Do alto da tribuna da 78ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, cobrou união da comunidade internacional na condenação à invasão russa de seu país e fez uma advertência sombria. "O objetivo da atual guerra contra a Ucrânia é transformar nossa terra, nosso povo e nossos recursos em uma arma contra vocês — contra a ordem internacional baseada em regras. Muitos assentos no Salão da Assembleia Geral podem tornar-se vazios, caso a Rússia tenha sucesso com sua traição e agressão", declarou.
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Vestido com a tradicional cor verde oliva, Zelensky afirmou que a Ucrânia prepara uma Cúpula da Paz Mundial, durante a qual tentará implementar uma solução para o fim do conflito. Os detalhes da chamada fórmula de paz serão apresentados hoje, durante reunião especial com o Conselho de Segurança da ONU. "Enquanto a Rússia empurra o mundo para a guerra final, a Ucrânia faz de tudo para garantir que, depois da agressão russa, ninguém no mundo ouse atacar qualquer nação", acrescentou.
Zelensky acusou a Rússia de cometer "genocídio". "Nunca antes o sequestro em massa e a deportação se tornaram parte de uma política de governo. Até agora. Nós conhecemos os nomes de dezenas de milhares de crianças e temos evidências de centenas de milhares de outras sequestradas pela Rússia nos territórios ocupados da Ucrânia e, depois, deportadas", declarou, ao lembrar que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu ordem de prisão contra o presidente russo, Vladimir Putin, por esse crime. "Essas crianças na Rússia são ensinadas a odiar a Ucrânia, e todos os laços com suas famílias são rompidos. Isso é claramente um genocídio", assegurou.
Assédio a portos
Em seu pronunciamento — o primeiro durante a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022 — , Zelensky lembrou que Moscou bloqueou os portos ucranianos no Mar Negro e no Mar de Azov e tem atacado com mísseis e drones os portos no Rio Danúbio. Segundo ele, a Rússia usa os preços dos alimentos e a energia nuclear como armas.
Ex-conselheiro do presidente do Parlamento da Ucrânia, Mykola Volkivskyi viajou a Nova York para acompanhar o discurso de Zelensky. Por telefone, ele disse ao Correio que o ucraniano buscou transmitir a mensagem de que as principais ameaças externas ao mundo democrático provêm da Rússia. "Há dois anos, em seu último pronunciamento na Assembleia Geral, Zelensky chamou a ONU de um 'super herói aposentado', uma organização que atingira a idade da aposentadoria. Desde então, vários eventos ocorreram, e uma invasão em larga escala da Ucrânia teve início", destacou.
Volkivskyi também reforçou o fato de que a Ucrânia desistiu do maior arsenal nuclear com a assinatura do Memorando de Budapeste. "No fim da década de 1990, o mundo decidiu que a Rússia se tornaria a guardiã do poderio nuclear. Mas era ela quem merecia o desarmamento mais do que qualquer outro país."
Antes de Zelensky, o presidente norte-americano, Joe Biden, foi o segundo chefe de Estado, depois de Luiz Inácio Lula da Silva, a ocupar a tribuna. O democrata lamentou que, pelo segundo ano seguido, o evento seja "obscurecido pela sombra de uma guerra ilegal da Rússia contra a Ucrânia". "A Rússia carrega, sozinha, a responsabilidade por essa guerra. A Rússia, sozinha, tem o poder de pôr fim à guerra imediatamente", avisou Biden. "A Rússia acredita que o mundo ficará farto (do conflito), e lhe permitirá brutalizar a Ucrânia sem qualquer consequência."
Biden aproveitou o momento para tornar a declarar apoio incondicional a Kiev. Ele advertiu que oferecer suporte à Ucrânia é "não apenas um investimento no futuro da Ucrânia, mas no futuro de cada país". Biden também alertou a comunidade internacional sobre o fato de que a "agressão nua" da Rússia não pode ser amenizada. "Se permitirmos que a Ucrânia seja dividida, a independência de qualquer nação estará segura?", questionou. O inquilino da Casa Branca apontou a conduta "irresponsável" de Moscou no controle de armas, ao abandonar iniciativa bilateral com os EUA para conter algumas classes de armamentos. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não viajou para Nova York.
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