Estados Unidos

Havaí: incêndios arrasam cidade do arquipélago e matam mais de 67

Centenas de pessoas estão desaparecidas na cidade de Lahaina, na ilha de Mauí. Governador Josh Green visita região e admite "maior desastre natural da história do estado"

Moradora de Lahaina, em Mauí, uma das ilhas do arquipélago do Havaí, Claire Kent precisou abandonar a região às pressas, enquanto o fogo consumia tudo pela frente. Na quinta-feira, ela falou ao Correio. "Uma cidade histórica inteira foi queimada até o chão em questão de horas. É algo aterrorizante", afirmou. "Nós tivemos de fugir por três vezes. O fogo estava bem atrás de nossa casa. Com o vento, sabíamos que tínhamos que sair de lá." Claire perdeu tudo. "Não resta nada, tudo foi embora, é um povoado fantasma", lamentou à agência AFP Sarai Cruz, 28 anos, que fugiu com os pais, a irmã e seus três filhos. "Minha família perdeu tudo. Parecia que as casas estavam em ruínas, como se uma guerra tivesse começado", desabafou ao Correio Ella Sable Tacderan. O primo dela, Bryan Aguiran, e 22 outros familiares se refugiaram na casa de Ella, em Wailuku Mauí. 

Emerson Timmins, instrutor de tênis, vive a 32km de Lahaina. Preocupado com amigos e familiares, ele pegou uma bicicleta e pedalou pela cidade. "O que mais me impressionou foi que, provavelmente, uma única casa ficou intocada pelo fogo. Toda a cidade ao redor foi queimada. Apenas a 'pegada' das casas e edifícios permanece. Aquela residência ainda tinha flores, grama verde e estava em perfeitas condições", relatou ao Correio.

Nesta sexta-feira (11/8), os bombeiros lutavam para conter os incêndios florestais que arrasaram a cidade de Lahaina e mataram pelo menos 67 pessoas. Nas estradas da região, havia fileiras de carros incinerados. No desespero de se salvar, pelo menos 100 moradores pularam no oceano para evitar as chamas. Aja Kirskey, comandante da Guarda Costeira, revelou à emissora CNN que cerca de 50 foram resgatadas. "Temos cadáveres na água, flutuando, e no quebra-mar", disse Kekoa Lansford, outra moradora, à tevê CBS. 

As autoridades afirmam que centenas de moradores estão desaparecidos. Ao visitar Lahaina, cidade de 12 mil habitantes e capital do reino do Havaí no século 19, o governador do arquipélago, Josh Green, admitiu que este é "provavelmente o maior desastre natural da história do estado do Havaí". Ele disse esperar um aumento "significativo" no número de mortes, ao relatar que 80% das casas e construções  de Lahaina foram completamente devastadas. "Todas as vítimas foram atingidas pelo fogo no momento em que fugiam de suas residências", comentou Green, segundo o qual deve demorar pelo menos uma semana para se chegar a um balanço final sobre as vítimas. O governador também estima em "bilhões de dólares" a verba para reconstruir a cidade. 

Os moradores que fugiram de Lahaina tiveram oportunidade de retornar, após o meio-dia desta  sexta (11), para averiguar os prejuízos. "É uma destruição como vocês nunca viram antes. Todos, por favor, preparem-se, enquanto retornam", recomendou Green. Na quinta-feira (10/8), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, decretou "estado de catástrofe natural" para o Havaí. A medida ajuda a superar a burocracia e a liberar verbas para resposta às necessidades humanitárias. Ontem, o líder democrata conversou com o governador Green, de quem recebeu uma "avaliação em primeira mão" da situação na ilha de Mauí e a ajuda mais urgente para desabrigados e feridos. 

Em Lahaina, cães farejadores cedidos pelos estados da Califórnia e de Washington ajudam na detecção de possíveis corpos. A Agência de Gerenciamento de Emergências do Havaí anunciou que as sirenes de alerta contra incêndios não foram ativadas quando o fogo começou a se alastrar por Lahaina, na terça-feira (8/8). "Ninguém no estado e ninguém no município tentou ativar essas sirenes, com base em nossos registros", declarou Adam Weintraub, porta-voz do órgão. De acordo com a CNN, Green ordenou uma "completa revisão das ações do Estado nas horas que sucederam o início do incêndio", a fim de apurar responsabilidades. 

A combinação de meses de seca, baixa umidade e ventos intensos, associados à passagem do furacão Dora, teriam precipitado um dos incêndios florestais mais letais da história. Os sobreviventes buscam ajudar uns aos outros. Nas redes sociais, moradores se prontificavam a abrigar dezenas de pessoas e arrecadavam mantimentos, água e alimentos. 

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