Em 30 de março passado, Bolívar Vera — vereador da cidade de Durán (410km ao sul de Quito) — escreveu nas redes sociais: "A segurança do Equador piora cada dia mais, e as autoridades competentes não dão soluções, apenas justificativas banais". Cinco meses e nove dias depois, o corpo de Bolívar foi encontrado, nesta sexta-feira (8/9), com as mãos amarradas e ensanguentado em um bosque da província de Guayas. Para autoridades equatorianas, Vera foi vítima do narcotráfico.
A execução de Vera ocorre 30 dias após o assassinato de Fernando Villavicencio, candidato a presidente do Equador. Durante entrevista em maio, o vereador de Durán disse que não andava com segurança. "Tenho a proteção de Deus", afirmou. Em 15 de outubro, o país volta às urnas para o segundo turno das eleições presidenciais entre a correísta Luisa González e o direitista Daniel Noboa. A morte de Vera, membro do Partido Social Cristão (PSC, de direita), agrava a tensão e a sensação de insegurança.
Eleito vereador para o mandato de 2023 a 2027, Vera foi sequestrado na quinta-feira (7/9). O governo local acionou a polícia para que descobrisse seu paradeiro. Jornalistas da agência France-Presse registraram o momento em que policiais e membros do Ministério Público removiam o corpo do político de um bosque próximo a uma estrada ao norte de Guayaquil, entre as cidades de Daule e Salitre. No local, familiares de Vera foram fotografados aos prantos.
A Missão de Observação Eleitoral (MOE) da Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgou nota em que "condena energicamente o assassinato do vereador Bolívar Vera e repudia, com firmeza, qualquer ato de violência política que coloque em perigo a segurança dos cidadãos e o processo eleitoral em curso". "A perda de uma vida humana é um doloroso lembrete da crucial importância de preservar a paz e a estabilidade em uma sociedade democrática", destacou. A MOE lembrou que González e Noboa tiveram que recorrer ao uso de coletes à prova de bala durante a campanha eleitoral, o que "limita sua capacidade de movimento e a expressão em espaços públicos". "A Missão reitera sua preocupação com o alarmante clima de violência que tem ofuscado a campanha eleitoral no Equador."
O PSC informou que os social-cristãos do Equador condenam o assassinato de Cristian Bolívar Vera Peralta. "Esse ato repreensível evidencia, uma vez mais, o desamparo em que vivem todos os cidadãos e a indiferença do governo nacional ante o primeiro dever que tem com os mandatários: garantir-lhes a paz e a segurança. Paz na tumba de Bolívar", diz nota assinada por Alfredo Serrano Valladares, presidente nacional do partido.
Cobrança
"O Governo Municipal de Durán expressa suas mais sinceras condolências aos familiares e amigos do vereador Bolívar Vera (...) diante desta grande perda", reagiu a prefeitura, por meio da rede social X. O Correio solicitou uma entrevista com o prefeito Luis Chonillo, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. Chonillo escreveu uma carta pública endereçada ao presidente Guillermo Lasso. "Apesar de nossas contínuas advertências e chamados desesperados ante ameaças, o vereador Bolívar Vera foi sequestrado e assassinado em plena luz do dia. (...) Exigimos ações radicais. Durán não aguenta mais!", cobrou.
Ele lembrou que, desde o início do estado de exceção, em 24 de julho, houve mais de 30 execuções na região. Entre as vítimas está o diretor de planejamento do município, Miguel Santos. "Quantas mortes o senhor presidente precisa para ouvir nossos insistentes apelos?", questionou Chonillo, que decretou três dias de luto.
Amigo de Villavicencio e testemunha da execução do presidenciável, Christian Zurita — jornalista que disputou o primeiro turno das eleições, no lugar do colega — afirmou ao Correio que "o governo de Guillermo Lasso e seu sistema de segurança entraram em colapso em sua missão de combater o crime organizado". "O trabalho de inteligência não é suficiente para enfrentar as decisões dos grupos do crime organizado, os quais se fortalecem nas províncias costeiras", explicou. Até o fechamento desta edição, o presidente Lasso não tinha se pronunciado. Os dois candidatos à Presidência do Equador também permaneciam em silêncio sobre o caso.
Morador de Durán, o tecnólogo em marketing Gerardo Toledo, 27 anos, admitiu à reportagem que a cidade nunca viveu uma situação similar. "Temos muito medo ao vermos o que ocorre com as autoridades. O temor existe, e isso se reflete nas ruas vazias. Ante tanta insegurança, é difícil saber os motivos que levaram à execução de Vera. Estamos abandonados. A única coisa que temos recebido são mais mortes violentas e desinteresse do Executivo", criticou.
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