Ele atualmente está supervisionando duas investigações criminais separadas envolvendo um ex-presidente americano. Mas, para Jack Smith, não é nenhuma novidade lidar com casos de alto risco.
Nas últimas duas décadas, Smith, de 54 anos, investigou funcionários públicos nos Estados Unidos e no exterior – com um histórico misto de sucessos e fracassos.
O promotor veterano tem se mantido discreto desde sua nomeação como procurador especial nas duas investigações de Donald Trump pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Ao anunciar sua escolha em novembro passado, o procurador-geral Merrick Garland o chamou de "a escolha certa para concluir esses assuntos de maneira imparcial e urgente".
Enquanto isso, Trump caracterizou Smith como um homem "enlouquecido" na vanguarda de uma "caça às bruxas política" contra ele.
O procurador especial já indiciou o ex-presidente em 40 acusações criminais por seu suposto manuseio incorreto de documentos confidenciais. Ele também deve acusar Trump separadamente por seus esforços para questionar os resultados da eleição de 2020.
Como o ex-presidente que ele está investigando, John Luman Smith é nascido em Nova York.
Formado pela Harvard Law School, ele começou sua carreira de procurador em 1994 como promotor público assistente no escritório do promotor distrital de Manhattan.
Na década seguinte, subiu na hierarquia do escritório do procurador dos EUA no Brooklyn, onde perseguiu gangues violentas, fraudadores de colarinho branco e casos de corrupção pública.
Certa vez, ele passou um fim de semana dormindo no corredor de um prédio de apartamentos para convencer uma mulher a testemunhar em um caso de violência doméstica, informou a Associated Press (AP).
Durante esse tempo, Smith também estava entre aqueles que investigaram a infame tortura do imigrante haitiano Abner Louima com um cabo de vassoura pela polícia de Nova York.
Seu trabalho na equipe levou em parte à sua recomendação como procurador especial nos casos de Trump, de acordo com o New York Times.
Em 2008, Smith foi para Haia, na Holanda, onde supervisionou investigações de crimes de guerra como investigador júnior do Tribunal Penal Internacional.
Voltou ao Departamento de Justiça dois anos depois como chefe da unidade de integridade pública do Departamento de Justiça, que processa crimes federais como suborno público e fraude eleitoral.
Em uma entrevista à AP em 2010, ele descreveu a transição de carreira como "trocar o emprego dos sonhos por outro ainda melhor".
Mas quando ele assumiu, a unidade estava se recuperando de um fracasso da promotoria, que teve uma condenação criminal exemplar rejeitada por um juiz.
A passagem de Smith começou com o encerramento sem acusações de algumas investigações de longa data sobre membros do Congresso, mas ele prosseguiu com outros esforços.
Sob seu mandato, os promotores abriram um processo de corrupção pública contra o ex-governador da Virgínia Bob McDonnell, um republicano, em um caso anulado por unanimidade pela Suprema Corte dos EUA em 2016.
A unidade também processou o ex-candidato democrata à vice-presidência John Edwards, mas um júri o absolveu de uma acusação e chegou a um impasse em outras, e ele nunca mais foi julgado.
Trump aproveitou esses exemplos para argumentar que Smith "destruiu muitas vidas", ao mesmo tempo em que o criticou por seu envolvimento em um escândalo fiscal envolvendo uma suposta perseguição da Receita Federal americana a grupos conservadores.
"O que ele fez é simplesmente horrível", disse o ex-presidente ao site Breitbart na quinta-feira (27/7). "O abuso de poder – é uma má conduta da procuradoria."
Smith também teve muitas vitórias notáveis, incluindo o envio do ex-presidente da Assembleia do Estado de Nova York, Sheldon Silver, para a prisão por acusações de corrupção.
Ele também condenou o ex-congressista do Arizona Rick Renzi, um republicano, por corrupção. Mais tarde, Renzi recebeu um perdão presidencial de Trump.
'Destemido'
Em 2015, Smith aceitou um cargo na promotoria federal em Nashville, Tennessee, para ficar mais perto da família.
Ele saiu em 2017 para uma empresa privada de assistência médica depois de ser preterido para um cargo permanente durante o governo Trump.
Em 2018, estava de volta a Haia, onde assumiu o cargo de promotor-chefe do tribunal para acusações de crimes de guerra no conflito de Kosovo na década de 1990.
Quando Garland ofereceu a Smith o cargo de procurador especial em Washington, sua equipe estava se preparando para o julgamento do ex-presidente de Kosovo, Hashim Thaci, informou o Times.
Embora ansioso para retornar ao Departamento de Justiça, Smith estava se recuperando de uma cirurgia na perna esquerda após um acidente de bicicleta e não voltou aos Estados Unidos até janeiro de 2021.
É pelo menos a segunda lesão grave que ele já sofreu andando de bicicleta.
Na década de 2000, ele fraturou a pélvis após ser atropelado por um caminhão, um incidente que ele afirmou em uma entrevista que o levou a múltiplas sessões de fisioterapia.
Tão ávido corredor quanto ciclista, Smith completou mais de 100 triatlos (modalidade esportiva que combina natação, ciclismo e corrida) desde 2002, representando até a equipe dos EUA no campeonato mundial World Triathlon.
Seu amigo e ex-colega, o advogado novaiorquino Moe Fodeman, descreveu Smith à CNN no ano passado como um triatleta "literalmente insano" e "um dos melhores advogados que já vi".
Outros ex-colegas de trabalho falam do jeito destemido e proativo de Smith, e muitos dizem que os esforços de Trump para difamá-lo não darão em nada.
"Se eu fosse o tipo de pessoa que poderia ser intimidada – [que pensa] 'Eu sei que devemos abrir este caso, sei que a pessoa fez isso, mas podemos perder, e isso vai ser ruim para nossa imagem' – eu iria para outro campo de trabalho", disse Smith em uma entrevista de 2010 ao Times.
"Não consigo imaginar como alguém que faz o que faço ou já trabalhou comigo pode pensar isso."