Cáucaso

Azerbaijão ataca região separatista; morador relata drama ao Correio

Forças azerbaijanas lançam "operação antiterror" em Nagorno-Karabakh, enclave de maioria étnica armênia. Pelo menos 27 pessoas morrem. Embaixadores do Azerbaijão e da Armênia falam ao Correio

Cerca de uma hora antes de falar ao Correio, por volta de 0h20 de hoje (17h20 de ontem em Brasília), Artak Beglaryan estava refugiado em um porão de Stepanakert, capital de Nagorno-Karabakh, um enclave de maioria étnica armênia no território do Azerbaijão, no Cáucaso. Ex-ministro e ex-ombudsman dos direitos humanos, ele relatou que a região começou a ser alvo de bombardeios às 13h (6h em Brasília), quando as forças do Azerbaijão lançaram o que qualificaram de uma "operação antiterrorista". "Chegamos a ouvir mais de 100 explosões por hora. A situação aqui é horrível. Oficialmente, 27 pessoas morreram, incluindo duas crianças, e mais de 200 feridos — 29 civis, dos quais dez são crianças", afirmou, por telefone.

De acordo com Beglaryan, as forças azerbaijanas utilizam artilharia pesada, sistema de foguetes, aviões, drones suicidas, tanques e soldados. "Não temos suprimentos humanitários. Estamos exaustos. O transporte público inexiste, a escassez de alimentos é alta e muitas famílias passam fome. Isso faz com que o índice de desnutrição seja bastante alto", comentou. "A eletricidade também foi cortada e o fornecimento de gás, afetado. Eles bombardearam a rede elétrica. Temos carregado nossos celulares em poucos prédios que dispõem de gerador. Milhares de moradores foram retirados às pressas de seus vilarejos com medo dos ataques."

O governo do presidente azerbaijano, Ilham Aliyev, impôs condições para um diálogo com os armênios de Nagorno-Karabakh: os grupos armados ilegais da Armênia devem "levantar bandeira branca, depor todas armas e o regime ilegal se dissolver". Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, classificou como "inaceitáveis" as ações militares do Azerbaijão e alertou sobre o risco de deterioração da situação humanitária em Nagorno-Karabakh. "Nós apelamos pelo fim imediato das hostilidades e pelo diálogo direto", afirmou.

Embaixadores

Em entrevista ao Correio, Rashad Novruz, embaixador do Azerbaijão no Brasil, disse que reiteradas vezes o seu país declarou que a presença continuada de forças armadas da Armênia em Nagorno-Karabakh é "uma ameaça grave à paz e à estabilidade regional". "Estávamos dizendo e exigindo isso de forma diplomática e de boa vontade durante quase três anos. A presença de 10 mil militares da Armênia dentro de Karabakh é algo que nenhum país do mundo toleraria", comentou. Segundo ele, três anos se passaram desde que a Armênia se comprometeu a retirar as tropas. "Nunca o fez e até reforçou seu exército ali."

Por sua vez, Armen Yeganian — embaixador da Armênia em Brasília desde 3 de abril passado — afirmou ao Correio que o Azerbaijão lançou "outra agressão em larga escala contra o povo de Nagorno-Karabakh, com o objetivo de completar sua política de limpeza étnica". "Guiado pelo senso de impunidade, o Azerbaijão abertamente assumiu a responsabilidade pela agressão. O Ministério da Defesa do Azerbaijão declarou que 'medidas antiterroristas' estão sendo lançadas na área de responsabilidade do contingente de manutenção da paz russo em Nagorno-Karabakh", denunciou. "Nós fortemente condenamos a agressão e os crimes de atrocidade em massa que são a continuação em larga escala da força desencadeada pelo Azerbaijão contra Nagorno-Karabakh há exatos três anos, em setembro de 2020. Sob o pretexto de 'destruir objetos militares', o Azerbaijão está disparando contra assentamentos civis, contra Stepanakert e outras cidades e vilarejos", acrescentou Yeganian, ao garantir que não existem tropas de seu país em Nagorno-Karabakh.

O embaixador azerbaijano refuta a acusação de limpeza étnica. "Para que o genocídio ocorra, deve existir um registro legalmente comprovado de extermínio proposital ou de limpeza étnica, por meio de um conjunto específico de ações deliberadas e agressivas. O governo do Azerbaijão sempre manteve abertos os canais para negociar, direta ou indiretamente, com a comunidade de Karabakh", assegurou Novruz. 

Vozes dos diplomatas

Arquivo pessoal - Armen Yeganian, embaixador da Armênia em Brasília

"Como o nosso primeiro-ministro declarou, o principal propósito dessa operação é o de envolver a Armênia nas hostilidades. Não estamos envolvidos nelas e não existe um Exército da República da Armênia em Nagorno-Karabakh. A região tem seu Exército de Defesa de Nagorno-Karabakh, cujo objetivo é defender os 120 mil habitantes."

Armen Yeganian, embaixador da Armênia em Brasília

 

Arquivo pessoal - Rashad Novruz, embaixador do Azerbaijão em Brasília

"Nossa principal demanda é, e continuará sendo, um desarmamento imediato e total das forças militares da Armênia e sua retirada da região. Até que essa demanda seja atendida, as Forças Armadas do Azerbaijão manterão operações antiterror localizadas com precisão cirúrgica, dentro de nosso território."

Rashad Novruz, embaixador do Azerbaijão em Brasília

 

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Arquivo pessoal - Armen Yeganian, embaixador da Armênia em Brasília
Arquivo pessoal - Rashad Novruz, embaixador do Azerbaijão em Brasília