A pouco mais de dois meses das eleições presidenciais na Argentina, os candidatos começam a se mobilizar para conter os danos provocados pela vitória surpreendente de Javier Milei nas primárias do último domingo (13/8). A meta é impedir que o representante da ultradireita chegue como favorito, em 22 de outubro. Para especialistas, a tarefa não será fácil. Na tentativa de demonstrar unidade dentro da coalizão opositora Juntos por el Cambio, a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich se encontrou com o governador de Buenos Aires, Horacio Larreta, derrotado por ela nas prévias. "Os argentinos decidiram o rumo e a força que devemos ter no Juntos por el Cambio. Agora vamos trabalhar juntos pela mudança profunda que precisamos nesta Argentina", escreveu.
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Entre os peronistas, além do desgaste provocado pelo rendimento aquém do esperado nas primárias, o ministro da Economia, Sergio Massa, precisa contornar fraturas internas. Deputado nacional da coalizão governista Unión por la Patria, Eduardo Valdés exigiu a renúncia de Massa, sob a justificativa de incompatibilidade entre o gerenciamento da crise econômica e a candidatura presidencial.
Professor de ciência política da Universidad de Buenos Aires (UBA), Miguel De Luca classifica como "lógica" a aliança entre Larreta e Bullrich, dois rivais internos no Juntos por el Cambio. "Somente aliados poderão reter votos e somar novos. Eles poderão ter êxito em tentar derrotar Milei, mas será difícil", afirmou ao Correio. Ele vê dois problemas em impedir o avanço do ultradireitista rumo a uma eventual vitória nas eleições presidenciais. "Se os políticos tradicionais se unirem, isso reforçaria a ideia de que são uma 'casta', de que são apenas o mesmo, assim como diz o próprio Milei. Tanto Bullrich quanto Massa são competitivos. Dificilmente um deles desejará renunciar à disputa, pelo menos por enquanto", observou.
Segundo De Luca, o dilema para os demais candidatos — Bullrich, Massa, Juan Schiaretti (governador de Córdoba) e a deputada Myriam Bregman — está no fato de que criticar Milei significa ampliar o seu espaço e reconhecer a possibilidade de vitória da extrema direita. "Isso seria fazer uma campanha a favor de Milei", avalia o cientista político. Ele entende que o ultradireitista tem dois adversários: a coalizão Juntos por el Cámbio, que governará em oito ou dez províncias e terá as maiores bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado; o outro é Axel Kiciloff, governador kirchnerista da província de Buenos Aires. "Milei poderia se aliar ao Juntos por el Cambio para derrotar Kiciloff e sepultar o kirchnerismo. Seria algo lógico, mas perderia credibilidade."
Damian Deglauve, analista da DED Consultoria Politica, em Buenos Aires, acredita que Bullrich possa lançar mão de sua experiência política para produzir o "novo", para forçar uma mudança original no estrato político da Argentina, como uma alternativa a Milei. "Ao contrário de Milei, Bullrich tem experiência e estrutura partidária para plasmar essas mudanças, na eventual condição de chefe de Estado. Por faltar essa estrutura a Milei, seu possível governo corre o risco de culminar em um grave conflito social", admitiu ao Correio.
Na opinião de Deglauve, o único candidato capaz de impedir Milei de chegar à Casa Rosada é Sergio Massa. O problema está no fato de que o ministro da Economia teve um desempenho muito abaixo do esperado nas primárias. "Massa pode se beneficiar do peso da estrutura política do peronismo e tentar convencer os eleitores que se abstiveram para buscar se garantir no segundo turno. A partir daí, apostar em uma campanha negativa, de medo e de alto impacto. Mostrar que a sociedade deve preferir o continuísmo a um conflito social grave. No entanto, a crise econômica se agravou, e o oficialismo parece sem reação", acrescentou.
Deglauve compreende que a saída do oficialismo, do kirchnerismo e do peronismo para golpear Milei e desgastar sua candidatura seja transmitir a mensagem sobre o perigo de caos social. "Os candidatos também têm que atacar as propostas vazias e utilizar o medo como agente mobilizador. Por sua vez, Patricia Bullrich precisa se colocar como uma candidata capaz de implementar reformas por ter peso e aparato político. Como a única para acabar com o populismo."
Artistas
Para conquistar os eleitores mais jovens, considerados fundamentais para a vitória de Milei nas primárias, um grupo composto por músicos populares na Argentina — como a popstar Lali Espósito, os rappers Trueno e Ca7riel — chamou seus fãs à reflexão sobre o avanço do ultraliberal. "Seus direitos são a única coisa que você tem, não os dê de presente", disse Trueno a seguidores, por meio da rede social X, o antigo Twitter. "É perigoso que tenha gente que vote em um antidireitos", "que perigoso, que triste", manifestou-se Espósito no domingo.