ÁFRICA

Crise no Mali: violência explode após ataque de rebeldes contra Exército

País vive u m acirramento do conflito com rebeldes tuaregues, jihadistas islâmicos, Exército e até mercenários russos do grupo Wagner. Neste domingo, grupos eparatistas afirmaram que conseguiram tomar uma cidade no norte do país.

Um acordo de paz de 2015 com os separatistas tuaregues fracassou -  (crédito: AFP)
Um acordo de paz de 2015 com os separatistas tuaregues fracassou - (crédito: AFP)
BBC
Chris Ewokor - BBC News
postado em 01/10/2023 19:23 / atualizado em 02/10/2023 10:33

Violentos conflitos eclodiram no norte do Mali nos últimos dias. Neste domingo (01/10) rebeldes tuaregues afirmaram terem tomado o controle da cidade de Bamba das mãos do exército do país.

Segundo o grupo separatista, 80 soldados foram assassinados por tuaregues no centro do Mali.

O governo confirmou que uma base militar na região de Mopti foi alvo de ataque na quinta-feira, mas não deu detalhes.

O recrudescimento da violência no Mali ocorre em um momento em que as forças de manutenção da paz da ONU, destacadas para o país africano em 2013, estão se retirando da região.

O ataque de quinta-feira à cidade de Dioura é o ponto de conflito mais ao sul desde que os rebeldes tuaregues retomaram o conflito em agosto, após o colapso de um acordo de paz de 2015.

Isto coincidiu com a crescente violência por parte de grupos militantes islâmicos, apesar da presença, iniciada em dezembro de 2021, de mercenários russos do Grupo Wagner.

O Exército já tinha sido alvo de ataques em Bamba por jihadistas ligados à Al-Qaeda, no início de setembro.

Em uma publicação nas redes sociais, os militares afirmaram que os confrontos em Bamba começaram às 6h (horário local) deste domingo. O Exército descreveu os conflitos como “intensos”. Porém, não nomeou os grupos envolvidos, apenas os descreveu como “terroristas”.

Uma aliança de grupos tuaregues, incluindo a Coordenação dos Movimentos Azawad (CMA), disse em um comunicado que tinha assumido o controle da área em torno de Bamba, uma cidade na margem esquerda do rio Níger, entre as cidades de Timbuktu e Gao.

Os rebeldes tuaregues, que querem a independência do norte do Mali, opõem-se ao controle do Exército das bases desocupadas pelos milhares de soldados da ONU que estão deixando a região.

Os rebeldes já foram aliados dos grupos extremistas islâmicos que tomaram o norte do Mali em 2012 – uma medida que levou a França e depois a ONU a intervir para impedir que avançassem para a capital, Bamako, no sul do país.

Os grupos tuaregues assinaram um acordo de paz com o governo em Argel, capital da Argélia, em 2015. Mas os jihadistas persistiram com ataques a partir das suas bases no deserto.

Essa insurgência contínua foi a principal razão pela qual os militares do Mali tomaram o poder em 2020, acusando o governo civil de não garantir a segurança do país.

O governo militar prometeu pôr fim aos ataques insurgentes, pedindo à França que retirasse as suas forças. Então, o governo contratou combatentes mercenários do grupo Wagner para atuar na segurança.

No entanto, a violência contra civis aumentou 38% no Mali neste ano, de acordo com o projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (Acled).

A entidade afirmou que um grupo ligado à Al-Qaeda foi responsável por 33% dos ataques, mas também culpou os militares e o grupo Wagner pelo aumento da violência, responsável por 29% dos ataques, à medida que eles deslocam para territórios que estão em grande parte fora do controle do Estado há mais de uma década.

Parte destas operações, diz a Acled, acabam vitimando civis de várias comunidades. Militares e mercenários Wagner costumam afirmar que as vítimas são apoiadores de grupos opositores e rebeldes.

A Acled diz que o grupo Wagner usa táticas violentas para incutir um medo “nunca antes visto no Mali”, incluindo "tortura, execuções sumárias, decapitações, expulsão de prisioneiros de aeronaves e armadilhas explosivas de cadáveres".

A entidade alerta que o renascimento da rebelião tuaregue e a crescente insurgência jihadista representam ameaças à estabilidade e segurança das áreas civis em todo o Mali.

A ONU deverá concluir a sua retirada do Mali até ao final de dezembro.

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