Com as eleições presidenciais da Argentina marcadas para 22 de outubro, o ultradireitista libertário Javier Milei lidera quatro pesquisas divulgadas pelo jornal Clarín. Em três delas, o ministro da Economia peronista Sergio Massa aparece em segundo lugar, seguido pela ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich, que surge na vice-liderança em uma sondagem. O levantamento feito pela CB Consultora Opinión Pública, com sede em Buenos Aires, mostra Milei com 32,3% — Massa tem 28,1% e Bullrich, 25,3%.
Por sua vez, a pesquisa realizada pela DC Consultores indica que Milei teria 34% dos votos, caso a eleição fosse hoje, seguido por Bullrich (24,7%) e Massa (23,1%). De acordo com o Observatório de Psicologia Social Aplicada da Faculdade de Psicologia da Universidade de Buenos Aires, o candidato da extrema direita ficaria com 38,5%, enquanto Massa aparece com 32,3% e Bullrich com 23,7%.
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Outra pesquisa, elaborada por um instituto argentino renomado cujo nome não foi divulgado, aponta que o ultraconservador teria 38,6%. Em segundo lugar, surge o peronista, com 31,9%, seguido pela representante da centro-direita, com 19,6%. Durante as primárias de 13 de agosto, Milei conquistou 30,04% dos votos. Bullrich teve 28,27%, enquanto Massa ficou com 27,27%.
Analistas consultados pelo Correio recomendam cautela na interpretação dos prognósticos. Eles alertam que a campanha presidencial está no princípio e que as sondagens foram realizadas ainda no calor das primárias, ocorridas em 13 de agosto passado. "Passou muito pouco, desde as primárias, para obtermos resultados que analisem o impacto delas sobre o comportamento dos votantes durante as eleições de 22 de outubro", afirmou Miguel De Luca, professor de ciência política da Universidade de Buenos Aires (UBA). "Não seria estranho o crescimento de Milei. Por três motivos: seu discurso na noite das primárias; o agravamento da situação socioeconômica; e a ausência de reações contundentes por parte de Bullrich e de Massa", acrescentou.
Ainda segundo De Luca, dois tipos de fatores ajudam a explicar o fenômeno representado por Milei. "Entre os fatores externos, é preciso mencionarmos a crise econômica, os conflitos no peronismo (de Massa) e na coalizão de direita Juntos por el Cambio (de Bullrich). Também faltam candidatos com carisma ou com notável capacidade de oratória. Vejo, ainda, uma quase nula imaginação na criação das campanhas eleitorais", observou. Ele sustenta que Milei se mostra como um candidato que destoa do restante e que causa polêmica, atraindo atenção midiática. "Caso a crise se agrave, e o Juntos por el Cambio não consiga endireitar sua campanha, Milei poderá vencer no primeiro turno", advertiu.
Colega de Miguel De Luca na mesma universidade, Mara Pegoraro concorda que é bastante prematuro confiar em pesquisas. "As sondagens que antecederam as primárias estimavam que Milei não superaria os 20 pontos percentuais e, agora, projeta uma vitória em outubro", comentou. "Essas sondagens poderiam ser uma espécie de 'chicote' de um fenômeno que começou em 13 de agosto."
Transversalidade
Para entender o fenômeno Milei, a estudiosa defende analisar além das propostas do candidato. "É algo transversal à sociedade argentina, mas não estranho à sociedade latino-americana. Houve experiências no Brasil, nos EUA e no Equador. Os outsiders e antissistemas que se colocam como uma saída da crise social e econômica são emergentes da conjuntura", disse Pegoraro. Nesse sentido, ela entende que Milei interpreta corretamente o estado de exaustão dos eleitores em relação aos políticos tradicionais.
Para Damian Deglauve, analista da DED Consultoria Politica (em Buenos Aires), o ideal é esperar 15 dias para a realização de sondagens depois das primárias. "De toda a maneira, Milei conta com um grande apoio, ao propor soluções mágicas em um momento de agravamento da crise. Isso ocorreu no passado, com líderes messiânicos e carismáticos. O que Milei representa não são mais suas loucas propostas, mas o desprezo pelo sistema político tradicional, que não consegue acomodar-se na sociedade", avaliou.
Entre as propostas mais polêmicas de Milei, estão a extinção do Banco Central da Argentina, a venda livre de órgãos humanos, a redução da maioridade penal para 14 anos, a dolarização da economia, a proibição do aborto e o fim do que ele chama de "casta política". "Viva a liberdade, caralho!", costuma bradar em seus comícios. De acordo com o jornal Clarín, o plano de liberar o porte indiscriminado de armas teria ficado em segundo plano. "Não vim aqui para guiar cordeiros, vim para despertar leões", foi o seu lema de campanha para as primárias.
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