Dezenas de organizações de ativistas indígenas travaram esta semana, em Nova York, uma nova batalha para proibir a exploração de combustíveis fósseis na Amazônia, como parte de uma tentativa global de aprovar um tratado internacional para proibir o petróleo e o gás, principais causadores do aquecimento global.
"Para os povos indígenas, a Amazônia é tudo, é a vida deles. Ela não apenas protege os indígenas, mas também o planeta", justificou a ativista indígena peruana Olivia Bisa, que lamentou que nenhum tratado contenha "regras para acabar com a exploração" de hidrocarbonetos e a mineração.
Além disso, é uma "grande mentira" que as empresas petrolíferas tragam desenvolvimento para as comunidades. "Nos 50 anos em que atuaram no Peru, não construíram uma única escola ou centro de saúde", disse ela à AFP.
Os vazamentos de petróleo, com a consequente contaminação de rios, alimentos e perda de biodiversidade, além do desmatamento, afetam diretamente grande parte dos 50 milhões de habitantes dessa região compartilhada por nove países, ainda mais crítica à medida que o mundo enfrenta uma crise climática sem precedentes.
"Não somos um obstáculo, queremos desenvolvimento, mas alternativas que não impactem o ecossistema do planeta", explicou Bisa à AFP, rejeitando a ideia de que proibir os hidrocarbonetos seja "um capricho dos povos indígenas". Isso diz respeito a todos, até mesmo aos "poderes que os financiam".
De acordo com a organização Oxfam, nos últimos 24 anos, foram registrados cerca de 600 vazamentos apenas na Amazônia peruana. O mau estado dos dutos e falhas na infraestrutura petrolífera são as principais causas, juntamente com sabotagens.
Localizadas principalmente na Amazônia andina (Bolívia, Colômbia, Peru, Equador), 43% das explorações estão em áreas protegidas e territórios indígenas, de acordo com dados da Rede Amazônica de Informação Socioambiental (Rasig).
- 'Círculo vicioso' -
Sobrecarregados pelo peso da dívida - muitas economias latino-americanas já pagam mais em juros do que destinam à educação, saúde, segurança ou adaptação climática -, os países da região sofrem de um "círculo vicioso sem fim", lembra a economista boliviana Carola Mejía, da Rede Latino-Americana pela Justiça Econômica e Social (Latindadd).
"Altas dívidas geram maior pressão sobre os governos para investir em indústrias extrativistas", levando muitos a autorizar a exploração em áreas protegidas, disse a economista em um seminário chamado "Salvaguardar a Amazônia: um apelo por uma Zona de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis", realizado à margem da Assembleia Geral da ONU.
Em um referendo histórico realizado em agosto, os equatorianos decidiram interromper a exploração de um campo petrolífero na grande reserva de Yasuní. Embora seja apenas uma gota no oceano de exploração nesta área protegida, muitos veem a iniciativa como um exemplo a ser seguido.
Um entusiasmo rapidamente diminuído pelos planos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que pretende investir 335 bilhões de reais no setor de petróleo e gás nos próximos anos, apesar de ter lançado uma mensagem a favor da proteção da Amazônia.
"Transição energética não é mudança energética", disse o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, à AFP nesta semana, explicando o que muitos percebem como uma "contradição" da política brasileira.
Mas para revitalizar as "esponjas do Sul", é necessário "apagar as grandes chaminés do Norte", lembrou o presidente colombiano, Gustavo Petro, na Cúpula de Ambição Climática convocada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.
Na ONU, muitas vozes destacaram a necessidade de uma nova arquitetura financeira e de que os países do Norte cumpram suas promessas de injetar fundos para ajudar o Sul global na transição energética.
Na cúpula regional amazônica convocada em agosto por Lula, os países da região pediram às nações industrializadas "200 bilhões de dólares [R$ 984 bilhões] por ano até 2030" para a conservação da biodiversidade.
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