Quarenta e oito pessoas morreram na repressão de um protesto contra a ONU por forças de segurança da República Democrática do Congo (RDC) no leste do país africano, segundo fontes da segurança e documentação oficial.
Soldados congoleses impediram nesta quarta-feira (30/8) que uma seita religiosa se manifestasse contra as tropas de paz das Nações Unidas na cidade de Goma.
Em um primeiro momento, reportaram-se 10 mortos depois que os soldados entraram em um estúdio de rádio e um local de culto, de acordo com fontes locais, segundo as quais um policial foi linchado em meio à violência. Mas um documento interno do Exército consultado hoje pela AFP e verificado por fontes da segurança apresentou um balanço de 48 mortos, além do policial, e 75 feridos.
O documento aponta que os soldados apreenderam armas brancas e prenderam 168 pessoas, incluindo o líder Efraimu Bisimwa, da seita cristã animista Fé Natural Judaica e Messiânica para as Nações", que organizou o protesto.
O leste da RDC, que faz fronteira com Ruanda e Uganda, está exposto, há três décadas, à violência de milícias, um legado das guerras regionais dos anos 1990 e 2000. A missão de paz da ONU na região é uma das mais longas e caras do mundo, mas é mal vista por muitos na RDC, que denunciam a sua falta de ação frente à violência.
O governo elevou hoje o balanço para 43 mortos, com 56 feridos e 158 detidos, incluindo o líder da seita.
"As forças de segurança congolesas atiraram e mataram dezenas de manifestantes e feriram muitos mais", denunciou a ONG Human Rights Watch (HRW). "É uma forma extremamente cruel, além de ilegal, de impor a proibição", declarou Thomas Fessy, investigador da HRW na RDC.
No ano passado, dezenas de pessoas morreram em protestos contra a ONU no leste da RDC, entre eles quatro soldados da força de paz. O último episódio acontece em meio ao debate sobre a retirada da missão da ONU, composta por cerca de 16 mil efetivos.
O presidente congolês, Felix Tshisekedi, declarou no ano passado que não havia motivos para manter a missão depois das eleições presidenciais de 2023. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse em agosto que a missão estava em sua fase final, embora a data da sua retirada permaneça incerta.
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