Pela primeira vez na história, um ex-presidente dos Estados Unidos teve uma mug shot (foto dos detidos) tirada e divulgada pela Justiça. Durante 20 minutos, Donald Trump esteve preso, acusado de associação criminosa e conspiração no estado da Geórgia. Fichado como o detento de número P01135809, na famigerada prisão do condado de Fulton, em Atlanta, o líder republicano de 77 anos foi libertado após pagar fiança de US$ 200 mil (cerca de R$ 974 mil). O 45º presidente norte-americano também teve as digitais colhidas. Trump responderá por 13 acusações relacionadas aos seus esforços para reverter o resultado das eleições presidenciais de 2020 na Geórgia.
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No registro da prisão, consta que Trump tem olhos azuis, cabelos loiros, mede 1,80m e pesa 97,5kg. Pouco antes de embarcar no Aeroporto Internacional Hartsfield-Jackson, Trump falou brevemente à imprensa. Disse que nada fez de errado e denunciou "uma farsa da Justiça". "Temos todo o direito de contestar uma eleição que consideramos desonesta", declarou. A mug shot foi divulgada pelo escritório do xerife do condado de Fulton por volta das 21h30 (hora de Brasília). Na foto, feita de frente, Trump aparece com o semblante cerrado.
O avião do republicano pousou em Atlanta às 19h03 (20h03 em Brasília). O comboio contou com 15 carros e uma ambulância, e foi escoltado por batedores. A comitiva demorou pouco menos de meia hora para chegar à prisão. Horas antes, Trump tinha dispensado o advogado Drew Findling e contratado Steven Sadow no lugar, sem dar explicações.
O outrora homem mais poderoso do mundo amarga vários problemas com a Justiça: nos últimos 147 dias, Trump foi fichado quatro vezes — além do caso da Geórgia, pesam contra ele acusações de extravio e posse de documentos confidenciais sensíveis à segurança nacional; pagamento de US$ 130 mil em suborno à ex-atriz pornô Stormy Daniels para abafar uma relação extraconjugal; e tentativa de reverter o resultado das eleições presidenciais de 2020, com a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Em janeiro deste ano, a Corte de Nova York condenou a Trump Organization a pagar multa de até US$ 1,6 milhão por fraude fiscal e financeira.
Promotora do condado de Fulton, Fani Willis pretendia que o julgamento de Trump e dos 18 corréus se iniciasse em 23 de outubro. O juiz Scott McAfee acatou a decisão; porém, determinou que somente Kenneth Chesebro, ex-advogado da campanha presidencial de Trump em 2020, irá ao banco dos réus na data solicitada. Chesebro foi acusado de ajudar a reunir uma lista de eleitores republicanos "alternativos" na Geórgia.
Professor de direito da Emory University (em Atlanta), Jonathan R. Nash afirmou ao Correio que Trump tem uma chance maior de ser sentenciado à prisão, caso seja condenado na Geórgia. "Mesmo o presidente dos EUA não tem autoridade para perdoar ninguém condenado sob a lei estadual. Ainda que recém-eleito, Trump poderia presumivelmente perdoar a si mesmo por crimes federais (isso nunca aconteceu antes, mas nada na Constituição o impediria de fazê-lo), mas não poderia lhe conceder auto-anistia, ao abrigo da lei penal do estado da Geórgia", explicou.
"Injustiça"
Ao ser questionado sobre o impacto que a foto como detento causará nos eleitores, o especialista disse ser difícil de prever. "Muitos alegaram que um indiciamento (e cada acusação sucessiva) diminuiria o aval da opinião pública. Entre aqueles que o apoiam, isso não ocorreu, ao menos por enquanto. A foto poderia esclarecer a questão do processo criminal, mas também é possível que sirva para confirmar, ante simpatizantes, que ele está sendo processado por motivos políticos e injustamente."
Em relação à troca de advogado na Geórgia, Nash lembra que Trump tem contratado não especialistas em direito penal para substitui-los por experts em crimes de colarinho branco. "Tanto Findling quanto Sadow têm experiência em direito criminal. Fala-se que Trump não segue os conselhos dos advogados e pode ser difícil trabalhar com ele."
Colega de Nash na universidade, John Felipe Acevedo aposta que a foto de detento de Trump aumentará o apoio entre os que estão ao seu lado e terá efeito negativo entre detratores. "O interessante será o impacto sobre os eleitores indecisos. É possível que a mug shot os incentive a ficar em casa no dia da eleição", opinou, por e-mail. Segundo ele, os crimes que pesam contra Trump são graves por dois aspectos. "A lei da Geórgia permite que a Promotoria Distrital aborde eventos fora do condado de Fulton ou do estado, desde que promovam a conspiração para cometer fraude no Colégio Eleitoral. A possível pena de prisão para uma condenação é de até 15 anos."
Bennet Gershman, professor de direito da Pace University (em White Plans, Nova York) e ex-promotor no Escritório Anticorrupção, admitiu ao Correio que as evidências contra Trump nesse caso são "poderosas". "A acusação dentro da lei RICO (Racketeer Influenced and Corrupt Organizations) é muito séria e foi usada com sucesso na acusação de uma variedade de conspirações criminosas. Não há praticamente nenhuma chance de Trump ganhar esse caso", comentou.
Por sua vez, Mitchell Epner — ex-procurador federal para o distrito de Nova Jersey — disse à reportagem que o republicano está em "grave perigo". "Se Trump for condenado na Geórgia e ganhar a Presidência, isso causará uma crise constitucional. Não existe um modelo de como lidar com esse cenário", advertiu. "O ex-presidente foi indiciado por um esquema fraudulento para roubar os 16 votos do Colégio Eleitoral da Geórgia, com os 18 corréus. Se condenado, enfrentará entre cinco e 20 anos de prisão."
Para Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington), o fichamento marca um dia histórico, em que um ex-presidente se torna réu. "Este é um caso de sabotagem eleitoral. Trump disse, antes de embarcar em Atlanta, que tem todo o direito de contestar o resultado das eleições. De fato, ele o fez, mas de modo ilegal."
RÁPIDAS
Do poder ao banco dos réus
Mark Meadows, ex-chefe de gabinete de Trump, pagou US$ 100 mil (cerca de R$ 488 mil) de fiança para não ter que aguardar o julgamento na prisão. O jornal Atlanta Journal-Constitution informou que Meadows tentou adiar sua rendição à Justiça da Geórgia até que fosse realizada uma audiência para determinar se seu caso seria transferido para um tribunal federal. No entanto, o juiz negou. Meadows participou do telefonema em que Trump pediu ao secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, para que encontrasse 11.780 votos durante as eleições de 2020.
Expectativa pela queda
Nadine Seiler, uma home organizer (organizadora do lar) de 58 anos, viajou 1 mil km entre Waldorf (Maryland) e Atlanta para celebrar o indiciamento de Trump. Em frente à prisão do condado de Fulton, segurava uma grande faixa com as palavras: "Indiciado. De novo. De novo. De novo". Ao Correio, Nadine considerou simbólico o fato de Trump ser obrigado a se render para uma mulher negra (a promotora Fani Willis). "Isso depois de ele roubar votos de negros e pardos da Geórgia. É algo docemente irônico e saboroso. Sua vontade de nos dispensar, em sua busca por manter a América Branca, pode acabar sendo sua maior queda", afirmou a mulher, que protesta contra o magnata desde 2017. "Estou enojada por tantas pessoas neste país terem acolhido um racista sociopata", desabafou. "Trump tentou roubar a democracia." Cerca de meia hora antes de Trump chegar à prisão, Nadine disse que a situação era "maleável". "Há mais simpatizantes dele aqui ao lado." Após o fichamento de Trump, ela comentou: "A humilhação é doce".
Ausente, mas presente
O primeiro debate entre oito candidatos às primárias do Partido Republicano, em Milwaukee, no estado do Wisconsin, na noite de quarta-feira, teve um grande ausente: Donald Trump. No entanto, o ex-presidente foi citado diversas vezes pelos adversários, com várias perguntas dos apresentadores e moderadores da Fox News sobre os vários processos que Trump enfrenta na Justiça. Ao serem questionados se apoiariam o magnata como o indiciado do partido, mesmo que condenado nos processos, seis candidatos levantaram as mãos, à exceção do governador do Arkansas, Asa Hutchinson, e do ex-governador Nova Jersey Chris Christie.
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