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Hepatite C e tatuagens: quais são os riscos e como evitá-los?

Estudos mostram que tatuagens feitas em ambientes não profissionais, como prisões, apresentam risco aumentado de hepatite C

Muita gente viaja para o exterior para fazer tatuagens, piercings e cirurgias cosméticas. Outros não pesquisam o suficiente quando optam por estabelecimentos pouco confiáveis nas cidades onde vivem. Qualquer procedimento, não importa onde for realizado, pode trazer risco de lesões e infecções.

Quem se desloca para o exterior para procedimentos cosméticos deve ter cautela – estudos recentes, por exemplo, sugerem que milhares de moradores do Reino Unido podem ter contraído hepatite C desta forma, sem saber.

Estima-se que mais de 170 milhões de pessoas em todo o mundo tenham hepatite C. A cada ano, aproximadamente um milhão de novas infecções ocorrem.

Na Inglaterra, mais de 70 mil pessoas tinham hepatite C em 2022 e muitas outras podem estar infectadas sem saber, já que os sintomas da hepatite C podem levar anos para aparecer.

No Brasil, segundo o ministério da Saúde, estima-se que 520 mil pessoas tenham hepatite C, mas ainda sem diagnóstico e tratamento. Até 2022, segundo a pasta, 150 mil pacientes haviam sido curados da doença.

A hepatite C pode evoluir para uma doença hepática grave e fatal se não for diagnosticada. Quando detectada precocemente, no entanto, o tratamento tem eficácia acima de 95% — o que mostra a importância do diagnóstico precoce.

O que é Hepatite C

A hepatite C é causada por um vírus que afeta o fígado. O vírus é transmitido através do contato com sangue infectado.

A transmissão ocorre principalmente pelo contato com utensílios contaminados, como agulhas para uso recreativo de drogas ilícitas. Em casos raros, a hepatite C também pode ser transmitida através de relações sexuais ou da mãe infectada para o bebê durante o parto.

Cerca de 80% das pessoas que contraem hepatite C não apresentam qualquer sintoma. Os 20% restantes experimentam uma doença de curta duração, semelhante à gripe – com sintomas variados que podem incluir febre, dores de cabeça e musculares, fadiga, vômito, diarreia e icterícia.

Os sintomas podem ocorrer de duas a 12 semanas após a infecção do vírus. Quem tem sintomas muitas vezes não percebe a gravidade da doença.

Algumas pessoas conseguem eliminar o vírus sem tratamento. Mas até 85% das pessoas infectadas desenvolvem hepatite crônica – quando o vírus permanece no corpo.

Estas pessoas podem não apresentar sinais de doença durante anos e muitas vezes não a notam até que apareçam danos mais graves – o que pode levar décadas.

A hepatite C ainda tem tratamento na forma crônica, embora os tratamentos tenham resultados melhores quanto aplicados mais cedo.

Se ficar anos sem tratamento, a hepatite C crônica causa doença hepática grave.

Os sintomas são icterícia, abdômen e pernas inchados, sangramento ou surgimento de hematomas com facilidade, coceira intensa, perda de apetite e náusea.

A cirrose decorrente da doença também pode causar danos ao cérebro e ao sistema nervoso devido ao acúmulo de toxinas que o fígado normalmente remove. Isso pode causar problemas de concentração e memória.

Estima-se que uma em cada cinco pessoas com hepatite C crônica desenvolva um câncer grave de fígado chamado carcinoma hepatocelular. Este é o segundo câncer mais mortal a nível mundial, com uma taxa de sobrevivência de cinco anos de apenas 10%-20%.

Idade, consumo excessivo de álcool, outras infecções (como o HIV) e a cepa do vírus da hepatite C com a qual você está infectado podem aumentar o risco de desenvolver carcinoma hepatocelular.

Riscos de procedimentos médicos ou cosméticos

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Estudos mostram que tatuagens feitas em ambientes não profissionais, como prisões, apresentam risco aumentado de hepatite C

Se os procedimentos de esterilização forem adequados, as chances de contrair qualquer infecção são extremamente baixas.

Mas se instrumentos cirúrgicos foram usados em alguém com hepatite C e não foram devidamente esterilizados, você provavelmente irá contrair a doença. A esterilização inadequada também acarreta risco de outras doenças, como HIV e hepatite B.

Vários estudos relataram que tatuagens feitas em ambientes não profissionais, como as feitas em prisões, apresentam um risco aumentado de hepatite C devido à esterilização inadequada.

Mesmo tatuagens feitas em estúdios profissionais podem representar um risco aumentado se agulhas reutilizáveis não forem esterilizadas adequadamente entre os clientes.

Para piercings, os dados são menos claros.

Muitos estudos não demonstraram aumento do risco de hepatite C devido aos piercings – mas estes estudos não perguntaram aos participantes se eles tinham feito o piercing em um estúdio profissional ou em casa. No entanto, foram relatados casos de hepatite C contraída por meio de um piercing, bem como pela troca de joias de piercing com uma pessoa infectada – por isso é importante ter cuidado.

Embora os dados sejam limitados, este risco é provavelmente o mesmo para procedimentos cosméticos e dentários.

Se forem implementadas práticas adequadas de esterilização e você for a um cirurgião ou dentista credenciado, o risco de contrair hepatite C é muito baixo.

Certos países têm incidências mais elevadas de hepatite C – como Egipto, Mali, Malásia, Itália, Tailândia e Ilhas Maurício. Certas cepas do vírus da hepatite C também podem ser mais prevalentes em determinados locais.

Por exemplo, a cepa dominante da hepatite C na Nigéria tem uma taxa de sucesso do tratamento de 94-99%.

Mas, na Tailândia, a estirpe dominante está associada à rápida progressão da doença hepática crônica e a piores resultados do tratamento.

Vale a pena ficar ainda mais atento se você planeja realizar algum procedimento ao visitar esses locais.

Como evitar?

Se realizar algum tipo de procedimento médico, odontológico ou cosmético, pergunte sobre o processo de descontaminação ou esterilização dos utensílios e a licença da empresa para garantir que ela esteja registrada.

Outros procedimentos médicos, como botox ou preenchimentos, são regulamentados de forma menos rígida. Com qualquer injetável, o ideal é que isso seja feito por um profissional médico – como uma enfermeira ou um dentista.

Se você estiver realizando um procedimento e não tiver certeza se os produtos são seguros, peça para ver antes de desembalar. As agulhas estéreis de uso único são sempre lacradas em um pacote.

Falta de higiene também pode transmitir a hepatite C, por isso verifique boas práticas como lavar as mãos e mudar de luvas entre clientes. Em caso de dúvida, não realize o procedimento.

* Grace C Roberts é pesquisadora em virologia na Universidade de Leeds, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.

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