Além do líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, outras nove pessoas estavam a bordo do avião que caiu na Rússia nesta quarta-feira (24/8), segundo detalhes divulgados pelas autoridades de aviação russas.
Entre os passageiros estava Dmitry Utkin, uma figura ligada a Prigozhin e cujo codinome provavelmente inspirou o nome do grupo mercenário que ele chefiava.
A Rússia também afirma que Valeriy Chekalov, que supostamente controlava as finanças do Wagner, estava a bordo.
Além dos passageiros, três tripulantes estavam no avião no momento da queda.
Leia a seguir o que se sabe sobre as pessoas a bordo.
Dmitry Utkin
A história do grupo Wagner é obscura, mas uma rápida análise do passado da organização leva ao nome de Dmitry Utkin.
Acredita-se que o veterano de 53 anos, que lutou em duas guerras russas na Chechênia entre 1994 e 2000, esteja envolvido no exército privado desde seus primeiros dias, em 2014.
Uma investigação da BBC revelou, inclusive, que a origem do nome Wagner está ligada a ele, já que esse era seu codinome durante as guerras. Aparentemente é uma referência ao compositor Richard Wagner.
Nos últimos anos, Utkin teria sido o braço-direito de Prigozhin, responsável pelo comando geral e treinamento de combate.
Existem poucas fotografias de Utkin, mas uma das que circulam é uma selfie que mostra tatuagens neonazistas em seu corpo.
De acordo com o currículo online de Utkin, que parece ser de cerca de 2013 e foi descoberto pelo site investigativo Bellingcat, ele serviu na GRU – divisão de inteligência militar da Rússia – de 1988 a 2008.
O documento indica ainda que sua participação em operações de combate hle rendeu prêmios governamentais, além de uma lista de habilidades com armamentos.
Utkin tornou-se um pistoleiro de aluguel depois de deixar a inteligência militar e ganhou influência no Wagner quando o grupo lutou ao lado dos separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia em 2014.
Acredita-se também que ele esteve envolvido nas operações do grupo na Síria e na África.
Uma investigação da BBC em 2021 ainda ligou Utkin a documentos que expunham o envolvimento de Wagner na guerra civil da Líbia.
Uma fotografia supostamente tirada em 2016 mostra Utkin ao lado do presidente russo, Vladimir Putin, numa recepção no Kremlin.
Na época em que a imagem foi feita, o governo russo negava ligações com o grupo de mercenários.
Desde então, Putin admitiu que o governo russo financiou o grupo em bilhões de dólares.
Valeriy Chekalov
Acredita-se que Chekalov seja um associado próximo de Prigozhin, com ligações comerciais com o líder do Wagner que remontam à década de 2000.
O homem de 47 anos parece estar envolvido na gestão dos interesses comerciais não militares de Prigozhin, que os governos ocidentais dizem serem usados para financiar o grupo mercenário.
Chekalov estava ligado à Evro Polis, empresa associada a Prigozhin, que assinou contratos para a produção de gás e petróleo na Síria em 2017.
Segundo o Tesouro dos EUA, a empresa foi contratada pelo governo do presidente Bashar al-Assad "para proteger os campos petrolíferos sírios em troca de uma participação de 25% na produção de petróleo e gás dos campos".
Os recursos arrecadados com o acordo foram usados para pagar os combatentes do Wagner e adquirir armas, disse o Tesouro dos EUA.
Acredita-se também que Chekalov tenha sido responsável pelos projetos empresariais do Wagner em toda a África.
Ele foi alvo de sanções dos EUA e da Ucrânia devido às suas ligações com Prigozhin. A Evro Polis também foi sancionada por vários governos, incluindo o Reino Unido.
Yevgeny Makaryan, Sergey Propustin, Alexander Totmin e Nikolay Matuseev
Os outros cinco homens listados como passageiros parecem ser combatentes do Wagner.
Ao contrário de Utkin e Chekalov, não aparecem nas listas de sanções internacionais e, por isso, não foram considerados figuras importantes pelos governos ocidentais.
Considerando que Prigozhin estava sempre assessorado por uma rede de proteção - e ainda mais depois do aprofundamento do seu conflito com Vladimir Putin - eles podem ter viajado como guarda-costas.
Os nomes de três dos homens aparecem numa base de dados de alegados combatentes do Wagner, compilada por ativistas pró-Ucrânia: Yevgeny Makaryan, Sergey Propustin e Alexander Totmin.
Outro homem identificado pelas autoridades russas como Nikolay Matuseev não aparece na base de dados.
Um canal russo do Telegram, porém, diz se tratar de Nikolay Matusevich, membro da "tropa de choque" do Wagner.
Piloto Alexei Levshin, copiloto Rustam Karimov e aeromoça Kristina Raspopova
As outras três pessoas identificadas pelas autoridades russas são o piloto Alexei Levshin, o copiloto Rustam Karimov e a comissária de bordo Kristina Raspopova, a única mulher a bordo.
Poucas informações foram confirmadas sobre o trio e não está claro se eles foram empregados diretamente por Prigozhin, por uma empresa de sua propriedade ou por outra empresa.
Sabe-se que Prigozhin viajava regularmente em jato particular e que a aeronave envolvida no acidente, um Embraer Legacy 600 de fabricação brasileira, já havia sido usada por ele anteriormente.
O avião foi colocado sob sanções dos EUA em 2019 – quando foi listado sob um registo diferente – devido às suas ligações com Prigozhin por meio de uma empresa, de acordo com a agência de notícias Reuters.
A BBC não pôde confirmar de forma independente detalhes sobre a tripulação do voo, mas informações obtidas em entrevistas com parentes das vítimas estão circulando na imprensa russa.
Raspopova, de 39 anos, teria conversado com sua família e postado fotos nas redes sociais pouco antes da decolagem do voo.
Karimov, 29 anos, trabalhava para a empresa há apenas três meses, de acordo com uma entrevista dada por seu pai na imprensa russa, e teria comemorado seu quarto aniversário de casamento no início deste mês.
Levshin, 51 anos, era casado, tinha dois filhos e trabalhou na aviação durante toda a sua vida adulta, informaram meios de comunicação russos citando sua família.