O Reino Unido começou a abrigar solicitantes de refúgio em uma barca gigante em Dorset, no sul da Inglaterra.
A expectativa é que até 500 homens sejam alojados na Bibby Stockholm enquanto aguardam o resultado de seus pedidos.
Segundo o governo britânico, o objetivo principal é reduzir os custos associados à acomodação de refugiados.
Alguns grupos de direitos humanos descreveram o esquema de abrigo como "desumano", mas ministros insistem que a barca é segura e economizará dinheiro público.
As primeiras 15 pessoas embarcaram nesta segunda-feira (7/8), mas 20 se recusaram.
Quem não aceitar ser abrigado na barca não terá direito à acomodação alternativa, informaram fontes do governo britânico à BBC.
Onde está localizada a Bibby Stockholm?
A barca está no porto de Portland, em uma península no sul da cidade de Dorset, no sul da Inglaterra, um destino de cruzeiros e navios cargueiros.
Ela está atracada no mesmo local que um navio-prisão, usado para aliviar a superlotação carcerária por nove anos, até 2006.
Como os moradores se sentem?
Houve significativa oposição à iniciativa do governo britânico, devido a preocupações com o bem-estar dos solicitantes de refúgio, bem como o potencial impacto nos serviços locais.
Mas alguns moradores estão determinados a acolhê-los e criaram um grupo de apoio local.
Os primeiros a embarcar receberam kits financiados por meio de doações de moradores locais e montados por voluntários do grupo.
Os kits incluem produtos de higiene pessoal, além de um mapa da região, cadernos, canetas e o número de telefone do grupo de voluntários.
Como a barca é por dentro?
Jornalistas foram autorizados a fazer uma visita guiada pela Bibby Stockholm, antes que os primeiros ocupantes chegassem.
Por dentro, a barca mais parece "um motel antigo", segundo o repórter da BBC Dan Johnson.
Corredores longos e confusos levam a cabines relativamente espaçosas, que incluem mesa, guarda-roupa, cofre, TV e janelas grandes.
Cada quarto tem um banheiro privativo com chuveiro e existem comodidades adicionais em cada um dos três andares.
Originalmente a barca tinha 222 cabines, que vão acomodar agora 506 ocupantes.
Isso só se tornou possível porque foram colocadas beliches em cada quarto.
Há uma sala de TV com telão e sofás, uma sala de oração ecumênica e uma sala de estudo que pode ser utilizada para reuniões e atividades.
Alguns outros espaços comuns foram convertidos em dormitórios extras para quatro a seis homens — mas jornalistas não tiveram permissão para vê-los.
O refeitório é grande, com um longo balcão para comida e mesas de seis cadeiras dispostas em fileiras.
No dia da visita da imprensa, o cardápio incluía ovos e panquecas no café da manhã, sopa de batata e ensopado de carne no jantar.
Segundo as autoridades, ele mudará regularmente e atenderá às necessidades individuais e aos requisitos religiosos.
Os ocupantes poderão deixar a barca?
Há um ginásio e um espaço de lazer ao ar livre nos dois pátios no centro da barca.
Os ocupantes também terão acesso ao cais, numa área cercada — segundo as autoridades, isso é para garantir a segurança do porto, que também recebe cruzeiros, navios cargueiros e embarcações da Marinha.
Também haverá segurança 24 horas por dia, 7 dias por semana a bordo.
Os solicitantes de refúgio receberão cartões de identificação e terão que passar por controles de segurança semelhante aos de aeroportos para entrar e sair da embarcação.
Por motivos de segurança, eles serão aconselhados a pegar um ônibus que os levará até a saída do porto e, em seguida, usar outros ônibus de hora em hora, entre 9h e 23h, para ir a Portland ou Weymouth.
Não há toque de recolher, mas se eles não voltarem, haverá um "telefonema de bem-estar" para verificar se estão bem.
Estão previstas excursões, assim como atividades esportivas, caminhadas guiadas e visitas a fazendas, além da oportunidade de ajudar a comunidade local.
Os homens receberão atendimento médico na barca ou remotamente, por parte de uma equipe de profissionais de saúde, em meio a preocupações da comunidade local sobre o impacto que mais pessoas teriam na infraestrutura hospitalar da região.
Segundo Dan Johnson, da BBC, o governo "claramente quer mostrar que essa acomodação não é cruel ou desumana", apesar de o Ministério do Interior sempre tê-la descrito como "básica e funcional".
"Certamente não tem o esplendor de um transatlântico — não há uma grande escadaria, belas obras de arte ou esculturas. As escadas parecem bastante industriais", diz Johnson.
"Mas parece razoavelmente confortável", acrescenta.
Alguns dos jornalistas que participaram da vista afirmaram que o padrão é melhor do que alguns dos hotéis que atualmente abrigam solicitantes de refúgio.
No entanto, a visita dos profissionais de mídia durou apenas uma hora.
Segundo o governo britânico, alguns homens podem ficar a bordo por até nove meses. E quando a barca estiver lotada, as condições de vida dos ocupantes podem mudar.
Quanto que vai custar?
O governo diz gastar atualmente 6 milhões de libras (R$ 37,5 milhões) por dia abrigando mais de 50 mil migrantes em hotéis.
O Ministério do Interior diz que, até o outono, pretende alojar cerca de 3 mil solicitantes de refúgio em lugares que não sejam hotéis — como a barca e as antigas instalações militares de Wethersfield e Scampton, nos condados de Essex e Lincolnshire, respectivamente.
O ministro da Imigração, Robert Jenrick, disse que o governo foi "claro que aqueles que chegam ao Reino Unido ilegalmente não devem ser alojados em hotéis caros".
"Nosso uso de locais de acomodação alternativos e embarcações fornece padrões básicos e apropriados para chegadas de migrantes em pequenos barcos enquanto suas solicitações (de refúgio) são analisadas", disse ele.