África

Níger: militares recusam tentativas de diálogo com países vizinhos

Generais à frente do golpe de Estado se negam a receber delegação do bloco regional Cedeao para discutir saídas diplomáticas para o país. EUA alertam que mercenários russos tiram proveito da crise

Líderes da junta militar que se instalou no Níger após o recente golpe de Estado mostraram desinteresse pelas propostas de diálogo apresentadas por países vizinhos e pelos Estados Unidos. Os generais no poder se negaram a receber uma missão da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao). "O contexto atual de indignação e irritação após as sanções impostas pela Cedeao não nos permite receber essa delegação em condições de serenidade e segurança", informou o Ministério das Relações Exteriores do Níger.

A organização regional tentou enviar a comissão à capital do Níger, Niamei, antes da reunião para abordar a crise, que será realizada nesta quinta-feira (10/8), em Abuja, na Nigéria. A Cedeao prefere resolver a situação pela via diplomática, embora não descarte nenhuma opção, afirmou o porta-voz do presidente nigeriano, Bola Tinubu, atualmente no comando rotativo do bloco de países da África Ocidental. "A diplomacia é o melhor caminho e, assim como seus colegas, preferiria alcançar uma solução por meios diplomáticos, pacíficos, antes de qualquer outro", declarou o porta-voz de Tinubu. O risco de conflito, porém, é crescente.

Depois que os militares derrubaram o presidente eleito democraticamente, Mohamed Bazoum, em 26 de julho, o Cedeao impôs impôs sanções financeiras contra o país. Também deu um ultimato aos golpistas para que devolvessem o poder a Bazoum, sob ameaça de intervenção no Níger. O prazo expirou no domingo, mas a organização não cumpriu suas ameaças, privilegiando o diálogo.

O adiamento da visita do bloco regional se soma a outra mensagem enviada pelos militares. A nomeação de um primeiro-ministro civil, Ali Mahaman Lamine Zeine, foi interpretada como um primeiro passo para a designação de um governo de transição.

O Níger é considerado um país fundamental para as potências ocidentais no combate aos jihadistas na região do Sahel. A França tem 1,5 mil soldados no país, e os Estados Unidos, aproximadamente mil.  Washington enviou a subsecretária de Estado, Victoria Nuland, a Niamey. A emissária norte-americana se reuniu na segunda-feira (7/8) com autoridades, mas o general Abdourahamane Tiani, que lidera os militares que tomaram o poder, não participou do encontro. "As negociações foram extremamente francas e, em certos momentos, muito difíceis", disse Victoria.

A diplomata explicou que havia proposto "inúmeras opções" e os "bons ofícios" dos Estados Unidos para acabar com o golpe. "Não diria, de forma alguma, que essa oferta foi aceita", reconheceu. Diante da situação, o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, declarou que os Estados Unidos têm esperança de reverter o golpe de Estado no Níger, mas que são "realistas".

Grupo Wagner

Em entrevista à rede BBC divulgada nesta terça-feira (8/8), o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, alertou que mercenários russos do grupo Wagner tentam tirar vantagem da instabilidade no Níger. "Acho que o que aconteceu, e o que continua acontecendo no Níger, não foi instigado pela Rússia ou por Wagner, mas (...) eles tentaram se aproveitar", afirmou, acrescentando: "Aonde quer que o grupo Wagner tenha ido, a morte, a destruição e a exploração o acompanharam".

O Wagner está presente no Mali e na República Centro-Africana, dois países que enviaram emissários ao Níger em solidariedade aos líderes do golpe. O novo regime mantém, por sua vez, excelentes relações com Mali e Burkina Faso, dois países que também são governados por militares após golpes de Estado nos últimos anos.

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Risco de epidemia no Sudão

O conflito entre o Exército e os paramilitares no Sudão, deflagrado em abril, deixou milhares de cadáveres em decomposição nas ruas, uma ameaça que pode causar epidemias, alertou ontem a ONG Save the Children. "Os necrotérios são sobrecarregados por cortes de energia", destacou a organização em um comunicado. Em quatro meses, a guerra deixou mais de 3,9 mil mortos, segundo as estimativas, além de quatro milhões de deslocados e refugiados. "A impossibilidade de dar um funeral digno aos que morrem aumenta o sofrimento das famílias em Cartum", afirmou o diretor
da divisão de saúde de Save the Children, Bashit Kamal Eldin Hamid.