O Paquistão proibiu a exibição de uma série de televisão sobre um estupro por recordar um fato semelhante que poderia "manchar" a imagem do país, apresentando-o como um lugar "arriscado para mulheres".
Em setembro de 2020, uma mulher franco-paquistanesa foi estuprada diante de seus filhos depois que seu carro ficou sem gasolina em uma estrada perto de Lahore, leste do Paquistão.
A agência reguladora estatal dos meios de comunicação (Pemra) anunciou na quarta-feira (30/8) que a série "Hadsa", exibida há uma semana, seria retirada do ar por ter sido inspirada neste caso real.
"A representação de um ato tão hediondo não só reviverá o trauma da vítima, mas também manchará a imagem do país", justificou a Pemra.
Estupros raramente são denunciados no Paquistão e a palavra das vítimas tem um valor relativo, já que grande parte do país vive sob um código patriarcal de "honra" que sistematiza a opressão às mulheres. Segundo dados oficiais, apenas 0,3% dos casos resultam em condenação.
Pemra estimou que "os espectadores no exterior perceberiam o Paquistão como um lugar arriscado para as mulheres" ao assistirem à série, que "não representa a sociedade paquistanesa".
O caso gerou manifestações em várias cidades para exigir maior proteção às mulheres e para denunciar as palavras de um policial que parecia responsabilizar a vítima.
O chefe da polícia de Lahore a criticou por dirigir à noite sem a presença de um homem e por "acreditar que a sociedade paquistanesa era tão segura como na França". Depois, ele foi forçado a pedir desculpas.
Os episódios 4 e 5 de "Hadsa" mostram o sequestro e agressão de uma mulher e seu filho quando enfrentam problemas com seu carro. Mais tarde é revelado que a mulher é estuprada.