"Nós nunca perdoaremos os invasores russos, e jamais esqueceremos disso!" O desabafo ao Correio, por meio do WhatsApp, é de Oleksiy Roslov, 41 anos, prefeito de Kostyantynivka desde 1º de abril de 2022. Às 14h desta quarta-feira (6/9) (8h em Brasília), um bombardeio atribuído à Rússia contra um mercado, na área central da cidade situada na região de Donetsk (leste da Ucrânia), deixou pelo menos 17 mortos, incluindo uma criança, e 49 feridos. O ataque coincidiu com a visita do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, a Kiev, onde se reuniu com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky; com o premiê, Denys Shmyhal; e com o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba. O chefe da diplomacia dos Estados Unidos elogiou a contraofensiva da ex-república soviética e anunciou nova ajuda para dar um "impulso" às tropas que combatem as forças de Vladimir Putin. "Os Estados Unidos se comprometeram a dar à Ucrânia os meios para escrever seu futuro por si própria. No dia de hoje, anunciamos uma nova ajuda de mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 4,98 bilhões)", declarou Blinken.
O prefeito de Kostyantynivka contou que a população está de luto. "Foi um assassinato em massa", disse Roslov. Antes da invasão russa, Kostyantynivka tinha 73 mil habitantes — 31 mil pessoas partiram em fuga e, hoje, restam 42 mil. A 40km dali, a cidade vizinha de Kramatorsk experimentou o horror em 8 de abril de 2022, quando um míssil atingiu uma estação ferroviária, matando 63 civis, entre eles, nove crianças. "Os ocupantes alvejaram um dos mercados, no coração da cidade, além de farmárcias, lojas... Eles escolheram a população pacífica como alvo", lamentou Roslov.
Luto
De acordo com o prefeito de Kostyantynivka, o bombardeio destruiu 20 estabelecimentos comerciais, linhas de energia elétrica, um prédio administrativo e o quinto andar de um edifício residencial. "Carros e oito lojas foram carbonizados. O escritório do promotor abriu investigações criminais, sob o Artigo 438 do Código Penal da Ucrânia, relacionado à violação das leis e costumes de guerra", disse Roslov. "A situação agora está sob controle, mas nossa cidade está de luto", desabafou. "Apesar de fato de que a população está ciente de que está protegida pela linha de demarcação, ninguém esperava esse ataque terrorista. Nunca houve instalações militares neste local, somente civis!"
Na rede social X, o antigo Twitter, o presidente Zelensky divulgou imagens de um câmera de segurança que registrou o ataque aéreo. No vídeo, é possível escutar o som de uma explosão ao longe. As pessoas caminham calmamente pela rua, até que ocorre uma grande explosão, seguida de pequenas detonações sucessivas. "Os terroristas russos atacaram um mercado comum, lojas e uma farmácia, matando gente inocente. (...) Qualquer pessoa no mundo que ainda esteja lidando com qualquer coisa da Rússia simplesmente ignora essa realidade. Mal hediondo. Maldade descarada. Total desumanidade. Minhas condolências a todos que perderam um ente querido. O mal russo deve ser derrotado o mais rapidamente possíve", escreveu Zelensky. Mais tarde, em uma entrevista coletiva, ele atribuiu o ataque à contraofensiva. "Sempre que há algum avanço positivo por parte das forças de defesa ucranianas nessa direção, os russos sempre têm como alvo pessoas civis e objetos civis", afirmou.
A Casa Branca qualificou o ataque a Kostyantynivka como "brutal". A porta-voz Karine Jean-Pierre declarou que o incidente "sublinha a importância de continuarmos apoiando o povo da Ucrânia, enquanto defendem seu território". A União Europeia usou os termos "hediondo" e "bárbaro" e acusou a Rússia de "continuar a aterrorizar a população civil ucraniana". Annalena Baerbock, ministra das Relações Exteriores da Alemanha, disse que "a guerra de agressão russa é um ataque ao direito internacional, à humanidade".
Pacote
Durante coletiva com Zelensky, o secretário de Estado norte-americano disse que o presidente Joe Biden pediu-lhe que fosse a Kiev para "reafirmar fortemente" o apoio dos EUA e garantiu que o governo do democrata vai "maximizar" os esforços feitos. "Podemos ver muito claramente os importantes progressos que estão sendo feitos atualmente na contraofensiva e são muito, muito encorajadores", acrescentou. Além do pacote de US$ 1 bilhão, o Pentágono informou que fornecerá à Ucrânia munição de urânio empobrecido — usada em tanques, é capaz e perfurar veículos blindados. No total, Washington forneceu à Ucrânia mais de US$ 40 bilhões (aproximadamente R$ 200 bilhões) em ajuda desde o começo da invasão russa.
O diplomata ucraniano Alexander Khara, analista do Centro de Estratégias de Defesa (em Kiev), disse que seu país "precisa de mais ajuda", porque luta contra uma potência nuclear. "A Rússia nos supera em termos de contingente militar e de equipamentos. Essa ajuda anunciada por Blinken inclui sistemas antiaéreos e antiblindagem, além de equipamentos antiminas de 155mm. "Esperamos que numerosos avanços táticos quantitativos resultem em sucesso operacional", admitiu ao Correio. "Não temos alternativa, se não o combate. Caso contrário, deixaremos de existir como Estado e nação. (...) Um cenário tão sombrio colocará em perigo o resto da Europa, porque o sucesso de Putin na Ucrânia irá encorajá-lo a ir mais longe."
EU ACHO...
"Mais uma vez, a Rússia realizou o terror contra uma cidade pacífica. O inimgo atacou, de forma impiedosa, a população civil de nossaKostyantynivka. A tragédia de hoje é uma dor irreparável para nossa comunidade inteira. Nós jamais perdoaremos os invasores russos!"
Oleksiy Roslov, prefeito de Kostyantynivka