O alto oficial que foi carregado como herói pelos soldados golpistas, na quarta-feira (30/8), será oficializado "presidente de transição" no Gabão na próxima segunda-feira (4/9). O general Brice Oligui Nguema, 48 anos, foi nomeado chefe do Comitê para a Transição e a Restauração das Instituições (CTRI, a junta militar no poder) e terá a missão de ocupar o lugar deixado por Ali Bongo Ondimba, deposto após governar o país do centro-oeste da África, rico em petróleo. A oposição apelou aos militares para que reconheçam a "vitória" de seu candidato, Albert Ondo Ossa, nas eleições presidenciais do último sábado (26/8). Os aliados de Ondo Ossa esperam que o Exército "supervisione" o "reinício do processo de centralização dos resultados" da apuração, a fim de "oficializar" o triunfo do adversário de Ali Bongo, que cumpre prisão domiciliar ao lado da família e de médicos.
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O general Nguema — ex-comandante da Guarda Republicana, uma unidade de elite do Exército gabonense — tomará posse na segunda-feira, ao prestar juramento ante a Corte Constitucional. A instituição, suspensa desde o golpe de Estado, será "restabelecida temporariamente" para conduzir a cerimônia. Nguema buscou transmitir a imagem de tranquilidade depois do golpe e determinou a "todos os responsáveis pelos serviços do Estado" a garantia da "continuidade e o funcionamento de todos os serviços públicos".
Em pronunciamento transmitido pela televisão, o general declarou que pretende "tranquilizar a todos os credores e parceiros em desenvolvimento. Segundo o líder do CTRI, "todas as medidas serão tomadas para garantir o respeito aos compromissos" do Gabão, "tanto no plano externo quanto no interno". Até a noite desta quinta-feira (31/8), todas as fronteiras do país (com Guiné Equatorial, Congo e Camarões) permaneciam fechadas, e o toque de recolher era mantido.
Ao ser questionado pelo Correio sobre o fato de um general ascender ao poder, Michel Ongoundou Loundah, 65, vice-presidente do partido político de oposição gabonense Reagir, afirmou que isso tem "pouca importância". "O que desejávamos, durante anos, era colocar um fim no regime de Bongo. Com esse golpe, terminou o reinado de uma junta predatória e criminosa de terno e gravata, que foi substituído por uma junta de cor cáqui — até o momento, irrepreensível", declarou. Ele disse não acreditar que o CTRI coloque em risco as liberdades individuais dos 2,3 milhões de gabonenses.
Moradora de Libreville, a aposentada Béatrice Appindangoye, 64, participou de um encontro com o candidato Ondo Ossa na última sexta-feira (25/8), três dias antes do golpe. Segundo ela, a situação está "calma" em todas as províncias. "A população saudou os militares e comemorou como se tivéssemos ganhado a Copa do Mundo", comparou, ao falar por meio do WhatsApp. Aliviada com a queda de Ali Bongo, ela classificou de "calamitosa" a gestão do presidente deposto. "As necessidades básicas da população não foram asseguradas. Isso inclui saúde, educação, transporte, moradia, água e eletricidade, e todas as promessas feitas durante 14 anos e não cumpridas. As condições de vida da população se deterioraram."
Appindangoye explica que o Gabão é um país "muito rico e com uma população pequena". "Mas a riqueza beneficiava apenas a família de Ali Bongo, que usava dinheiro do país para os próprios fins", acrescentou. A também aposentada Rose Ahavi, 66, contou que todos os gabonenses anseiam pelo discurso do general Brice Oligui Nguema e por conhecer seu plano de ação. "Ainda tememos a duração desse comitê de transição. O povo quer ver o real vencedor das eleições tomar as rédeas do poder", disse à reportagem.
A comunidade internacional condenou em peso o golpe no Gabão. Os Estados Unidos admitiram "profunda preocupação" e instaram os militares gabonenses "a preservarem o governo civil". O Departamento de Estado norte-americano também pediu a libertação e a garantia de segurança dos membros do governo de Ali Bongo. O Reino Unido denunciou a manobra "inconstitucional", apesar de ver as eleições com reservas. "Golpes militares não são a solução, mas devemos não nos esquecer de que, no Gabão, houve eleições repletas de irregularidades", advertiu Josep Borrell, chefe da Política Externa da União Europeia (UE). O Conselho de Segurança e Paz da União Africana suspendeu "imediatamente" o Gabão.
Níger
No Níger, outra nação africana acometida por um golpe militar, em 26 de julho passado, o Exército proibiu agências das Nações Unidas e organizações não governamentais de trabalharem em "zonas de operação" militar, sob a alegação de razões de segurança. A junta militar que comanda o país cancelou o visto do embaixador francês Sylvain Itte e instruiu a polícia a expulsá-lo do território. A retaliação ocorre pela recusa do diplomata em participar de uma reunião agendada com o ministro das Relações Exteriores do governo golpista.
TRÊS PERGUNTAS PARA..
Michel Ongoundou Loundah, vice-presidente do partido político de oposição REAGIR, do Gabão
O senhor acredita que o poder será transferido em breve para o líder opositor Albert Ondo Ossa?
Eu espero que sim, mas, infelizmente, acredito que isso não acontecerá. Na minha opinião, os militares estabelecerão um período de transição, ao fim do qual novas eleições serão organizadas.
Como a população de Libreville está reagindo ao golpe?
Os gabonenses estão relaxados e muito feliz com o fim do reinado de Ali Bongo. Não há nenhuma tensão entre a população. Ali Bongo e sua família estiveram no poder desde 1967. O povo gabonense estava cansado dos Bongos. Além disso, Ali era totalmente incompetente e corrupto.
Qual será o futuro do seu país, depois dessa ruptura?
Sem os Bongos no poder, podemos esperar que o Gabão se desenvolva positivamente. O golpe de Estado, na minha opinião, tornará possível estabelecer instituições reais. Não estou sendo ingênuo em dizer isso, mas creio que a sociedade civil e a classe política vão monitorar, de perto, as ações dos militares no poder. (RC)
EU ACHO...
"Em um Estado onde nada funciona, é normal que você precise dos militares para colocar as coisas em ordem. Todos os gabonenses pedem que a transição não seja muito curta, nem longa demais. O Comitê para a Transição e a Restauração das Instituições (CTRI, a junta militar no poder) assegurou que a ela durará dois anos — tempo para reorganizar o Estado e ter eleições livres e transparentes. Nós saímos do nada, conhecemos o pior. Agora, o Gabão conseguirá se reerguer."
Béatrice Appindangoye, aposentada, moradora de Libreville (Gabão)
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