JORNADA MUNDIA DA JUVENTUDE

Papa cobra coragem para fim da guerra na Ucrânia e alerta para perigos do populismo

Francisco chega a Portugal, onde ficará até domingo (6/8), para uma série de encontros com jovens de todo mundo. O pontífice alerta para os desequilíbrios econômicos que afetam, sobretudo, a população mais nova

Lisboa — O tom suave da voz em nada diminuiu a contundência do primeiro discurso do papa Francisco em Portugal, onde desembarcou nesta quarta-feira (2/8) para participar da Jornada Mundial da Juventude. Além de cobrar um movimento pela paz na Europa, com o fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o pontífice criticou o populismo que avança pelo mundo, o aborto, a eutanásia, as crises migratórias, a falta de disposição das famílias em ter filhos, o desemprego e o descompromisso da sociedade com o meio ambiente, em especial, com os oceanos.

Para Francisco, Portugal deve liderar um movimento que leve ao cessar-fogo na Ucrânia. Ele citou o acordo assinado em Lisboa em 2007, que reformou a União Europeia e ressalta que “a união entre os países tem por objetivo promover a paz, os seus valores e o bem-estar de seus povos”. Na avaliação do chefe da Igreja católica, o mundo precisa da Europa, “mas da Europa verdadeira, construtora de pontes de pacificação no Leste Europeu, no Mediterrâneo, na África e no Oriente Médio”. O momento, acrescentou, é da busca por uma diplomacia da paz, que extinga os conflitos e acalme as tensões.

Usando o oceano como elemento de ligação de suas palavras, o papa disse que o mundo está navegando por um momento tempestuoso, no qual “sente-se a falta de rotas corajosas da paz”. E questionou: “Europa, para onde navegas, se não ofereces percursos para a paz, vias inovadoras para acabar com a guerra na Ucrânia e com tantos conflitos que ensanguentam o mundo?”. Em vez de buscar a paz, ressaltou Francisco, a Europa e o Ocidente estão mais preocupadas com a produção e a venda de armas, do que com a construção de um futuro com mais educação, um sistema de saúde mais justo e uma sociedade menos desigual.

Acesso à morte

Ao lado do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, católico fervoroso, Francisco voltou a criticar a decisão do Parlamento português de aprovar a eutanásia no país. Ele já havia feito isso três meses atrás. “No mundo evoluído de hoje, paradoxalmente, tornou-se prioritário defender a vida humana, posta em risco por derivas utilitaristas que a usam e a descartam. No entender do pontífice, Portugal e outros países decidiram por descartar seus idosos, oferecendo a eles “remédios rápidos e errados, como o fácil acesso à morte, solução cômoda que parece doce, mas, na realidade, é mais amarga que as águas do mar”.

Sobre o aborto, o papa disse ficar pensando nas crianças não-nascidas. Ressaltou, ainda, a preocupação diante da opção de muitos casais de não quererem ter filhos. “O futuro são os jovens, mas muitos fatores os desanimam, como a falta de trabalho, os ritmos frenéticos em que se veem imersos, o aumento do custo de vida, a dificuldade em encontrar uma casa”, listou. “Há o medo de se constituir famílias e de trazer filhos ao mundo”, emendou, lembrando que a Europa e o Ocidente assistem à triste fase descendente da curva demográfica. “O progresso parece ser uma questão que diz respeito ao desenvolvimento técnico e ao conforto dos indivíduos, enquanto o futuro pede para se contrariar a queda da natalidade e o declínio da vontade de viver.”

Vicente Nunes/ CB -
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Vicente Nunes/ CB/ D.APress -

Para Francisco, os governos em geral precisam agir urgentemente para dar melhor condições de vida à população, e não lhe roubar a esperança em relação ao futuro. “A boa política pode fazer muito nesse sentido, pode gerar esperança”, frisou. Isso passa por corrigir os grandes desequilíbrios econômicos num mercado que produz riquezas, mas não as distribui, “empobrecendo de recursos e de certezas os ânimos”. Não por acaso, afirmou o Papa, em muitos lugares “se respira hoje um clima de protesto e insatisfação, terreno fértil para populismos e conspirações”.

Segundo o pontífice, a Europa deve acolher da melhor maneira possível os imigrantes que chegam fugindo de guerras, de perseguições religiosas, dos impactos das mudanças climáticas. “Deve-se derrubar muros e cercas e priorizar o acolhimento, a fraternidade”, recomendou. Ele alertou, também, para o que considera um problema extremamente grave: o aquecimento dos oceanos. “Estamos transformando as grandes reservas de vida em lixeiras de plásticos. O Oceano nos lembra que a existência humana é chamada a viver de harmonia com um ambiente maior do que nós”, disse. E indagou: “Como podemos dizer que acreditamos nos jovens, se não lhes dermos um espaço sadio para construir o seu futuro?”

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