Em 11 de setembro de 1973, terça-feira, Pedro Felipe Ramírez, ministro da Habitação do então presidente chileno, Salvador Allende, despertou às 6h. Recebeu a notícia de que havia um movimento dos militares em Santiago do Chile. "Eu e dois amigos que moravam em minha casa tentamos ir diretamente para o Palácio de La Moneda. Esperamos um pouco, até umas 8h. Em um momento determinado, seguimos por uma direção que não parecia mais segura. Decidimos, então, nos dirigir a uma fábrica, no setor industrial, chamada Fensa. Era uma indústria de artigos metálicos", contou ao Correio. "Ali tínhamos contato com dirigentes sindicais. O meu partido Izquierda Cristiana ('Esquerda Cristã') havia acordado de nos reunirmos ali se houvesse uma emergência. Éramos cerca de 200 companheiros tratando de nos conectar com os nossos dirigentes de partidos da Unidad Popular para ver que açes tomaríamos em conjunto".
Impossibilitados de fazer o contato, o ministro e os companheiros de partido permaneceram na Fensa à espera dos acontecimentos. "De lá vimos o bombardeio ao La Moneda e escutamos o último discurso do presidente. Pela televisão, vimos quando o tiraram o presidente, morto, do La Moneda", lembrou Ramírez, hoje com 82 anos. "Então, nos demos conta de que nada havia a ser feito. Havia um toque de recolher às 18h. Então, instruímos todos os companheiros a que cada um tomasse medidas de segurança pessoais e mantivesse contato com os outros para passar instruções".
Depois, Ramírez se encontrou com um companheiro que tinha lhe oferecido a própria casa para que ele evitasse a prisão. "Ele sabia que no meu lar eu não estaria seguro", disse o ministro. Ramírez percebeu que a família do companheiro estava muito nervosa com sua presença. Durante um mês, ele vagou pelas casas de amigos e de familiares. "Eu não queria me exilar. Queria ficar em meu país. Infelizmente, em outubro fui preso. A partir disso, começou um processo totalmente distinto", relatou. Pedro Felipe Ramírez sofreu vários tipos de tortura. "A tortura física incluía a aplicação de eletricidade em várias partes do corpo. Mas, também, golpes e a colocação de venda nos olhos durante uma semana. Os militares também nos deixavam várias horas de pé, sem que pudéssemos sentar ou nos apoiar em algo. Eu caía e desmaiava quase o tempo todo. Também me acordavam aos chutes".
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