Diplomacia

Embaixador da Armênia acusa Azerbaijão de "limpeza étnica" com ataques

Em entrevista ao Correio, Armen Yeganian, representante do governo armênio, condenou a "agressão e os crimes de atrocidade em massa" em Nagorno-Karabakh e criticou exigências do Azerbaijão

Armen Yeganian, embaixador da Armênia em Brasília -  (crédito: Arquivo pessoal )
Armen Yeganian, embaixador da Armênia em Brasília - (crédito: Arquivo pessoal )
postado em 20/09/2023 06:07

Armen Yeganian, embaixador da Armênia em Brasília desde 3 de abril passado, falou ao Correio sobre a ofensiva lançada pelas forças do Azerbaijão no enclave de Nagorno-Karabakh, de maioria étnica armênia. De acordo com ele, a "agressão em grande escala" tem o objetivo de "completar uma política de limpeza étnica". Leia a entrevista. 


Como vê esta operação militar que o Azerbaijão chama de antiterror na região de Nagorno-Karabakh?

Nesta terça-feira (19/9), o Azerbaijão desencadeou outra agressão em grande escala contra o povo de Nagorno-Karabakh, com o objetivo de completar a sua política de limpeza étnica. Guiado por um  sentimento de impunidade, o Azerbaijão assumiu abertamente a responsabilidade pela agressão. O Ministério da Defesa do Azerbaijão declarou que "medidas antiterroristas" foram lançadas na área de responsabilidade do contingente de manutenção da paz em Nagorno-Karabakh. Condenamos veementemente a agressão do Azerbaijão contra Nagorno-Karabakh e os crimes de atrocidades em massa, que são a continuação do uso em larga escala de força desencadeada pelo Azerbaijão contra Nagorno-Karabakh há exatamente três anos, em setembro de 2020. Sob o pretexto de "destruir objetos militares", o Azerbaijão está bombardeando assentamentos civis, a capital de Stepanakert e outras cidades e vilas.  

O Azerbaijão exigiu que os insurgentes deponham as armas. O que acha sobre tal demanda?

Como afirmou o Primeiro-Ministro da Armênia, o principal objetivo desta operação é envolver a Armênia nas hostilidades. Não estamos envolvidos nas hostilidades e não existe Exército da República da Arménia em Nagorno-Karabakh. Quanto aos "insurgentes", é um disparate total. O Exército da Defesa de Nagorno-Karabakh protege as 120 mil pessoas que residem em Nagorno-Karabakh.

O senhor vê o risco de um genocídio armênio em Nagorno-Karabakh?

Como alertamos muitas vezes, as contínuas ações agressivas do Azerbaijão contra Nagorno-Karabakh, a retórica belicista aberta, a absolutamente propaganda falsa e repreensível de chamar a população de Nagorno-Karabakh de "terroristas" perseguem um único objetivo: sujeitar a população de Nagorno-Karabakh à limpeza étnica através do uso da força e privar a população do direito de viver livremente e com dignidade na sua própria pátria. O bloqueio ilegal do corredor de Lachin — a única estrada que liga Nagorno-Karabakh com a Arménia —, desde dezembro de 2022, e o bloqueio total de Nagorno-Karabakh
perseguem o mesmo objetivo.

O Ministério da Defesa do Azerbaijão exigiu, nesta terça-feira (19/9), a retirada completa das tropas étnicas armênias e a dissolução do governo em Stepanakert...

Como mencionei, não há tropas da República da Armênia em Nagorno-Karabakh. Portanto, não há forma de retirarmos as forças da região. No que diz respeito à dissolução do governo em Stepanakert, o governo
foi eleito pela população de Nagorno-Karabakh por meio de eleições legítimas, ao contrário do Azerbaijão. Isso significa que o governo do Azerbaijão precisa se comunicar com os representantes legítimos de Nagorno-Karabakh.

A comunidade internacional condenou, em uma só voz, a agressão planejada ao Azerbaijão e apelou ao Azerbaijão para cessar as suas ações imediatamente. Essas ações deterioram uma terrível situação  humanitária em Nagorno-Karabakh e minam as perspectivas de paz. Toda a comunidade internacional
apela pelo fim imediato das hostilidades.

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