INVESTIGAÇÃO

Polícia de Portugal investiga morte de surfista brasileiro em praia

Corpo do carioca Leno Prince, de 42 anos, foi encontrado na manhã de domingo depois de desaparecer quando praticava kitesurf no sábado à noite. Ele já havia sido vítima de xenofobia. Autópsia ajudará a explicar as causas da morte

Lisboa — O brasileiro Leno Prince, de 42 anos, foi encontrado morto, na manhã de domingo (3/8), depois de desaparecer na Praia no Gancho, em Cascais, quando praticava kitesurf. Surfista experiente, ele havia decidido aproveitar o sábado de sol para praticar o esporte. Foi à praia acompanhado da mulher, que o viu pela última vez por volta das 20h. Assustada com o sumiço repentino do marido, ela comunicou o fato à polícia. Imediatamente, começaram as buscas, que se seguiram até a 1h da manhã, sem sucesso.

No domingo, porém, o corpo do atleta foi localizado pelos bombeiros e pela Polícia Marítima a 15 quilômetros de distância de onde havia desaparecido, mais precisamente na Praia da Torre, em Oeiras, próximo a Lisboa. A notícia da morte do surfista, que, nos últimos tempos, vinha trabalhando como personal trainer em uma academia de alto padrão, provocou comoção entre familiares e amigos. Ele vivia em Portugal há tempos e era muito querido. Tinha duas filhas pequenas, as quais sempre fazia questão de ter por perto.

A polícia abriu investigação sobre o caso e aguarda o resultado da autópsia, que pode sair a qualquer momento, para determinar a causa da morte de Prince. Há indícios de que ele pode ter sofrido um mal súbito enquanto estava praticando o kitesurf, mas também não se descarta algum incidente que possa ter dificultado a mobilidade dele. O surfista, carioca, formado em educação física e um ótimo nadador, foi encontrado com um dos pés amarrados na prancha. O gosto pelas ondas, que ele descobriu ainda muito menino, o levou a morar no Havaí e na Indonésia.

Decepção com a Justiça

Prince não escondia o prazer de morar em Portugal, apesar de, em 2018, ter sido vítima de um ataque de xenofobia em Ericeira, uma das regiões praianas mais famosas do país. À época, ele contou ter sofrido violência física, a ponto de ter fraturado a mandíbula. Os socos e os chutes desferidos por um adolescente local foram acompanhados de insultos preconceituosos. Tudo por causa de um desentendimento em torno de uma onda. O brasileiro recorreu à Justiça, mas, somente neste ano, saiu a sentença e o agressor foi inocentado, “pois teria agido em legítima defesa”.

Em um post publicado à época da decisão judicial nas redes sociais e em entrevista ao jornal O Globo, o surfista não escondeu sua decepção. “Fui alvo de uma agressão física covarde que, infelizmente, está enraizada no preconceito de localismo, um problema prejudicial que afeta gravemente surfistas em todo o mundo”, escreveu. Ele ressaltou que não estava se posicionando publicamente para atribuir culpa, “mas para lançar luz sobre uma realidade oculta que muitas vezes é mantida em silêncio por medo de retaliação”.

O brasileiro ressaltou ainda, no mesmo post, acreditar firmemente que todos devem confrontrar tais situações, mesmo que isso signifique sair da zona de conforto. “Lamentavelmente, meus esforços para resolver essa situação de maneira civilizada não tiveram sucesso. Precisei acionar a Justiça portuguesa. Também sem sucesso após 4 anos de esforços e muitos custos financeiros”, destacou. E acrescentou: “Me restou apenas expor os fatos e experiência para ressaltar a importância crítica da empatia e do diálogo franco. Juntos, temos o poder de criar um ambiente seguro, inclusivo e respeitoso para todos os surfistas. Independentemente de sua origem”.