Estados Unidos

Trump é indiciado por tentar reverter resultado da eleição de 2020

Procurador especial Jack Smith formaliza quatro acusações contra ex-presidente, três por conspiração e uma por obstrução da Justiça. Caso é considerado a ameaça legal mais grave contra o magnata republicano, que ensaia volta à Casa Branca

Rodrigo Craveiro
postado em 01/08/2023 19:39 / atualizado em 01/08/2023 23:11
Donald Trump deixa palco após discursar em festa do Partido Republicano, em 2023: mais problemas com a Justiça  -  (crédito: Sergio Flores/AFP)
Donald Trump deixa palco após discursar em festa do Partido Republicano, em 2023: mais problemas com a Justiça - (crédito: Sergio Flores/AFP)

Horas depois de publicar em sua rede Social Truth que estaria prester a ser indiciado, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump teve seus temores confirmados. O procurador especial Jack Smith acusou formalmente o republicano por seus esforços para tentar reverter os resultados da eleição presidencial de 2020. De acordo com analistas, o novo indiciamento representa a ameaça jurídica mais grave até agora ao magnata, que aspira o retorno à Casa Branca e apresenta favoritismo, como revelam as últimas pesquisas. 

Trump responderá por três acusações de conspiração e uma acusação de obstrução. A denúncia ocupa 45 páginas. "O objetivo da conspiração era reverter os resultados legítimos das eleições presidenciais de 2020, usando alegações sabidamente falsas de fraude eleitoral", diz a denúncia. A CNN divulgou que Trump será fichado na Corte Federal de Washington nesta quinta-feira (3/8), às 16h (17h em Brasília). "Neste caso, meu escritório buscará um julgamento rápido para que nossas evidências possam ser testadas no tribunal e julgadas por um júri de cidadãos", declarou Smith. As acusações têm ligação com o ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, no momento em que os congressistas certificavam a vitória do democrata Joe Biden nas eleições. 

Em sua mensagem na Truth Social, Trump não fugiu do costume e usou a ironia. "Soube que o enlouquecido Jack Smith, de forma a interferir nas eleições presidenciais de 2024, apresentará um novo Indiciamento Falso de seu presidente favorito, eu, às 17h (18h em Brasília)", escreveu.

Mitchell Epner, ex-procurador federal e advogado na firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York), afirmou ao Correio que Trump colocou-se em "enorme risco" de "passar o resto da vida na prisão". "Em um fato totalmente novo, soubemos que, nos dias que antecederam 6 de janeiro de 2021, quando o vice-presidente Mike Pence disse a Trump que não acreditava que ele pudesse reverter o resultado das urnas participando de um esquema de eleitores fraudulentos, Trump respondeu a Pence: 'Você é honesto demais'. Essa é a evidência mais forte possível de tentativa fraudulenta contra Trump. Também torna Pence uma das mais importantes testemunhas contra o magnata", declarou.

Epner disse esperar que Trump passe boa parte de 2024 lidando com reveses na Justiça. "É possível que ele ganhe as eleições do próximo ano. Mas é menos provável hoje do que era ontem", assegurou.

Gastos elevados

Wendy Schiller, professora de assuntos internacionais e públicos da Universidade Brown (em Rhode Island), admitiu ao Correio que o indiciamento de Trump mostra que um ex-presidente dos EUA não pode tentar desfazer ou ignorar os resultados de uma eleição que ele perdeu. "O impacto prático disso é que Trump terá que se defender em dois casos federais e um estadual. Ele tem usado uma parcela substancial de seus fundos de campanha para pagar advogados", lembrou. "Mais cedo ou mais tarde, as pequenas doações que ele levanta não serão suficientes para cobrir todos os gastos legais e financiar uma campanha nacional. Isso fornece abertura para Ron DeSantis, seu principal adversário", analisou.

De acordo com Schiller, as acusações contra Trump em todos os casos são o bastante para levá-lo à prisão. "Mas, tecnicamente, não o impediriam de prestar juramento como presidente dos Estados Unidos. Sua base central de simpatizantes ficará com ele por agora, mas o grupo-chave de eleitores independentes que o rejeitaram em 2020 provavelmente se manterão afastados em 2024."

 

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