Guerra no Leste Europeu

Ucrânia ataca quartel-general russo da Frota do Mar Negro, na Crimeia

Exército de Volodymyr Zelensky reivindica bombardeio a instalações da Marinha da Rússia, em Sebastopol, na Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014. Ofensiva causa danos e deixa um militar desaparecido

Flagrante de míssil atingindo o prédio principal do QG da  Marinha da Rússia na Crimeia  -  (crédito: Ukrainian News/X/Reprodução)
Flagrante de míssil atingindo o prédio principal do QG da Marinha da Rússia na Crimeia - (crédito: Ukrainian News/X/Reprodução)
postado em 23/09/2023 06:00

Por volta do meio-dia (6h em Brasília) desta sexta-feira (22/9), o jornalista britânico Johnny Miller estava no porto de Sebastopol, na Crimeia (península anexada por Moscou em 2014), quando percebeu a fumaça saindo da região central da cidade. "Eu estava a apenas dez minutos do quartel-general da Frota do Mar Negro. Não sabia se aquilo se tratava de um acidente ou de um ataque", contou ao Correio, por meio do Telegram. "Cerca de 20 minutos depois, vi um par de mísseis da defesa antiaérea lançados a partir de um ponto próximo. Percebi que era um bombardeio. Foram múltiplos ataques, com drones e mísseis. Um dos mísseis atingiu o QG e outros foram interceptados pela Rússia."

Fontes russas informaram à emissora BBC e ao jornal britânico The Guardian que mísseis Storm Shadow, fornecidos pelo Reino Unido a Kiev, foram usados nos bombardeios. Minutos depois das explosões, Oleksiy Danilov, secretário do Conselho de Segurança da Ucrânia, escreveu na rede social X, o antigo Twitter: "A frota russa do Mar Negro será cortada como um salame". E completou: "Há duas opções para o futuro da Frota do Mar Negro: a neutralização voluntária ou forçada". O Exército da Rússia confirmou que cinco mísseis foram derrubados sobre a Crimeia.

Durante o bombardeio, Miller chegou a gravar um vídeo (veja abaixo) em que se escuta uma série de explosões. Nas imagens, moradores tomam sol à beira-mar e parecem praticamente alheios a tudo. "Havia muitas pessoas nas ruas e muita raiva. Foi um evento único. Estou aqui há seis meses, e os moradores de Sebastopol não se importavam muito com a guerra. Muitos são pró-Rússia. O alvo atacado era um símbolo", relatou o jornalista.

Coronel da reserva e especialista em segurança pelo think tank Razumkov Centre, em Kiev, Melnyk Oleksii explicou ao Correio que os ataques de ontem foram os primeiros realizados com eficiência pela Ucrânia contra a Frota do Mar Negro. "Esses bombardeios têm um propósito militar muito claro. Desde o início, a Frota do Mar Negro tem sido crucial no apoio à invasão russa à Ucrânia. Dali, partiram grandes navios de desembarque. O QG também é utilizado para o fornecimento de suporte logístico para as tropas russas. Navios e submarinos da Rússia lançam mísseis de cruzeiro para atingir alvos em todo o território ucraniano", disse.

Por isso, segundo Oleksii, atacar o principal posto de comando e controle da Frota do Mar Negro, em Sebastopol, revela-se como uma ofensiva eficiente contra as capacidades de combate russas. "Há um apelo simbólico nesse bombardeio. As autoridades de ocupação da Crimeia têm mencionado, por várias vezes, que a península está totalmente protegida e que seus cidadãos não precisam se preocupar com a invasão russa", comentou o estrategista militar. "Agora, eles percebem que isso é mentira. Outro ponto importante está no fato de que praticamente não houve danos colaterais a civis."

Durante visita supresa ao Canadá, onde discursou ao Parlamento, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, não mencionou a ofensiva em Sebastopol e voltou a acusar a Rússia de cometer genocídio. "O que os invasores russos estão fazendo à Ucrânia é um genocídio. Quando queremos vencer, quando apelamos ao mundo para nos apoiar, é porque não se trata de um conflito comum. Trata-se de salvar as vidas de milhões de pessoas."

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