Inundações causadas por fortes chuvas e por um ciclone extratropical nos últimos dias deixaram ao menos 41 pessoas mortas no Rio Grande do Sul e uma em Santa Catarina, segundo informações das defesas civis dos Estados divulgadas nesta quinta-feira (07/09).
Mais de 10 mil pessoas estão desalojadas ou desabrigadas no Rio Grande do Sul.
Há registro de 25 pessoas desaparecidas, nas cidades de Arroio do Meio, Lajeado e Muçum.
O governador Eduardo Leite (PSDB) tem acompanhado os trabalhos de resgate e disse que esta é a maior tragédia climática que já atingiu o Estado.
"Estamos consternados com a letalidade desse evento climático e mobilizados para salvar todos que ainda correm perigo", escreveu Leite nas redes sociais na terça (05).
Na quarta (06), o Rio Grande do Sul decretou estado de calamidade, e nesta quinta-feira, o governo federal declarou o mesmo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) telefonou para Leite e enviou dois ministros — Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) e Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional) — ao Estado.
Entretanto, em meio à celebração do Dia da Independência e ao embarque para a cúpula do G20 na Índia, o presidente não esteve presencialmente na região.
No Rio Grande do Sul, óbitos foram registrados nos municípios de: Cruzeiro do Sul; Encantado; Estrela; Ibiraiaras; Imigrante; Lajeado; Mato Castelhano; Muçum; Passo Fundo; Roca Sales; e Santa Tereza.
A tormenta também causou uma morte no Estado vizinho de Santa Catarina — a de um motorista cujo carro foi atingido por uma árvore durante a ventania e as chuvas.
Por conta de alagamentos, dezenas de estradas e rodovias do RS estão bloqueadas. Cinco aeronaves — da Força Aérea, PM e Bombeiros — estão sendo utilizadas para auxiliar nos resgates nas cidades afetadas.
A Defesa Civil do RS está alertando para a possibilidade de temporais, descargas elétricas, eventual queda de granizo e rajadas de vento até pelo menos a manhã dessa sexta-feira (08).
Fenômenos 'casados'
Mas o que está por trás, afinal, das chuvas devastadoras no Rio Grande do Sul?
Segundo o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de operações e modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o ciclone extratropical não foi a causa das fortes chuvas que atingiram a região, e sim sua consequência.
"A causa da chuva foi uma frente fria estacionária, por isso choveu no fim de semana inteiro. Na segunda-feira, coincidiu uma área de baixa pressão na alta atmosfera. Essa combinação derivou na formação de um ciclone extratropical, que rapidamente se encaminhou para o oceano. Ou seja, ele foi a consequência e não a causa da chuva", explica Seluchi.
Ciclones extratropicais como esse se formam praticamente todas as semanas no Oceano Atlântico, segundo meteorologistas.
Eles são centros de baixa pressão atmosférica que se formam fora dos trópicos, em médias e altas latitudes, segundo explica Estael Sias, meteorologista da empresa MetSul Meteorologia.
Comuns na história climática brasileira, esses fenômenos costumam se formar no extremo sul do país, entre o Rio Grande do Sul e Argentina e Uruguai, países vizinhos.
"Ele é formado pelo contraste de massas de ar quente e frio. Parte da sua ação é sugar toda a umidade pra essa região do centro de baixa pressão e jogar para a atmosfera, resfriando e transformando a umidade em nuvens. É nesse processo que o fenômeno espalha chuva e vento", diz Sias.
O problema é que, para alguns especialistas, as mudanças climáticas podem estar contribuindo para o surgimento de ciclones extratropicais atípicos, mais intensos, que podem se formar com mais rapidez e causar impacto maior.
"Pela minha experiência de 20 anos de previsão de tempo, acredito que esse cenário das mudanças climáticas de alguma forma tem ajudado ou tem auxiliado na formação desses ciclones com características especiais", diz Sias.
Para Marcelo Seluchi, do Cemaden, embora haja elementos para afirmar que sim, não existem dados conclusivos para confirmar com 100% de certeza que as mudanças climáticas estão deixando os ciclones extratropicais mais intensos.
"Para afirmar isso precisaria ter uma análise de dados de ciclones por décadas. E por que não temos esses dados? Porque os ciclones se formam no oceano e precisamos de dados de satélites, e esses dados nós só temos faz uns 20 ou 30 anos. Então, não dá para fazer essa análise. A resposta honesta é 'não sei'", explica.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br