O presidente russo Vladimir Putin falou pela primeira vez nesta quinta-feira (24/8) sobre o acidente de avião que, segundo autoridades locais, matou o chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, e outras nove pessoas.
Embora Putin tenha prestado homenagem ao líder da organização de mercenários em um discurso televisionado, a transcrição da fala indica que o presidente russo foi muito cuidadoso na escolha de suas palavras e não chegou a confirmar diretamente a morte de Prigozhin.
Putin afirmou que a queda do avião deixou mortes, dizendo que "gostaria acima de tudo de expressar as mais sinceras condolências às famílias de todos aqueles que morreram".
Mas ele pareceu insinuar que não estava totalmente claro se os membros do grupo Wagner estavam entre os mortos, dizendo apenas que "as informações iniciais indicam" que eles estavam no avião.
E embora tenha saudado Prigozhin como um "empresário talentoso" com um "destino complicado", em nenhum momento Putin afirmou com todas as letras que o fundador do Wagner estava entre os mortos. No entanto, ele usou o pretérito ao falar sobre o homem de 62 anos.
Embora o avião que caiu estivesse ligado a Prigozhin - e as informações divulgadas pelas autoridades russas afirmem que ele e o seu braço-direito, Dmitry Utkin, estavam entre os sete associados de Wagner mortos - a BBC não conseguiu verificar estas alegações de forma independente.
"Se os funcionários da empresa Wagner estavam mesmo lá [no avião], e os dados preliminares indicam que sim, gostaria de dizer que essas pessoas contribuíram de forma significativa para a nossa causa comum de combate ao regime neonazista na Ucrânia", disse Putin em seu discurso.
"Eu conhecia Prigozhin há muito tempo, desde o início dos anos 90. Ele era um homem com um destino complicado e que cometeu erros graves na vida", afirmou sobre o líder do grupo.
"Ele era uma pessoa talentosa, um empresário talentoso, trabalhava não só no nosso país, mas também no exterior, na África em particular", disse ainda, afirmando que Prigozhin voltava da África quando o acidente ocorreu.
O presidente russo afirmou ainda que uma investigação preliminar sobre a queda do avião já foi iniciada e que ela será "levada até o fim".
Prigozhin estava 'jurado de morte'?
Desde que liderou um motim na Rússia, no final de junho, Yevgeny Prigozhin era descrito por observadores russos como "um homem jurado de morte".
Comentando recentemente sobre a expectativa de vida do líder do grupo Wagner, o diretor da CIA (agência de inteligência dos EUA), William Burns, chegou a dizer: "Se eu fosse Prigozhin, não demitiria meu provador de comida".
Prigozhin, um ex-presidiário, vendedor de cachorro-quente e chef de cozinha que virou um líder de mercenários tinha muitos admiradores entre as fileiras de seu grupo e além.
Muitos testemunharam sua calorosa recepção pelo público em Rostov-on-Don, quando ele apareceu lá há exatamente dois meses, no meio da sua rebelião de um dia, logo abortada.
Mas ele também tinha muitos inimigos em Moscou, sobretudo nos altos escalões do Exército russo — cujos líderes ele criticava frequente e publicamente.
O que se revelou provavelmente ter sido o seu erro fatal foi afrontar Putin quando liderou a revolta em 23 de junho.
Embora Prigozhin não tenha mencionado o nome de Putin naquele momento, o líder do grupo Wagner enfureceu o Kremlin ao criticar publicamente as justificativas oficiais para a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022.
Ele disse aos russos que eles tinham sido enganados e que os seus filhos estavam morrendo na guerra da Ucrânia devido à má liderança. Isto foi uma heresia diante do Kremlin.
Putin respondeu naquele dia de forma dura, classificando a marcha de Prigozhin para Moscou como uma traição e uma facada nas costas.
Segundo Will Vernon, repórter da BBC em Moscou, a notícia da queda fatal de um avião onde estava Prigozhin nesta quarta-feira (23/08) não causou surpresa na Rússia.
"Na verdade, a maior parte dos russos provavelmente ficou surpresa por isso não ter acontecido antes", escreveu Vernon.
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