FIM DA CAÇADA

Detetives amadores e caçadores de recompensa: os 'penetras' que buscaram brasileiro e irritaram polícia

Polícia chegou a demonstrar irritação com envolvimento desses civis ao longo da caçada, que chegou ao fim nesta quarta-feira, com a captura do brasileiro

Polícia Estadual da Pensilvânia
Segundo polícia, Cavalcante roubou arma; ele ficou foragido por duas semanas

As buscas pelo brasileiro Danilo Cavalcante, de 34 anos, condenado à prisão perpétua pelo assassinato da ex-namorada nos Estados Unidos, e foragido há 14 dias, mobilizaram não só as autoridades, mas detetives amadores a caçadores de recompensa, passando por influenciadores.

Mas a polícia chegou a demonstrar irritação com o envolvimento de civis ao longo da caçada, que chegou ao fim nesta quarta-feira (13/9).

Cavalcante foi capturado pela manhã e levado sob custódia vivo por volta das 8h20 (9h20 de Brasília).

A captura "acaba com o pesadelo das últimas duas semanas", disseram os três comissários do condado de Chester em comunicado conjunto.

Também afirmaram que o foco agora será evitar outra fuga da prisão.

Na coletiva de imprensa sobre a prisão nesta quarta-feira, o tenente-coronel George Bivens, da Polícia Estadual da Pensilvânia, pediu para que civis não se envolvam em "caçadas" envolvendo fugitivos no futuro, pois elas podem se machucar e atraplhar a busca oficial.

A fuga de Cavalcante havia inflamado grupos civis armados que tentavam encontrá-lo.

Na segunda-feira (11/9), também em entrevista a jornalistas, Bivens já havia criticado qualquer forma de vigilantismo ou envolvimento de detetives amadores, dizendo que os cidadãos que participavam das buscas não tinham autoridade e poderiam enfrentar consequências legais.

"Eles não estão nos ajudando de forma alguma e, na verdade, tornam-se um obstáculo", disse Bivens.

"Alguns dos nossos recursos têm que ser desviados em momentos em que essas pessoas se inserem em nosso perímetro. Não ajuda, gostaria que não fizessem isso, pedi que não. Mas não posso impedi-los, em alguns casos, de fazer isso."

Foi o caso do americano Ryan Davis, que trabalha como especialista em laboratório elétrico para uma empresa aeroespacial do estado americano da Virgínia.

Em entrevista ao jornal The Philadelphia Inquirer, ele insistiu que não é um vigilante. "É mais uma busca e resgate", disse Davis.

Apesar disso, ele carregava uma arma de fogo e ficou sentado por horas no estacionamento no norte do Condado de Chester, no domingo (10/9), operando um drone para vasculhar os milharais e os matagais, segundo o jornal.

"Não pretendo atirar em ninguém — você pode pegar a pessoa totalmente errada. A ideia de ter uma arma é garantir a segurança de você e das pessoas ao seu redor", disse ele ao Philadelphia Inquirer.

Uma recompensa de US$ 25 mil (cerca de R$ 125 mil) por informações que levassem a polícia à prisão de Cavalcante também fomentou a participação dos chamados "caçadores de recompensas", civis que tentam capturar criminosos fugitivos para receber recompensas financeiras.

E também há aqueles que se aproveitaram da megaoperação policial para fazer conteúdo para as redes sociais.

Em entrevista ao Philadelphia Inquirer, Chuck Walcott, um homem de 46 anos, contou que viajou de carro da cidade de West Sadsbury Township para fazer imagens para um pequeno grupo de "youtubers de crimes reais", podcasters e jornalistas autoproclamados independentes.

No X, anteriormente conhecido como Twitter, um repórter da afiliada local da emissora Fox News postou um vídeo na terça-feira (12/9) de moradores fortemente armados.

Segundo ele, eles estavam prontos se Cavalcante "aparecesse na porta deles".

Na segunda-feira (11/9), a polícia estadual da Pensilvânia afirmou que Cavalcante roubou uma espingarda calibre 22 de um morador — este disparou sete vezes contra o brasileiro, mas ele não ficou ferido.

Também recomendou a moradores que trancassem "portas e janelas" e não saíssem de casa.

No fim de semana, Cavalcante foi flagrado por uma câmera de campainha com uma nova aparência, sem barba e bigode.

A caçada ao brasileiro envolveu mais de 500 agentes municipais, estaduais e federais, além de helicópteros e drones. Cães farejadores e cavalos também foram usados.

Segundo as autoridades, a demora em sua captura se deveu a uma combinação de fatores, principalmente à complexidade do terreno.

Cavalcante, que foi condenado pelo assassinato de sua ex-namorada, Débora Brandão, em 2021, na frente dos filhos dela, escapou da prisão do condado de Chester, em West Chester, no Estado americano da Pensilvânia, na manhã do dia 31 de agosto.

Prisão do Condado de Chester
Danilo Cavalcante foi condenado por matar ex-namorada com 38 facadas

Ele escalou paredes separadas por um corredor de 1,5 metro de largura (veja vídeo abaixo). Sua fuga viralizou nas redes sociais e virou notícia ao redor do mundo.

Cavalcante foi visto diversas vezes desde então, por testemunhas e por câmeras de vigilância.

Gabinete do Procuradora Distrital do Condado de Chester
Débora Brandão tinha dois filhos e foi morta por Cavalcante

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