não soltou os bebês, nem os idosos. Eles libertaram duas jovens mulheres de cidadania norte-americana", acrescentou. Tamar sofre de doença de Crohn, uma condição inflamatória do trato gastrointestinal que exige a aplicação diária de medicamentos, por meio de injeções.
Por sua vez, Moshe Emilio Lavi, morador de Nova York, aguarda o momento de reencontrar o cunhado Omri, depois que a irmã Lishy conseguiu fugir dos terroristas com os dois filhos pequenos, de 5 meses e de 2 anos. Os quatro tinham sido sequestrados no kibbutz de Nakhal Oz. "Esperamos que a libertação seja um bom sinal que trará nosso Omri para casa. Lemos tudo nos sites de notícias e percebemos que as duas são cidadãs norte-americanas", disse à reportagem.
Guerra
Também nesta sexta-feira (20), Israel sofreu ataques de foguetes de duas frentes, cometidos pelo Hamas e pelo Hezbollah: a partir da Faixa de Gaza contra o sul e o centro do território; e do sul do Líbano contra a Alta Galileia, ao norte. Os 20 mil moradores da cidade de Kiryat Shmona, junto à fronteira israelo-libanesa, tiveram que ser retirados às pressas. Até o fechamento desta edição, os bombardeios das IDF em Gaza deixaram 4.137 mortos, de acordo com o Ministério da Saúde palestino. No atentado de 7 de outubro, o Hamas matou 1,4 mil pessoas em kibbutzim e em cidades da região.
Na Faixa de Gaza, bairros inteiros foram destruídos pelos bombardeios e seus habitantes sobrevivem em meio a uma escassez de água, alimentos e combustível. A Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou que os 20 caminhões com ajuda humanitária enviados pelo Egito entrarão na Faixa de Gaza neste sábado (21) ou depois. Além deles, 15 caminhões com medicamento, comida e água aguardam próximo à passagem de Rafah, o único ponto de entrada para Gaza que não é controlado por Israel. Mais de 1 milhão de palestinos foram deslocados internamente no enclave, cuja população chega a 2,3 milhões. As Forças de Defesa de Israel agilizam os preparativos para uma ofensiva terrestre.
EU ACHO...
"Eles as soltaram e o mundo se calará. Não podemos nos calar até que libertem todos! O que o mundo está fazendo tem funcionado. Mas, por favor, continuem a nos ajudar. A pressão funciona. Depois de os americanos e os europeus serem soltos, é preciso que Israel a mantenha."
Adva Gutman Tirosh, 38, irmã da refém Tamar Gutman, 27
"Essa iniciativa humanitária é um presente para o povo dos Estados Unidos, para que eles saibam que o Hamas não é terrorista, mas um movimento de libertação nacional. Combatemos as forças de ocupação sionistas, em defesa de nossa terra, nosso povo e nossas santidades."
Ali Barakeh, chefe do Departamento de Relações Nacionais do Hamas
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