Reportagens veiculadas na imprensa americana sugerem que o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, planeja viajar à Rússia neste mês para se reunir com Vladimir Putin, presidente russo.
O último encontro entre os dois aconteceu em 2019.
Do que Kim Jong Un e Vladimir Putin devem tratar em possível encontro neste momento?
Segundo um funcionário do alto escalão dos Estados Unidos ouvido pela CBS, parceira americana da BBC, eles vão discutir a possibilidade de a Coreia do Norte fornecer armas à Rússia para apoiá-la em sua guerra na Ucrânia.
Não está claro onde as negociações seriam realizadas.
Moscou e Pyongyang não comentaram sobre o possível encontro.
O jornal americano New York Times publicou a avaliação de fontes de que o mais provável é que Kim viaje em um trem blindado.
O encontro acontece depois de a Casa Branca informar que obteve novas informações de que as negociações sobre armas entre os dois países estavam "avançando ativamente".
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse que o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, tentou "convencer Pyongyang a vender munição de artilharia" à Rússia durante uma recente visita à Coreia do Norte.
As armas expostas na reunião incluíam o Hwasong, um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês), considerado o primeiro do país a usar propulsores sólidos. Foi a primeira vez que Kim abriu as portas do país a visitantes estrangeiros desde a pandemia de covid-19.
Desde então, Putin e Kim trocaram cartas "comprometendo-se a aumentar a sua cooperação bilateral", disse Kirby.
"Pedimos à RPDC (Coreia do Norte) que cesse as negociações sobre armas com a Rússia e cumpra os compromissos públicos que Pyongyang assumiu de não fornecer ou vender armas à Rússia", acrescentou.
Kirby alertou que os EUA tomariam medidas, incluindo a imposição de sanções, se a Coreia do Norte fornecesse armas à Rússia.
Os dois líderes encontraram-se pela última vez em 2019, quando Kim viajou de trem a Vladivostok, no extremo leste da Rússia, e foi recebido com uma tradicional oferta de pão e sal por autoridades russas.
Foi também provavelmente a última vez que Kim viajou para o exterior.
Há preocupação tanto em Washington como em Seul sobre o que a Coreia do Norte receberia em troca de um acordo sobre armas, o que poderia resultar num aumento da cooperação militar entre Estados Unidos e Coreia do Sul.
Na segunda-feira, o serviço de inteligência sul-coreano informou que Shoigu tinha sugerido que a Rússia, a China e a Coreia do Norte realizassem exercícios navais conjuntos, semelhantes aos realizados pelos EUA, Coreia do Sul e Japão.
Outro receio é que a Rússia possa fornecer armas à Coreia do Norte no futuro, num momento em que Pyongyang mais precisa delas.
Mais preocupante ainda, Kim Jong Un poderá pedir a Putin que lhe forneça tecnologia ou conhecimento bélico avançado, para o ajudar a fazer avanços no seu programa de armas nucleares.
No entanto, um acordo pode acabar sendo mais transacional do que estratégico.
Por enquanto, a Rússia precisa de armas e a Coreia do Norte, faminta por sanções, precisa de dinheiro e comida.
O New York Times noticiou que o encontro entre Kim e Putin poderá acontecer novamente em Vladivostok. Edward Wong, correspondente do jornal, disse à BBC News que uma equipe de autoridades norte-coreanas do alto escalão viajou para Vladivostok e Moscou no final do mês passado.
O grupo "incluía agentes de segurança que lidam com o protocolo que envolve as viagens da autoridade, o que foi um forte sinal para as autoridades que analisam esta questão", disse Wong.
Pyongyang e Moscou já negaram anteriormente que a Coreia do Norte esteja fornecendo armas à Rússia para utilização na guerra na Ucrânia.
John Everard, que serviu como embaixador do Reino Unido na Coreia do Norte entre 2006 e 2008, disse à BBC que a publicidade em torno da possível visita era uma "forte razão pela qual é improvável que o encontro ocorra", já que Kim está "completamente paranoico com a sua segurança pessoal".
E embora a Coreia do Norte tenha arsenais de armas de que Moscou necessita, "eles estão em condições muito precárias", acrescentou.
Após o encontro em Vladivostok em 2019, Putin disse que Kim exigiria "garantias de segurança" para abandonar o seu programa nuclear.
Essa reunião ocorreu poucos meses depois de uma cúpula no Vietnã entre Kim e o então presidente dos EUA, Donald Trump, não ter conseguido fazer progressos na desnuclearização da Península da Coreia.