América Latina

Sob tensão, Equador define segundo turno

Em clima de incerteza, policiais reforçam segurança nas zonas eleitorais em meio a dificuldades para votar no exterior

 A candidata Luisa Gonzalez é aliada do ex-presidente Rafael Correa -  (crédito: Fotos: AFP)
A candidata Luisa Gonzalez é aliada do ex-presidente Rafael Correa - (crédito: Fotos: AFP)
Correio Braziliense
postado em 21/08/2023 03:55

Com reforço policial nas ruas, 82 % dos 13,4 milhões de eleitores do Equador foram às urnas ontem (20) para eleger o presidente da República, o vice-presidente e 137 integrantes da Assembleia Nacional, além de votar no referendo sobre a exploração de petróleo bruto numa área do Parque Nacional Yasuní, na Amazônia.

Até o fechamento desta edição, a boca de urna indicava Luisa Gaonzález e Daniel Noboa como os dois candidatos que vão disputar o segundo turno das eleições, em 15 de outubro. Em clima de tensão e apreensão, os equatorianos vivem um momento de instabilidade política, após o assassinato de um candidato presidencial e do fechamento do Congresso Nacional, além de uma crise econômica e insegurança social.

Porém, o transtorno maior atingiu os eleitores no exterior que tiveram dificuldades para votar. Justiça Eleitoral reconheceu falhas principalmente na Espanha e Itália.

Para Santiago Cahuasquí, cientista político da Universidade Internacional SEK, os equatorianos votaram movidos por três sentimentos: "medo da insegurança, pessimismo em relação à situação econômica e desconfiança da classe política".

Quem é quem

Luisa González, 45 anos, de oposição é ligada ao ex-presidente Rafael Correa, enquanto Daniel Noboa é filho do ex-presidente Álvaro Noboa, empresário mais rico do país.

O jornalista Christian Zurita, que substituiu Fernando Villavicencio - o candidato morto -, votou ontem usando um colete à prova de balas e um capacete. Ele avisou em mais de uma ocasião que recebeu ameaças de morte.

O milionário, ex-francoatirador e ex-paraquedista Jan Topic (direita), de 40 anos, também fez uma campanha intensa, além do líder indígena Yaku Pérez (esquerda), representante dos povos originários e sem experiência política, e o ex-vice-presidente Otto Sonnenholzner (direita).

Crise institucional

Internamente, há uma crise institucional com o fechamento do Congresso Nacional por ordem do presidente Guillermo Lasso, de direita, que decidiu antecipar as eleições para este domingo (20) para tentar escapar, assim, do julgamento político por corrupção.

A legislação equatoriana proíbe a divulgação de pesquisas de opinião, mas é praticamente impossível escapar da boca-de-urna. No Equador, há o segundo turno quando nenhum candidato atinge 40% dos votos e 10% a mais do que o segundo colocado.

O vitorioso das urnas para comandar o Equador cumprirá um mandato tampão porque ficará apenas até 2025. Pela frente, enfrentará o desafio de conquistar a confiança da sociedade, superar as dificuldades internas e afastar qualquer herança do atual presidente Lasso, que deixará o governo com pouco mais de 7% de popularidade.

Crime político

Em 9 de agosto, o então candidato à Presidência da República Fernando Villavicencio foi morto com três tiros à queima roupa. As investigações prosseguem em meio às influências dos carteis de drogas locais e estrangeiros sobretudo do México que invadiram o Equador.

O rosto do falecido Villavicencio, jornalista e antagonista da política local, ocupava o segundo lugar nas pesquisas até o crime, aparece nas cédulas junto com outros sete candidatos, pois já estavam impressas quando ele foi baleado por um assassino de aluguel colombiano.

Villavicencio foi substituído pelo jornalista Christian Zurita, melhor amigo dele que também foi ameaçado. Ambos eram parceiros em investigações que expuseram escândalos de corrupção. Uma delas levou à condenação do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017) a oito anos de prisão.

Prioridades

O futuro presidente do Equador terá de buscar alternativas para o caos que atinge o país. A começar pela instabilidade política desde que o Congresso Nacional foi destituído foi destituído, com base num mecanismo da Constituição denominado "morte cruzada", em que o presidente pode governar por decreto por seis meses até a convocação de um novo pleito.

A decisão veio um dia depois de Lasso apresentar a defesa dele no processo de impeachment sob a acusação de peculato.

O Equador sofre ainda com a inflação elevada e índice bastante alto de pobreza, desde que economia foi dolarizada. Pelo menos um quarto da população está na informalidade ou desempregada.

Nas ruas, a violência atingiu o recorde de 26 homicídios por 100 mil habitantes em 2022, quase o dobro do ano anterior. Os carteis de narcotráfico dominam o país. Embora o Equador não seja produtor de droga se transformou em local para escoar a droga negociada entre Colômbia e Peru.

Renata Giraldi Especial para o Correio

 


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