JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

Brasileiros são vítimas de racismo e radicais invadem missa LGBTQIA+

Um grupo de quilombolas, negros da periferia e trans foi agredido no 1º dia do evento. Uma cerimônia religiosa foi interrompida. Polícia e governo pedem tolerância

Lisboa — Um grupo de jovens brasileiros — quilombolas, trans e negros da periferia — foi vítima de racismo durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que ocorre em Portugal e tem o Papa Francisco como a grande estrela. Na terça-feira (1/8), na missa de abertura do megaevento, eles foram atacados. Jovens brancos começaram a imitar macacos para agredi-los, como mostra vídeo que circula pelas redes sociais.

Segundo a empresária Tamara Braga, 29 anos, que faz parte do grupo, tudo começou porque, no meio do aperto da multidão que se aglomerava no Parque Eduardo VII, os peregrinos brancos começaram a gritar “pickpocket” para um dos brasileiros, Victor Marques, insinuando que ele era batedor de carteiras. A agressão foi tamanha, que Victor ficou sem reação. Para não aumentar a confusão, os brasileiros decidiram se retirar do local. Eles disseram que vão registrar um boletim de ocorrência.

Segundo o diretor do Departamento de Operações da Polícia de Segurança Pública (PSP), Pedro Moura, até o meio da tarde desta sexta-feira (04/08), nenhum caso de intolerância racial, religiosa ou de gênero havia sido registrado. Ele ressaltou que esses crimes não são aceitáveis e serão combatidos de acordo com a lei. “A mensagem que temos passado é de tolerância, de positividade. A Jornada é uma festa, um momento de confraternização, de acolhimento. Repudiamos firmemente qualquer ato dessa natureza”, disse ao Correio.

Direitos humanos

A polícia, no entanto, teve de intervir, na noite de quinta-feira (03/08) em uma igreja em Lisboa, mais precisamente no bairro Ameixoeira, onde católicos radicais interromperam uma missa realizada pela comunidade LGBTQIA+. Mulheres vestidas de preto, carregando crucifixos e rezando em latim invadiram o templo de Nossa Senhora da Encarnação, repudiando a presença daquele público na cerimônia religiosa. Os organizadores da missa já vinham sofrendo ameaças pela internet e tiveram de mudar de igreja para se protegerem.

Diante desse fato, a secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Isabel Almeida Rodrigues, divulgou uma nota apelando para o respeito aos direitos humanos das pessoas LGBTQIA+ e ao princípio da igualdade, tal como previsto no artigo 13º da Constituição da República Portuguesa. Para ela, além da conscientização social, é imprescindível garantir que todas as pessoas possam viver em segurança e liberdade.

“Tendo em conta que, infelizmente, não se tratou de um episódio único nesta Jornada Mundial da Juventude, que convoca todas as pessoas para um desígnio comum no combate ao discurso de ódio e à violência contra todas as pessoas, torna-se importante recordar que as pessoas LGBTQIA+ são dos grupos de pessoas mais estigmatizadas e alvo de episódios de violência, com base na orientação sexual, identidade e expressão de gênero e características sexuais (OIEC), tal como dá conta, designadamente, a mídia”, disse.

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