Um novo ciclone extratropical se formou nesta segunda-feira (4/9) no sul do Brasil, provocando muita chuva, fortes rajadas de vento e até queda de granizo no Estado do Rio Grande do Sul.
A Defesa Civil emitiu alertas de temporais, enxurradas e inundações gradativas.
Segundo o órgão, quatro mortes foram registradas em decorrência do mau tempo e 353 pessoas ficaram desalojadas até o início da tarde desta segunda.
Uma vítima na cidade de Passo Fundo faleceu após tomar um choque elétrico devido a um alagamento em sua casa. Outros três óbitos, nas cidades de Ibiraiaras e Mato Castelhano, estão relacionados a veículos que tentaram atravessar enchentes.
Há registros de casas destelhadas, buracos em telhados causados pelas pedras de gelo e alagamentos.
Os rios Taquari, que tem sua nascente nos municípios de Cambará do Sul e Bom Jesus, e Caí, que faz parte da Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba, também estão em risco de inundação.
Caxias do Sul e Santa Maria apresentam atualmente riscos altos de deslizamentos de terra.
Segundo o subchefe da Casa Militar - Proteção e Defesa Civil do estado, coronel Marcus Vinicius Gonçalves Oliveira, mais de 1.600 pessoas foram afetadas diretamente, tendo, por exemplo, suas casas e outros bem destruídos.
Os ciclones extratropicais são centros de baixa pressão atmosférica que se formam fora dos trópicos, em médias e altas latitudes, segundo explica Estael Sias, meteorologista do MetSul Meteorologia.
"Ele é formado pelo contraste de massas de ar quente e frio. Parte da sua ação é sugar toda a umidade pra essa região do centro de baixa pressão e jogar para a atmosfera, resfriando e transformando a umidade em nuvens. É nesse processo que o fenômeno espalha chuva e vento", diz Sias.
De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a instabilidade atual está associada a circulação dos ventos e a baixa pressão que se formou no Paraguai.
Ainda segundo o instituto, o ciclone vai dar origem a uma frente fria no decorrer dos dias e reforçar a condição de chuva forte e temporais nos três estados da Região Sul.
Em relação aos ventos, a previsão até a amnhã desta segunda era de rajadas que podem variar entre 40 a 60 km/h por toda a região, mas atingir até 80 km/h nas áreas de temporais.
Porto Alegre também tem alerta de temporais, temperaturas mais baixas e acumulados que podem chegar aos 100mm somente neste dia.
O sistema deve ainda chegar à noite à costa do Sudeste, trazendo mais umidade para São Paulo.
A previsão é de que na terça-feira (05/9) o ciclone se afaste para o oceano e a frente fria avance em direção ao Sudeste. O tempo fica mais estável em grande parte da Região Sul e chove apenas no centro-norte do Paraná, mas com fraca intensidade.
Como se proteger
Em áreas mais afetadas, as recomendações pedem maior cautela. Abaixo, alguns conselhos:
Alagamentos
- Evite contato com as águas;
- Não dirija em áreas alagadas;
- Evite pontes submersas e pontilhões;
- Redobre a atenção com as crianças.
Deslizamentos
Fique atento:
- A postes e árvores com inclinação;
- Qualquer movimento de terra ou encostas próximo à sua residência;
- Aparecimento de rachaduras em muros ou paredes.
Ventos fortes
- Busque um local abrigado, longe de árvores, placas, postes e outros objetos que possam ser arremessados;
- No local abrigado, fique longe de janelas.
O que são ciclones extratropicais
Comuns na história climática brasileira, os ciclones extratropicais costumam se formar no extremo sul do país, entre o Rio Grande do Sul e Argentina e Uruguai, países vizinhos.
Seus ventos são mais fracos e seus efeitos têm duração menor em comparação com os ciclones tropicais.
"Ciclones extratropicais no Oceano Atlântico se formam toda semana, dezenas deles às vezes. Mas é comum que se formem perto do polo sul, muito distante. Por isso não mencionamos na previsão do tempo - um ciclone extratropical a mil quilômetros da costa não vai causar nenhum efeito para a população", aponta Sias.
"A formação não é tão rápida quanto a de um tornado, por exemplo, que acontece em minutos", aponta Ana Avila, meteorologista e pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
De acordo com Sias, o aquecimento global tem contribuído para o surgimento de ciclones extratropicais atípicos, que podem se formar com mais rapidez e causar impacto maior.
Elementos como o fenômeno El Niño, que aumentam a umidade, acabam potencializando ainda mais a força das chuvas.
Há risco de alagamentos, deslizamentos e enxurradas, assim como destelhamentos, danos nas redes elétricas e quedas de árvores e galhos.
Os riscos variam de acordo com a região e a intensidade com a qual o ciclone deve atuar. Por isso é importante sempre estar alerta às recomendações da Defesa Civil e outros órgãos competentes na sua cidade e Estado.
Em cidades ao sul do país, com maior risco de alagamentos, as recomendações dos órgãos competentes vão desde procurar abrigo seguro a não entrar em contato com águas.
Cidades litorâneas também devem sentir maiores impactos.
"Os ventos ficam mais fortes próximos ao mar, assim como as ondas, que podem chegar a quatro metros de altura. Por isso, é essencial que toda atividade marítima, como a pesca, seja cancelada", explica Avila.
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