América do Sul

Equador: Narcotráfico sequestra e executa vereador

Bolívar Vera, legislador do município de Durán (oeste), foi assassinado. Corpo foi encontrado com as mãos amarradas. Prefeito exige ação radical do presidente Guillermo Lasso. Em 36 dias, país realiza segundo turno da eleição

Policiais cobrem o corpo de Bolívar Vera, em bosque da província de Guayas: mais um episódio de violência política  -  (crédito:  AFP)
Policiais cobrem o corpo de Bolívar Vera, em bosque da província de Guayas: mais um episódio de violência política - (crédito: AFP)
Rodrigo Craveiro
postado em 09/09/2023 06:00

Em 30 de março passado, Bolívar Vera — vereador da cidade de Durán (410km ao sul de Quito) — escreveu nas redes sociais: "A segurança do Equador piora cada dia mais, e as autoridades competentes não dão soluções, apenas justificativas banais". Cinco meses e nove dias depois, o corpo de Bolívar foi encontrado, nesta sexta-feira (8/9), com as mãos amarradas e ensanguentado em um bosque da província de Guayas. Para autoridades equatorianas, Vera foi vítima do narcotráfico.

A execução de Vera ocorre 30 dias após o assassinato de Fernando Villavicencio, candidato a presidente do Equador. Durante entrevista em maio, o vereador de Durán disse que não andava com segurança. "Tenho a proteção de Deus", afirmou. Em 15 de outubro, o país volta às urnas para o segundo turno das eleições presidenciais entre a correísta Luisa González e o direitista Daniel Noboa. A morte de Vera, membro do Partido Social Cristão (PSC, de direita), agrava a tensão e a sensação de insegurança. 

Eleito vereador para o mandato de 2023 a 2027, Vera foi sequestrado na quinta-feira (7/9). O governo local acionou a polícia para que descobrisse seu paradeiro. Jornalistas da agência France-Presse registraram o momento em que policiais e membros do Ministério Público removiam o corpo do político de um bosque próximo a uma estrada ao norte de Guayaquil, entre as cidades de Daule e Salitre. No local, familiares de Vera foram fotografados aos prantos. 

A Missão de Observação Eleitoral (MOE) da Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgou nota em que "condena energicamente o assassinato do vereador Bolívar Vera e repudia, com firmeza, qualquer ato de violência política que coloque em perigo a segurança dos cidadãos e o processo eleitoral em curso". "A perda de uma vida humana é um doloroso lembrete da crucial importância de preservar a paz e a estabilidade em uma sociedade democrática", destacou. A MOE lembrou que González e Noboa tiveram que recorrer ao uso de coletes à prova de bala durante a campanha eleitoral, o que "limita sua capacidade de movimento e a expressão em espaços públicos". "A Missão reitera sua preocupação com o alarmante clima de violência que tem ofuscado a campanha eleitoral no Equador."

O PSC informou que os social-cristãos do Equador condenam o assassinato de Cristian Bolívar Vera Peralta. "Esse ato repreensível evidencia, uma vez mais, o desamparo em que vivem todos os cidadãos e a indiferença do governo nacional ante o primeiro dever que tem com os mandatários: garantir-lhes a paz e a segurança. Paz na tumba de Bolívar", diz nota assinada por Alfredo Serrano Valladares, presidente nacional do partido. 

Cobrança

"O Governo Municipal de Durán expressa suas mais sinceras condolências aos familiares e amigos do vereador Bolívar Vera (...) diante desta grande perda", reagiu a prefeitura, por meio da rede social X. O Correio solicitou uma entrevista com o prefeito Luis Chonillo, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. Chonillo escreveu uma carta pública endereçada ao presidente Guillermo Lasso. "Apesar de nossas contínuas advertências e chamados desesperados ante ameaças, o vereador Bolívar Vera foi sequestrado e assassinado em plena luz do dia. (...) Exigimos ações radicais. Durán não aguenta mais!", cobrou.

Ele lembrou que, desde o início do estado de exceção, em 24 de julho, houve mais de 30 execuções na região. Entre as vítimas está o diretor de planejamento do município, Miguel Santos. "Quantas mortes o senhor presidente precisa para ouvir nossos insistentes apelos?", questionou Chonillo, que decretou três dias de luto.

Amigo de Villavicencio e testemunha da execução do presidenciável, Christian Zurita — jornalista que disputou o primeiro turno das eleições, no lugar do colega — afirmou ao Correio que "o governo de Guillermo Lasso e seu sistema de segurança entraram em colapso em sua missão de combater o crime organizado". "O trabalho de inteligência não é suficiente para enfrentar as decisões dos grupos do crime organizado, os quais se fortalecem nas províncias costeiras", explicou. Até o fechamento desta edição, o presidente Lasso não tinha se pronunciado. Os dois candidatos à Presidência do Equador também permaneciam em silêncio sobre o caso. 

Morador de Durán, o tecnólogo em marketing Gerardo Toledo, 27 anos, admitiu à reportagem que a cidade nunca viveu uma situação similar. "Temos muito medo ao vermos o que ocorre com as autoridades. O temor existe, e isso se reflete nas ruas vazias. Ante tanta insegurança, é difícil saber os motivos que levaram à execução de Vera. Estamos abandonados. A única coisa que temos recebido são mais mortes violentas e desinteresse do Executivo", criticou. 

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