Depois de se reunir com o conservador Alberto Núñez Feijóo, líder do Partido Popular (PP), e com o atual primeiro-ministro Pedro Sánchez (do Partido Socialista Operário Espanhol — PSOE), o rei Felipe VI encarregou o direitista de formar o novo governo. A decisão do monarca foi comunicada à presidente do Congresso, Francisca Armengol, a quem caberá a incumbência de agendar a posse. A missão atribuída a Núñez Feijóo nasce fadada ao fracasso.
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Com os apoios atuais, ele contará com apenas 172 cadeiras no Parlamento e ficará a quatro assentos de conquistar a maioria absoluta de 176 dos 350 deputados, o que impossibilitaria sua investidura como premiê. "Agradeço à Sua Majestade o Rei por sua decisão de me nomear candidato à Presidência do Governo. Daremos voz aos mais de 11 milhões de cidadãos que desejam mudança, estabilidade e moderação, com um governo que defenda a igualdade de todos os espanhóis", escreveu o desafiante de Sánchez na X, a rede social antes conhecida como Twitter.
Por sua vez, Sánchez declarou que, em nome do Grupo Parlamentar Socialista, informou a Felipe VI sua disposição em assumir a responsabilidade e em conseguir a investidura. "Como deixa claro a Constituição, o processo de investidura não é um trâmite de exibição, mas tem, como única finalidade, reunir o respaldo necessário parlamentar necessário para a formação de um novo governo com um projeto político definido", explicou.
"Nós, do Partido Socialista, cremos estar em condições de unificar o respaldo exigido. Levei à Sua Majestade o Rei a vontade de trabalhar para articular a maioria no Parlamento (...) para a formação de um governo de progresso", emendou o premiê.
Ponderação
Ángel Valencia Sáiz, professor de ciência política da Universidad de Málaga, avaliou a decisão do monarca como "ponderada e equilibrada", ao propor a investidura do candidato que venceu as eleições. "O rei segue um costume habitual nesse tipo de consultas", disse ao Correio. Segundo ele, Núñez Feijóo conta com os apoios do Vox (extrema direita), da União do Povo Navarro (UPN, centro-direita) e da Coalizão Canária (regionista), somando 172 assentos no parlamento. "A investidura será uma grande chance para Núñez Feijóo demonstrar o tipo de líder que é; sobretudo, seu programa de governo e seu projeto para a Espanha, caso consiga governar nos próximos quatro anos."
No entanto, Sáiz reconhece que a posse de Núñez Feijóo está fadada ao fracasso. "Por mais brilhante que seja, ele não conseguirá os votos suficientes para governar. O único aliado possível, o Partido Nacional Vasco (PNV), expressou sua recusa em firmar um pacto com o Partido Popular, precisamente por conta de sua proximidade com o Vox", declarou. O especialista de Málaga acrescentou que, apesar de Núñez Feijóo ter a preferência do rei, Sánchez possui a vantagem de contar com uma dinâmica de pactos que, de alguma forma, prolonga o governo de coalizão com a esquerda e com os partidos nacionalistas. "O atual premiê poderia alcançar os 176 assentos, com a soma dos partidos PSOE, Sumar, EH-Bildu (basco e de esquerda), a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), o Juntos pela Catalunha (Junts) e o PNV", disse Sáiz.
As exigências do Junts e o peso do nacionalismo e da questão territorial podem levar ao fracasso das negociações para a formação do governo e a novas eleições. Mais recentemente, outro partido, o Bloco Nacionalista Galego (BNG), oficializou apoio a Sánchez.