A partir do ano letivo que se inicia, a França proibiu as meninas de usarem a abaya, uma vestimenta típica muçulmana, em salas de aula.
Mas, apesar do veto oficial, quase 300 alunas chegaram às salas de aula nesta segunda-feira (04/09), dia em que as aulas começaram, vestindo a roupa que as identifica com sua cultura.
Segundo dados do Ministério da Educação francês, a maioria das jovens tinha 15 anos ou mais.
Após um diálogo com funcionários da escola, a maioria das adolescentes concordou em se vestir de maneira diferente e foi autorizada a participar das aulas.
No entanto, 67 meninas se recusaram a obedecer e foram mandadas para casa.
Agora, haverá um novo período de diálogo com as famílias das jovens. Se não houver um entendimento, elas serão expulsas.
Lenço já foi proibido
A abaya é um vestido ou manto longo, esvoaçante e leve que vai dos ombros ao chão e cobre todo o corpo, exceto cabeça, pescoço, mãos e pés.
É uma vestimenta usada pelas mulheres no mundo muçulmano e é semelhante à djellaba - peça típica do Marrocos - ou ao caftan.
Tradicionalmente, as abayas são pretas, mas podem ter alguns enfeites.
Já as djellabas são de cor clara e os caftans usam cores mais vivas.
A abaya não deve ser confundida com o hijab, o lenço ou véu mais comumente usado na cabeça pelas mulheres muçulmanas. Embora, de acordo com o Islã, ambas as vestimentas devam ser usadas juntas.
Em alguns países da Península Arábica, o uso da abaya é obrigatório para as mulheres.
A abaya também é usada no norte da África.
A França proíbe estritamente símbolos religiosos em escolas públicas e edifícios governamentais, argumentando que eles violam leis seculares.
O uso do lenço na cabeça é proibido desde 2004 nas escolas públicas.
A nova proibição surge após meses de debate sobre o uso de abayas nas escolas francesas.
A vestimenta era cada vez mais utilizada em sala de aula, o que gerava uma divisão política em torno do tema.
Os partidos de direita pressionaram pela proibição, enquanto os partidos de esquerda citavam preocupações sobre os direitos das mulheres e meninas muçulmanas.
As características dessa peça geraram polêmica porque ela não é muito diferente de outros vestidos, como mostrou a ex-ministra francesa Cécile Duflot na rede social X (antigo Twitter).
Duflot mostrou que havia postado a foto de um vestido longo e esvoaçante perguntando se o consideravam um "ataque à secularidade" e, diante de respostas contra a peça, revelou que se tratava de uma peça da Gucci.
Em 2010, a França proibiu o uso de véus que cobrem todo o rosto em público, provocando indignação na comunidade muçulmana do país, composta por cinco milhões de pessoas.
A França impôs uma proibição estrita de símbolos religiosos nas escolas desde o século 19, incluindo os cristãos, impedidos de usar grandes cruzes, num esforço para conter qualquer influência religiosa na educação pública.
Refletindo a mudança da sua população, o país atualizou a lei ao longo dos anos para incluir o véu muçulmano e o quipá judaico, mas as abayas não haviam sido totalmente proibidas até agora.
Citando os 12 milhões de adolescentes que retomaram as aulas na segunda-feira, o governo diz que os números mostram que a sua proibição foi amplamente aceita.
Uma contestação legal apresentada por um grupo que representa alguns muçulmanos será levada aos tribunais franceses.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br