Com um megafone na mão e um boné de beisebol, o homem mais poderoso do mundo discursou em meio a um piquete de trabalhadores grevistas da indústria automotiva, em Beleville, no estado de Michigan (norte). Diante de uma fábrica de peças de motor da General Motors, Joe Biden tornou-se o primeiro presidente dos Estados Unidos a participar diretamente de um movimento paredista. Em seu pronunciamento, o democrata de 80 anos reconheceu "os sacrifícios" feitos pelos trabalhadores do sindicato UAW para salvar a indústria em 2008. Também defendeu que os operários merecem um "aumento significativo" em seus salários, de acordo com a agência de notícias France-Presse. Com a popularidade em queda e atrás do republicano Donald Trump nas mais recentes pesquisas, Biden teria se aproximado dos trabalhadores do setor automobilístico, crucial para a economia norte-americana, na tentativa de capitalizar apoio e angariar a simpatia do eleitorado.
"Pessoal, vejam, uma coisa é muito simples. Serei muito breve. O fato é que vocês, o UAW... Vocês salvaram a indústria automobilística em 2008 e antes. Vocês fizeram muitos sacrifícios. Vocês desistiram de muita coisa. E as empresas estavam em apuros", declarou Biden. "Pessoal, continuem, porque vocês merecem o aumento significativo de que precisam e outros benefícios. Vamos recuperar o que perdemos, ok?", pediu o democrata, em meio a aplausos. "Nós os salvamos; já é hora de eles nos defenderem."
Depois de um pronunciamento de Shawn Fain, presidente do UAW, Biden retomou o megafone. "Vocês me ouviram dizer isso várias vezes. Wall Street não construiu o país. A classe média construiu os EUA, e os sindicatos construíram a classe média. Isso é um fato. Vamos continuar", comentou. Trump acusou Biden de copiá-lo — o magnata republicano visitará Michigan hoje para cortejar os trabalhadores. O porta-voz do ex-presidente chamou a visita de Biden de "uma pobre sessão de fotos".
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"Foi uma boa manobra para mostrar seu apoio aos operários e tentar ofuscar Trump", afirmou ao Correio o historiador político James Naylor Green, da Universidade Brown (em Rhode Island). "Acho que o gesto de Biden atrairá os trabalhadores de volta para o Partido Democrata", apostou. Ele lembrou que, apesar de o partido governista receber apoio da maioria dos sindicatos desde a década de 1930 e do governo de Franklin D. Roosevelt (1933-1945), Biden é o presidente que mais se ligou ao trabalho organizado. "Ele usa o discurso sobre a classe trabalhadora mais do que todos os membros da classe média da base do Partido Democrata juntos."
Para Green, a participação do presidente no piquete de Michigan é crucial para garantir que a maioria dos trabalhadores sindicalizados apoiem Biden nas eleições de 2024. "Por sua vez, Trump tenta mostrar que se importa com a classe operária, ao não participar do debate entre os pré-candidatos do Partido Republicano e, em vez disso, falar aos trabalhadores. No entanto, não estou certo de que ele tenha alguma promessa importante para os grevistas", alertou o historiador.
Os funcionários da fábrica da General Motors aguardaram Biden na entrada da fábrica, no condado de Wayne. Uma dezena de grevistas fazia um piquete no local, entre cartazes com os dizeres "Salve o sonho americano". Patrick Small, um dos trabalhadores que respeitavam a paralisação, admitiu à France-Presse que o apoio de Biden é "muito importante". "Ele acredita naquilo pelo que lutamos. Isso me enche de orgulho", declarou. Small opinou que o sindicato UAW deveria sair, em peso, na defesa da reeleição do inquilino da Casa Branca, e usou o termo "sucesso" para qualificar a participação de Biden no piquete.
Fraude
Um juiz de Nova York concluiu que Trump cometeu fraude ao superestimar o valor de seus imóveis e ativos financeiros. A decisão do magistrado Arthur Engorno é um golpe para o republicano, cujo caso começará a ser julgado na segunda-feira. A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, acusa Trump e seus dois filhos mais velhos de inflarem gravemente as cifras perante seguradoras e bancos, a fim de obter empréstimos e cobertura de seguro. James pede uma multa de US$ 250 milhões (R$ 1,2 bilhão) e a proibição, tanto para o ex-presidente quanto para seus filhos Donald Trump Jr. e Eric Trump, de dirigir qualquer empresa.
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