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Equador: por que votação histórica vai decidir futuro da exploração de petróleo na Amazônia

Eleitores do país sul-americano escolherão novo presidente e se pronunciarão em plebiscito ambiental histórico neste domingo.

BBC
Alejandro Millán Valencia e Fernando Duarte - Serviço Mundial da BBC
postado em 19/08/2023 19:09 / atualizado em 19/08/2023 19:09
Plebiscito sobre desenvolvimento econômico versus proteção ambiental nos pulmões do mundo -  (crédito: AFP)
Plebiscito sobre desenvolvimento econômico versus proteção ambiental nos pulmões do mundo - (crédito: AFP)

Os equatorianos vão às urnas neste domingo (20/8) para escolher um novo presidente, mas também para ganhar voz nas políticas ambientais de seu país, em meio a um pleito marcado por violência política.

Além de votar em um dos oito candidatos que concorrem à Presidência, os eleitores decidirão o futuro de uma polêmica operação de perfuração de petróleo na floresta amazônica.

É um plebiscito sobre o destino do "Bloco 43", um grupo de campos de exploração de petróleo localizados no Parque Nacional Yasuni, uma das áreas ambientais mais ricas do mundo.

O Yasuni cobre mais de 1 milhão de hectares e abriga pelo menos 2 mil espécies de árvores e arbustos, 204 espécies de mamíferos, 610 espécies de pássaros, 121 espécies de répteis, 150 espécies de anfíbios e 250 espécies de peixes.

É também o lar de várias populações indígenas — incluindo pelo menos duas das últimas tribos "isoladas" do mundo — aqueles que voluntariamente recusaram a interação com o mundo exterior.

A perfuração ocorre no 'Bloco 43' desde 2016. Isso ocorreu após a tentativa fracassada do presidente Rafael Correa de garantir um pacote de compensação global para manter o petróleo no solo.

Segundo estimativas do governo, o 'Bloco 43' fornece 12% dos 466 mil barris de petróleo produzidos por dia pelo Equador.

Um em cada quatro equatorianos vive na pobreza, segundo dados do Banco Mundial.

O governo do atual presidente Guillermo Lasso, que desencadeou uma eleição antecipada em maio em uma tentativa de evitar processos de impeachment, diz que o fechamento das operações custará ao país US$ 1,2 bilhão (R$ 6 bilhões) por ano em receitas perdidas.

Mas organizações ambientais e de direitos indígenas dizem ser um pequeno preço a pagar.

"Os cidadãos equatorianos terão a chance de ajudar a proteger nosso meio ambiente e as comunidades que vivem em Yasuni", diz à BBC Pedro Berneo, um dos líderes do Yasunidos, grupo ambiental que fez campanha por 10 anos pelo plebiscito.

"Esperamos que nosso exemplo inspire outros países a fazerem o mesmo."

Para a líder indígena Alicia Cahuiya, da tribo Waorani, um dos povos indígenas que vivem em Yasuni, a reserva natural desempenha um papel crucial no combate às mudanças climáticas, ajudando a capturar o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera.

"O Yasuni tem sido como uma mãe para o mundo... Precisamos levantar nossas vozes e mãos para que nossa mãe se recupere, para que não se machuque, não seja espancada", disse ela à agência de notícias AFP.

Os cientistas também alertaram que a destruição da Amazônia, que se estende por oito países sul-americanos, inclusive o Brasil, está comprometendo sua capacidade de atuar como um "sumidouro de carbono", absorvendo mais carbono do que liberando.

Uma série de sondagens de diferentes institutos de pesquisa de opinião pública realizadas em junho e julho mostraram que a maioria dos equatorianos votaria pelo fim da exploração de petróleo — mas elas também mostraram que muitos eleitores ainda estão indecisos.

Mas nem todos os candidatos à sucessão de Lasso têm defendido abertamente o "sim".

Luisa Gonzalez, a favorita na corrida presidencial, evitou tocar na polêmica durante a maior parte de sua campanha, mas quebrou o silêncio no início de agosto com uma declaração que deixou o campo anti-petróleo preocupado.

"Por que você não pede aos países que mais poluem que depositem US$ 1,2 bilhão em um fundo para nós?", tuitou ela, antes de sugerir que aqueles que propuseram o plebiscito deveriam oferecer alternativas para gerar renda para o país.

Advogada que já trabalhou na Petroecuador, a estatal de petróleo do país, González, de 45 anos, também atuou no governo do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) como ministra da administração pública.

Pesquisas de opinião indicam que ela não construiu uma vantagem grande o suficiente para evitar um segundo turno em outubro.

Seu rival mais próximo, o empresário Jan Topi?, prometeu "manter o petróleo no subsolo" em Yasuni.

Amazon Frontlines, um grupo de defesa que apoia as comunidades indígenas, diz que o plebiscito é um momento histórico para as pessoas que vivem em um país produtor de petróleo.

"O modelo de capitalismo de combustível fóssil expirou e o povo equatoriano tem uma chance única de traçar outro caminho e dar um grande passo na luta para enfrentar a mudança climática".

No entanto, outros dois blocos da Petroecuador na área não seriam afetados pela votação.

A polêmica também atraiu a atenção de celebridades como o ator de Hollywood Leonardo DiCaprio, bem como a ativista ambiental Greta Thunberg.

Mas Gabriela Patricia García García, da Universidade de Exeter, na Inglaterra, destaca que as preocupações com a segurança estarão em primeiro lugar nas mentes dos eleitores após o assassinato de um dos candidatos presidenciais.

"É importante lembrar que o petróleo ainda é a principal fonte de renda do país", assinala.

"O resultado da é juridicamente vinculativo, então as atividades de extração de petróleo terão que parar".

*Mas a prioridade atual na eleição é a segurança pública, então veremos como a questão Yasuni se desenrola."

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