Em entrevista ao Correio, o embaixador do Azerbaijão em Brasília, Rashad Novruz, falou sobre o que motivou o seu país a atacar a região de Nagorno-Karabakh ("Garabagh", segundo a nomenclatura usada pelos azerbaijanos), de maioria étnica armênia. Ele acusou o governo de Armênia de ignorar vários alertas sobre a presença de forças armadas na região. "A presença de 10 mil militares da Armênia dentro de Garabagh é algo que nenhum país do mundo toleraria. Passaram-se três anos desde que a Armênia assumiu o compromisso de retirá-los. Isso nunca aconteceu", comentou. Leia a entrevista com o embaixador Novruz.
Qual é a razão para o Azerbaijão ter lançado uma operação militar em Nagorno-Karabakh?
O Azerbaijão afirmou reiteradas vezes que a presença contínua das forças armadas da Arménia na região de Garabagh, no Azerbaijão, contrária às disposições da Declaração Trilateral datada de 10 de Novembro de 2020, representa uma séria ameaça à paz e estabilidade regional. Dissemos e exigimos isto de forma diplomática e com boa vontade durante quase três anos. A presença de 10 mil militares da Armênia dentro de Garabagh é algo que nenhum país do mundo toleraria. Passaram-se três anos desde que a Armênia assumiu o compromisso de retirá-los. Isso nunca aconteceu. Ela até se atreveu a reforçar o seu exército ali. Além disso, alertamos muitas vezes que o abuso da estrada de Lachin para o transporte de armas e a rotação de pessoal físico é inaceitável. Certa vez, os armênios chegaram a contrabandear armas e dispositivos proibidos sob o disfarce de funcionários do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e dentro de seus veículos. Tal abuso foi reconhecido pelo CICV. Depois, abriram fogo contra os nossos guardas de segurança da fronteira. As baixas estavam aumentando.
Fomos pacientes porque acreditávamos na boa vontade e na normalidade da diplomacia. Mas, quando a Armênia fecha todos os canais e se apresenta como vítima, recusa-se a sentar-se à mesa. Como disse recentemente o nosso presidente, se as negociações pararem e houver uma pausa fria, surgirá uma lacuna, que será imediatamente preenchida por considerações e pessoas perigosas. Este foi, de fato, um convite gentil e insistente à Arménia e ao regime separatista armênio no Azerbaijão para que voltassem ao bom senso e não parassem as negociações. Eles escolheram a escalada em vez das negociações. Eles bloquearam as negociações sobre um tratado de paz. Recusaram-se a voar para Moscou para discutir sobre a delimitação das fronteiras. Eles pensaram que poderiam ganhar tempo e se preparar para uma ofensiva.
As formações armadas ilegais armênias continuaram a cavar trincheiras, a movimentar artilharia, a reforçar as suas posições, a disparar contra os nossos guardas de fronteira e civis que realizam obras de infra-estruturas e de reabilitação de terras, para que os nossos mais de 800 mil refugiados possam regressar às suas terras. Esses separatistas armados usaram até dispositivos de comunicação especiais que ameaçaram os voos das nossas companhias de aviação civil e da Europa. A nossa paciência chegou a um limite quando, nesta terça-feira (19/9), um veículo civil explodiu sobre uma mina terrestre antitanque na região de Khojavand (Azerbaijão), como resultado de uma sabotagem por parte das Forças Armadas armênias. Nossos dois civis foram mortos. No mesmo dia, sete funcionários do Ministério da Administração Interna foram mortos numa outra explosão de minas terrestres num novo túnel rodoviário que construímos recentemente. O cessar-fogo e os acordos trilaterais foram assinados há quase 3 anos, mas o terrorismo das minas terrestres na Armênia custou ao Azerbaijão mais de 310 vidas. A maioria deles civis. Eles ainda se recusam a nos repassar os mapas precisos das minas terrestres. Por que? Porque os perderam ou porque os esqueceram em outro lugar? Como é desumano jogar um jogo de minas terrestres quando falamos de reconciliação entre as nossas populações e comunidades.
Portanto, a decisão desta terça-feira (19/9) de realizar uma série rápida de operações antiterroristas precisas e localizadas foi a resposta a todas essas ameaças. Dez mil soldados armênios não têm nada para fazer sobre o solo soberano do Azerbaijão. A Armênia não pode continuar a financiá-los e a mantê-los como instrumento de barganha.
Quais as principais demandas do governo azerbaijano para firmar uma trégua ou cessar-fogo?
A principal exigência é, e continuará sendo, um desarmamento imediato e total das formações militares da Armênia e sua subsequente retirada da região de Garabagh, no Azerbaijão. Até que essa exigência seja atendida, as Forças Armadas do Azerbaijão continuarão uma série de ações localizadas da operação antiterrorista, com precisão cirúrgica, dentro do próprio território (que é Garabagh). Nesta terça-feira (19/9), o gabinete do presidente apelou ao regime separatista armado para depor as armas. Eles recusaram duas vezes. As operações continuaram. Não podemos permitir que a junta armênia assassine a nossa campanha de três anos pela paz, pela segurança, pela estabilidade e por uma agenda de reconciliação. Não permitiremos que alguns separatistas mantenham a sua própria comunidade como refém das suas ambições políticas. O governo do Azerbaijão restaurará uma lei constitucional e prevenirá qualquer ameaça à sua população.
Alguns especialistas e ativistas temem um genocídio em Karabakh. O que o senhor diria sobre isso?
Para que o genocídio aconteça, deve haver um registo legalmente comprovado de extermínio proposital ou de limpeza étnica, por meio de um conjunto específico de ações deliberadas e agressivas. O que vemos em Garabagh é um desenvolvimento completamente diferente. Com efeito, o governo do Azerbaijão sempre manteve abertos os canais de negociação direta ou indireta com a comunidade armênia de Garabagh. O governo chegou a construir, com recursos financeiros próprios e soberanos, a nova estrada para Garabagh, a fim de que possa haver uma ligação com a Armênia e com o resto do Azerbaijão.
Com a mediação e o apoio do CICV, da União Europeia e das forças de manutenção da paz russas, o governo do Azerbaijão até discutiu e concordou em reunir-se com a comunidade armênia em Yevlakh (Azerbaijão) para analisar exigências, condições e garantias de segurança mútuas. Em total concordância e respeito pela Constituição do Azerbaijão e pelos compromissos internacionais existentes do Azerbaijão como parte de sua participação em organizações e da assinatura em importantes convenções internacionais. Tal reunião foi sabotada poucas horas antes do suposto encontro, em 5 de agosto passado. No mesmo dia, separatistas agressivos de Garabagh bloquearam a estrada de Aghdam, que dias antes concordaram em abri-la para fornecimentos urgentes de alimentos. Apesar das reviravoltas dos separatistas armênios, a Cruz Vermelha do Azerbaijão e a Sociedade do Crescente Vermelho enviaram caminhões de carga humanitária de Aghdam para Khankendi, em Garabagh, há algumas semanas.
As alegações de Luis Moreno Ocampo, ex-promotor do Tribunal Penal de Internacional (TPI) sobre “um genocídio” são nulas porque ele desacreditou a si mesmo. Ele é parcial. Rastreamos isso até sua amizade de anos com o ex-separatistas da junta armênia e com antigos presidentes da Armênia, além de sua estranha confissão de que preparou o seu chamado "relatório independente" sob instrução de um armênio russo milionário, que nunca viveu em Garabagh, mas se estabeleceu lá apenas recentemente.
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