ÁFRICA

Repressão de protesto contra a ONU deixa 48 mortos no Congo

Soldados congoleses impediram que uma seita religiosa se manifestasse contra as tropas de paz das Nações Unidas na cidade de Goma

Pessoas presas durante uma operação militar para impedir uma manifestação planejada contra as Nações Unidas  -  (crédito: AFP)
Pessoas presas durante uma operação militar para impedir uma manifestação planejada contra as Nações Unidas - (crédito: AFP)
Agence France-Presse
postado em 01/09/2023 13:13 / atualizado em 01/09/2023 13:13

Quarenta e oito pessoas morreram na repressão de um protesto contra a ONU por forças de segurança da República Democrática do Congo (RDC) no leste do país africano, segundo fontes da segurança e documentação oficial.

Soldados congoleses impediram nesta quarta-feira (30/8) que uma seita religiosa se manifestasse contra as tropas de paz das Nações Unidas na cidade de Goma.

Em um primeiro momento, reportaram-se 10 mortos depois que os soldados entraram em um estúdio de rádio e um local de culto, de acordo com fontes locais, segundo as quais um policial foi linchado em meio à violência. Mas um documento interno do Exército consultado hoje pela AFP e verificado por fontes da segurança apresentou um balanço de 48 mortos, além do policial, e 75 feridos.

O documento aponta que os soldados apreenderam armas brancas e prenderam 168 pessoas, incluindo o líder Efraimu Bisimwa, da seita cristã animista Fé Natural Judaica e Messiânica para as Nações", que organizou o protesto.

O leste da RDC, que faz fronteira com Ruanda e Uganda, está exposto, há três décadas, à violência de milícias, um legado das guerras regionais dos anos 1990 e 2000. A missão de paz da ONU na região é uma das mais longas e caras do mundo, mas é mal vista por muitos na RDC, que denunciam a sua falta de ação frente à violência.

O governo elevou hoje o balanço para 43 mortos, com 56 feridos e 158 detidos, incluindo o líder da seita.

"As forças de segurança congolesas atiraram e mataram dezenas de manifestantes e feriram muitos mais", denunciou a ONG Human Rights Watch (HRW). "É uma forma extremamente cruel, além de ilegal, de impor a proibição", declarou Thomas Fessy, investigador da HRW na RDC.

No ano passado, dezenas de pessoas morreram em protestos contra a ONU no leste da RDC, entre eles quatro soldados da força de paz. O último episódio acontece em meio ao debate sobre a retirada da missão da ONU, composta por cerca de 16 mil efetivos.

O presidente congolês, Felix Tshisekedi, declarou no ano passado que não havia motivos para manter a missão depois das eleições presidenciais de 2023. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse em agosto que a missão estava em sua fase final, embora a data da sua retirada permaneça incerta.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br