EXPLORAÇÃO ESPACIAL

O que acontece se alguém morre no espaço?

O professor Emmanuel Urquieta analisa o que deve ser feito com o corpo de um astronauta morto em missão espacial.

O mercado de turismo espacial está apenas começando -  (crédito: Getty Images)
O mercado de turismo espacial está apenas começando - (crédito: Getty Images)
BBC
Emmanuel Urquieta - The Conversation*
postado em 31/08/2023 17:36 / atualizado em 31/08/2023 18:43

Não há dúvidas de que enviar humanos para o espaço é um desafio extraordinariamente difícil e perigoso.

Desde que a exploração espacial humana começou, há pouco mais de 60 anos, 20 pessoas morreram: 14 nas tragédias do programa de ônibus espaciais da Nasa em 1986 e 2003, 3 durante a missão Soyuz 11 de 1971 e outras 3 na plataforma de lançamento da Apollo 1 em 1967.

Devido à complexidade dos voos espaciais, é impressionante como poucas pessoas perderam a vida até agora nessas empreitadas.

Mas a Nasa planeja enviar uma tripulação à Lua em 2025 e astronautas a Marte na próxima década. Além disso, os voos espaciais comerciais estão se tornando rotina.

Assim, à medida que as viagens espaciais se tornam mais comuns, também aumentam as chances de alguém morrer no caminho.

Tudo isso levanta uma dúvida mórbida, mas necessária: o que acontece com o corpo de alguém que morre no espaço?

Morte na Lua ou em Marte

Se alguém morrer em uma missão em órbita baixa da Terra, como a bordo da Estação Espacial Internacional, a tripulação poderia devolver o corpo à Terra em uma cápsula em questão de minutos ou horas.

Se isso acontecesse na Lua, a tripulação poderia voltar para casa com o corpo em apenas alguns dias. A Nasa já possui protocolos detalhados para tais eventos.

Devido a esse rápido retorno, a preservação do corpo provavelmente não é a principal preocupação da Nasa.

Em vez disso, a prioridade número um seria garantir que a tripulação restante voltasse à Terra em segurança.

Mas as coisas seriam diferentes se um astronauta morresse durante a viagem de 225 milhões de quilômetros até Marte.

Nesse cenário, a tripulação não seria capaz de voltar rapidamente para casa.

Em vez disso, o corpo provavelmente retornaria à Terra junto com a tripulação no final da missão, o que ocorreria alguns anos depois.

Enquanto isso, a tripulação provavelmente teria que assumir a responsabilidade de preservar o corpo em uma câmara separada ou em um saco especial para cadáveres.

Em teoria, a temperatura e a umidade constantes dentro da espaçonave ajudariam a preservar o corpo.

Mas todos esses cenários só se aplicariam se alguém morresse num ambiente pressurizado, como uma estação ou nave espacial.

O que aconteceria se alguém fosse ao espaço sem a proteção de um traje espacial?

O astronauta morreria quase instantaneamente.

A perda de pressão e a exposição ao vácuo do espaço impossibilitariam a respiração do astronauta. Sangue e outros fluidos corporais ferveriam.

O que aconteceria se um astronauta fosse à Lua ou a Marte sem traje espacial?

A Lua quase não tem atmosfera.

Marte, por sua vez, tem uma atmosfera muito rarefeita e quase nenhum oxigênio.

Portanto, o resultado seria quase o mesmo da exposição ao espaço aberto: asfixia e sangue fervendo.

E o enterro?

Suponha que o astronauta morreu após pousar, enquanto estava na superfície de Marte.

A cremação nesse caso não é a melhor opção, pois requereria muita energia que a tripulação restante necessita para outros fins.

Um enterro também não é uma boa ideia. Bactérias e outros organismos poderiam contaminar a superfície marciana.

Em vez disso, a tripulação provavelmente preservaria o corpo em um saco especializado até que ele pudesse ser devolvido à Terra.

Mas ainda há muitas incógnitas sobre como lidar com uma morte no espaço.

Não é apenas a questão do que fazer com o corpo. Ajudar a tripulação a lidar com as perdas e as famílias enlutadas na Terra é tão importante quanto lidar com os restos mortais da pessoa que morreu.

Mas para colonizar verdadeiramente outros mundos, seja a Lua, Marte ou um planeta fora do nosso sistema solar, este cenário sombrio exigirá planejamento e protocolos.

*Emmanuel Urquieta é professor de Medicina Espacial e Medicina de Emergência no Baylor College of Medicine, localizado no Texas Medical Center, em Houston.

*Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.

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